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COLUNA
Imperialismo, nacionalismo e socialismo
Seiji Seron
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Para Lênin, o imperialismo não é uma política, e sim um estágio de desenvolvimento do capitalismo global. Neste estágio, as fronteiras nacionais tornam-se um entrave ao desenvolvimento das forças produtivas. Os países economicamente mais avançados exportam capitais para os mais atrasados e, deste modo, estabelecem relações de dominação entre as nações.

Se os países-sede desses monopólios que se instalam pelo mundo estão no topo da hierarquia mundial dos Estados, a base desta hierarquia é composta pelas colônias e semicolônias, isto é, os países que são econômica e politicamente dominados pelas potências imperialistas a despeito de, formalmente, serem independentes. Entre estes dois extremos, existe ainda, segundo Lênin, uma abundância de formas transitórias de dependência interestatal. Na periferia do capitalismo mundial, a luta dos trabalhadores contra a exploração se combina à luta contra a dominação imperialista, que agrava as mazelas do capitalismo.

O nacionalismo é, por definição, uma ideologia reacionária. Nacionalismo é a defesa dos interesses da nação, mas a nação é formada por classes sociais cujos respectivos interesses são mutuamente antagônicos. A ideologia nacionalista visa convencer as classes subalternas de que os interesses particulares das classes dominantes são, na verdade, interesses gerais, de toda a nação, a fim de que aquelas renunciem, em prol destas, aos seus interesses de classe. Apesar disso, Trótski assinalava que, “assim como a ‘pátria nacional’ se transformou, nos países capitalistas avançados, no mais prejudicial freio histórico, continua sendo, em contrapartida, um fator relativamente progressista nos países atrasados, obrigados a lutar por uma existência independente.” (A 90 anos do Manifesto Comunista)

O fato de que, nos países periféricos, a luta de classes possui uma dimensão nacional explica, em parte, a popularidade que tem adquirido a assim-chamada teoria “marxista” da dependência. Esta é, em síntese, uma tentativa de reinterpretar ou “traduzir”, em linguagem marxista, as teorias da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) sobre o subdesenvolvimento. Porém, supera-as parcialmente ao conceber a economia mundial como uma totalidade, e não mera justaposição das economias nacionais, e o subdesenvolvimento, não como falta de desenvolvimento, insuficiência de capitalismo, mas sim como a forma particular e necessária de desenvolvimento do capitalismo periférico. Esta concepção resulta, em boa medida, da influência do pensamento de Trótski sobre a Polop, organização da qual os dependentistas “radicais” foram dirigentes e que afirmava programaticamente, em contraposição ao PCB, o caráter socialista da revolução brasileira.

Isso em nada justifica, entretanto, a argumentação sofistica segundo a qual, nos países oprimidos pelo imperialismo, o nacionalismo é a concretização, e não a negação, do internacionalismo proletário. Os marxistas revolucionários defendemos intransigentemente a soberania e a dignidade dos povos oprimidos, mas não só para que estes povos conquistem a igualdade no concerto das nações, e sim para abolir as fronteiras nacionais, os Estados, e instaurar mundialmente a comunidade dos produtores livremente associados, ou seja, o comunismo. A Internacional será a humanidade, como na letra do communard Eugène Pottier.

É evidente que a classe burguesa não é monolítica; algumas de suas frações associam-se mais diretamente ao imperialismo, enquanto outras poderiam se beneficiar de uma autonomia maior em relação a este. Tanto umas quanto as outras são, contudo, incapazes de realizar as transformações estruturais necessárias para emancipar a nação do jugo imperialista sem, ao mesmo tempo, comprometerem sua própria posição de classe dirigente da nação e, por isto, sempre capitulam ao imperialismo quando tal posição é posta em xeque, como em 1964. Nacionalismo revolucionário é, portanto, uma contradição em termos. O proletariado dos países periféricos não deve se tornar nacionalista, e sim arrancar as bandeiras anti-imperialistas das mãos da burguesia “nacional”, desmascarando-a, demonstrando que a verdadeira independência só poderá ser conquistada através da revolução socialista, a fim de se transformar, ele mesmo, em classe hegemônica.

Talvez alguém que discorda de minha opinião acerca do nacionalismo irá compará-la ao rechaço de Rosa Luxemburgo à reivindicação de independência da Polônia, rechaço este acertadamente criticado por Lênin. Porém, o que este último defendia não era a independência em si, e sim a autodeterminação, isto é, o direito democrático dos povos de governarem a si mesmos e de decidirem livremente separar-se ou não. Os marxistas revolucionários participamos não apenas das lutas dos trabalhadores por maiores salários, melhores condições de trabalho e contra o despotismo patronal, como também de todas as lutas democráticas e progressistas, inclusive as de caráter nacional. Mas o fazemos de maneira independente, combatendo politicamente as direções burguesas e combinando as reivindicações democráticas e socialistas para que a classe trabalhadora hegemonize o movimento.

 
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