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DEBATE NA ESQUERDA
Glauber Braga, pré-candidato a presidente do PSOL: trajetória e programa sem independência de classe
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

A política do MES/PSOL, representada na pré-candidatura de Glauber Braga, é apenas uma variante eleitoralista sem qualquer independência de classe, semelhante no essencial à da ala majoritária.

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O Deputado Federal do Rio de Janeiro Glauber Braga tem longa trajetória na política... burguesa. Antes de integrar o PSOL esteve durante cerca de 15 anos no Partido Socialista do Brasil, o PSB, partido burguês dominado pelo clã do falecido Eduardo Campos conhecido por dominar a política em Pernambuco através do clientelismo. Braga, que tem como reduto eleitoral a cidade de Nova Friburgo, chegou a ser presidente do PSB no Rio de Janeiro. Sua carreira política nos momentos em que foi candidato teve como principal financiador a mineradora Pedrinco, empresa condenada em ação do Ministério Público Federal por exploração mineral sem licença e degradação ambiental. Não resta dúvidas de que durante a maior parte de sua vida política Glauber defendeu abertamente um programa burguês.

Em 2016 depois que o coronel Eduardo Campos faleceu, figura que vinha sendo uma espécie de “padrinho político” de Glauber Braga, e depois da derrota de Marina Silva apoiada por Braga, o parlamentar perdeu a presidência do partido em uma disputa carreirista típica de partidos burgueses, perdendo seu espaço político e por isso saindo em busca de um novo partido, no caso o PSOL. O PSOL, naquele momento, estava à caça de um novo deputado para poder se tornar uma bancada na Câmara dos Deputados por conta da legislação eleitoral de então. Ou seja, a humanidade nunca chegou a conhecer qualquer ponto de conteúdo programático que tenha fundamentado essa “fusão”.

Nesses poucos anos em que esteve no PSOL se alinhou mais historicamente à ala de Ivan Valente, majoritária no partido, que se posicionou contra o impeachment de Dilma Rousseff porém sempre com a adaptação ao PT e às burocracias sindicais. Mais recentemente se aproximou do Movimento Esquerda Socialista (MES), muito conhecido no Brasil por suas posições de apoio à Lava Jato e Sérgio Moro antes de seu declínio, claro. E agora Braga lança junto ao MES e a centro-esquerdista Luiza Erundina (que já foi candidata ao governo de São Paulo tendo como vice o golpista Michel Temer que aplicou a reforma trabalhista) uma pré-candidatura à presidência pelo PSOL como suposto contraponto a linha lulista de várias correntes do PSOL e de Guilherme Boulos que já começam a embarcar na candidatura de Lula para 2022. Entretanto, na política estão todos juntos: defendendo o impeachment de Bolsonaro para que entre em seu lugar o general Mourão, adorador da ditadura militar no Brasil, sem nenhum questionamento às instituições do regime do golpe. Também estão unificados em sua adaptação às burocracias sindicais sempre prontos para encobrir as traições aos trabalhadores.

Braga é conhecido por discursos verborrágicos, mas isso não se sustenta a um manifesto: o conteúdo da sua plataforma para pré-candidatura fala de uma vaga “mobilização popular para conseguir a maioria social para construir mudanças verdadeiras” e para conseguir a “superação da exploração capitalista” sem falar como, quando, onde, mas principalmente apresentando um programa que não tem nada de anticapitalista, sendo puramente antineoliberal e, portanto, de manutenção dessa sociedade tal qual é. No manifesto de Glauber Braga (https://manifestoglauber.com.br/) não existe a palavra “golpe institucional”, como se vivêssemos num conto de fadas e não num aberrante regime autoritário com o STF, o Congresso, os governadores, de um lado, e Bolsonaro do outro. O Manifesto defende “mais direitos” (sic); o “combate ao rentismo e ao neoliberalismo” (quando fala de reforma agrária, diz “superar a concentração fundiária”, algo que não significa nada); a defesa de uma auditoria da dívida pública (o que parte do pressuposto de reconhecer sua porção “legítima”, e não a necessária abolição imediata dessa dívida fraudulenta, ilegal e ilegítima, o que sempre aproximou o programa do PSOL a uma plataforma burguesa normal); nem sequer defende, em meio a pandemia, a estatização sob controle dos trabalhadores da saúde de todo o sistema privado (em defesa de um SUS 100% estatal sob controle dos trabalhadores), mas sim uma “tributação exponencial” sobre as máfias privadas. A cereja do bolo é a “revisão constitucional do papel das Forças Armadas e polícias estaduais”, uma política de controle das forças repressivas do Estado burguês racista brasileiro.

Se isso é a política de “independência” do PSOL que dirá o resto. Não se sabe se essa é a proposta de uma “esquerda radical não sectária”, mas de nenhuma maneira pode superar pela esquerda o lulismo, como defendem seus aderentes. É uma cópia da fracassada concepção “antineoliberal sem ser anticapitalista” das organizações neorreformistas, como o Syriza na Grécia e o Podemos no Estado espanhol, louvadas pelo MES em seu momento ascendente. Sabemos como terminaram os “antineoliberais”: na Grécia o Syriza aplicou todos os ajustes contra o povo exigidos pela Alemanha, e o Podemos terminou co-dirigindo o Estado imperialista espanhol membro da OTAN. Essa “carapuça” radical que Braga busca dar aos seus discursos lhe rendeu uma aproximação com o neostalinista Jones Manoel do PCB e também com os stalinistas da Unidade Popular ex-PCR.

Isso se afasta dos exemplos de candidaturas de independência de classe, como vemos internacionalmente na pré-candidatura do ferroviário Anasse Kazib no NPA francês, ou o grande exemplo da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores Unidade na Argentina.

Quem encabeça a campanha em defesa da pré-candidatura de Glauber Braga é o próprio MES, auxiliado por um reagrupamento interno no PSOL que tem o mesmo objetivo de impulsionar sua candidatura (o chamado “Movimento Esquerda Radical”, que envolve pequenas correntes internas do PSOL: Alternativa Socialista, Grupo de Ação Socialista, Liberdade e Revolução Popular, Luta Socialista, Princípios Revolucionários da Ideologia Socialista, PSOL Pela Base e Socialismo ou Barbárie). O MES chega a usar um artíficio que deixaria vexado qualquer fact-checker: inventa pontos programáticos mais “radicais” que não existem na plataforma de Glauber. Em sua nota sobre as “duas tarefas do PSOL”, dizem que o manifesto da pré-candidatura de Glauber Braga indica “diretrizes muito sólidas”, como a “estatização do sistema financeiro”. Como se pode ver no manifesto, não apenas inexiste qualquer referência à estatização do sistema financeiro, como sequer se menciona a palavra “bancos privados”, “capital financeiro”, ou instituições semelhantes, todas inimigas diretas de qualquer programa com “diretrizes sólidas” de combate ao regime do golpe institucional.

Ademais, o MES assegura a todos que a pré-candidatura de Glauber “não significa abrir mão do centro da tática expresso na luta para derrotar Bolsonaro nas ruas e nas eleições. Nossa prioridade é a luta pelo impeachment e, no terreno eleitoral, inclusive, definimos previamente que apoiaremos no segundo turno qualquer candidato que enfrente Bolsonaro”. Qualquer candidato significa Lula, ou mesmo um liberal burguês (segundo “teoriza” o próprio Roberto Robaina).

Essa política, representada na pré-candidatura de Glauber Braga, é apenas uma variante eleitoralista sem qualquer independência de classe.

 
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