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DEBATE ARTES UFRGS E UFMG
Teatro de Arena, censura, música e memória: veja debates da mesa “Arte e Ditadura”
Giovana Pozzi
Estudante de história na UFRGS

Ontem, terça-feira (9), aconteceu a mesa-debate “Arte e Ditadura: Tempos de luta e resistência” organizada pelo CADi UFRGS e Representantes Estudantis das Artes Visuais UFMG. A mesa, formada integralmente por mulheres, contou com a presença de três professoras e pesquisadoras das duas Universidades. Veja os principais debates e tenha acesso ao vídeo completo.

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Tivemos nesta terça-feira um forte exemplo da potência que é quando o teatro, a música, as artes visuais, o cinema e a fotografia se encontram. Ainda mais para debater o papel que a arte e os artistas cumpriram na resistência à ditadura militar no Brasil, tendo como objetivo recontar a história do nosso ponto de vista e extrair lições para pensar o hoje.

Começamos a atividade, e remarcamos aqui, prestando toda nossa solidariedade, desde o CADi, Centro Acadêmico do Teatro da UFRGS, e as Representantes Estudantis das Artes Visuais da UFMG, à greve sanitária das professoras e professores de BH que se enfrentam com o retorno inseguro às aulas presenciais que Kalil quer impor. Relembramos a forte manifestação de 1979 contra a ditadura militar, organizada pelas professoras da capital mineira e que conseguiu colocar mais de 10 mil professoras nas ruas, na luta.

Nesse momento atual, com 400 mil mortes por covid parece que esses corpos jogados por aí não significam nada. Esse corpo que tá ali ’atrapalhando o trânsito, atrapalhando o tráfego, atrapalhando a economia’. Luciana Prass

A exemplo do que diz Iná Camargo Costa sobre todas as artes de alguma maneira serem como sismógrafos da nossa vida (quando há barulho, é porque há algo acontecendo!), resgatamos a história viva das artes e dos artistas que combateram os anos de chumbo para pensar nossos desafios hoje, em 2021, frente a um regime do golpe cada vez mais autoritário que pariu Bolsonaro e seus aliados. Esse mesmo regime que hoje persegue com a Lei de Segurança Nacional, herança da ditadura militar, aqueles que lutam. E que agora implementam um substitutivo dessa lei que seguirá sendo justificativa para perseguir trabalhadores, jovens, artistas, movimentos sociais e de esquerda.

Para o debate, contamos com a presença de Juliana Wolkmer, pesquisadora formada pelo Instituto de Artes da UFRGS e impulsionadora do canal “História do Teatro”; Luciana Prass, professora de Música também pelo Instituto de Artes da UFRGS; e Anna Karina, professora na Escola de Belas Artes da UFMG. Como foi trazido pelas próprias convidadas, uma mesa composta apenas por mulheres, comprovando o papel de linha de frente contra o reacionarismo que as mulheres cumprem historicamente.

Como uma dose de inspiração para esse momento difícil que vivemos, conhecemos a história da criação do Teatro de Arena em Porto Alegre, um importante grupo teatral que combateu a ditadura militar e marcou a história do teatro brasileiro. Desde aquela época, o grupo já remarcava como os cortes financeiros são a primeira forma de censura à arte, já que impede materialmente qualquer produção. Essa situação de cortes se repete até hoje, quando nos encontramos com programas escassos de incentivo à cultura, pelos quais sempre precisamos lutar para manter.

A censura começa nos cortes financeiros. No momento que os artistas não têm verba pra desenvolver suas pesquisas, não têm espaço pra trabalhar, isso é a aniquilação. Juliana Wolkmer

Exemplos como o Show Opinião, reconhecido como a primeira reação artística ao golpe de 64, CPC da UNE, tropicália, entre outros, foram trazidos para o debate como forma de concretizar a resposta que a arte estava dando aos processos sociais que ocorreram tanto no pré-golpe de 64, período de inúmeros levantes operários e populares, quanto no pós-golpe militar.

“Apoderar-se de uma lembrança tal como ela lampeja num instante de perigo”, Walter Benjamin foi resgatado para o debate sobre o potencial memorialístico da arte, através de exemplos fotográficos e cinematográficos. Sabemos que a abertura democrática no Brasil pós ditadura militar foi completamente tutelada pela burguesia, sem margem para que os trabalhadores e a juventude pudessem decidir de fato sobre os rumos que o país iria seguir. Tanto assim foi que até hoje restam resquícios desse período, como a própria LSN, tendo a face mais reacionária com Bolsonaro e os militares comemorando o golpe de 64.

O negacionismo é um movimento organizado. É assustador, mas se ele o é, vamos nos organizar também para fazer frente e disputar essa narrativa, disputar essa história. Anna Karina

Como disse a professora Anna Karina, o negacionismo é um movimento organizado e isso é assustador. Mas se assim o é, precisamos também nos organizar! Olhamos para o passado não para o contemplar passivamente, mas sim como forma de nos armar com as melhores lições que os artistas, os trabalhadores e a juventude deixaram, e assim traçar a estratégia e política corretas hoje, que impulsionem a nossa luta contra Bolsonaro, militares e golpistas, pela liberdade total à arte e aos artistas e pelo fim desse sistema irracional que é o capitalismo, incompatível na sua raiz com a liberdade da cultura.

A exemplo da luta dos colombianos que despontam em uma luta fervorosa contra os ataques do governo, é preciso retomar a luta aqui no Brasil contra a precarização das nossas vidas, do nosso trabalho e contra todos os resquícios da ditadura militar que ainda restam no país. Essa batalha só pode se dar com os trabalhadores e a juventude unificados e na linha de frente, sendo que a arte pode cumprir aí um importante papel disruptivo.

Esses e muitos outros debates e questões vieram à tona na atividade que nós do CADi da UFRGS e as representantes estudantis das Artes Visuais da UFMG, onde em ambos a Juventude Faísca está presente, organizamos. Através desse link você pode vê-lo na íntegra.

 
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