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Demissões
Porque a CUT não quis unificar terceirizadas e diretas na luta da LG?
Marcello Pablito
Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.

O fato de que até mesmo a justiça tenha reconhecido o vinculo entre as empresas terceirizadas com a LG e a direção do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté (CUT) mesmo assim se recuse unificar essas greves é bastante sintomático.

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Há quase um mês as trabalhadoras terceirizadas das fábricas Bluetech, Suntech e 3C fornecedoras da LG de Taubaté e representadas pelo Sindicato dos Metalúrgicos de SJC (filiado a CSP-Conlutas) estão em greve diante do anuncio de quase mil demissões pela multinacional sul-coreana em plena pandemia. Por sua vez, as trabalhadoras da LG, representadas pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região (filiado a CUT), por duas vezes entraram em greve também em virtude do anuncio de demissões. A unidade entre essas trabalhadoras (diretas e terceirizadas) e a unificação com as lutas que ocorrem no país seria o caminho para combater as demissões e poderia ser um importante exemplo de como enfrentar os ataques que os patrões descarregam nas costas da nossa classe. Infelizmente a unidade das trabalhadoras não ocorreu graças à política criminosa da CUT que atuou contra qualquer medida de unidade entre os trabalhadores mostrando mais uma vez o papel da burocracia sindical.

As demissões na LG e nas fábricas fornecedoras ocorrem em meio ao cenário dramático da pandemia e de 400 mil mortos no país, e em meio ao aprofundamento da crise capitalista que já levou a mais de 14 milhões de desempregados, ao aumento da precarização e do custo de vida sustentados por Bolsonaro, governadores e todo o regime do golpe institucional.

Empresas como a LG - que foram favorecidas por Bolsonaro e por governadores, como Dória, que durante anos mantiveram incentivos fiscais milionários além de oferecer novas condições de exploração dos trabalhadores com a reforma trabalhista e a lei de terceirização irrestrita - agora demitem milhares de trabalhadores em todo país.

Nesse cenário seria ainda mais importante a unificação das lutas entre efetivas (diretas) e terceirizadas através de medidas comuns de luta como a conformação de um comitê unificado com representantes eleitas das 4 fábricas que unificasse a força das greves e buscassem medidas de unificação com as lutas no país para defender todos os empregos e impor um plano emergencial de combate a pandemia.

Na contramão das necessidades dos trabalhadores as grandes centrais sindicais atuam criminosamente para manter sob seu controle as lutas de resistência que acontecem no país, perpetuando sua divisão e aceitando a imposição das demissões sem nenhum plano de lutas para enfrentar o fechamento das fábricas. Enquanto os trabalhadores e o povo pobre morrem em decorrência da pandemia e a fome e o desemprego atingem milhões em todo o país a burocracia das grandes centrais canaliza a insatisfação dos trabalhadores para sua estratégia de desgastar Bolsonaro e se aliar com inimigos da nossa classe. No caso da CUT a estratégia de desgastar Bolsonaro está descaradamente ligada ao objetivo de preparar o caminho das eleições de 2022 e um possível retorno de Lula, agora reabilitado pelo judiciário como uma alternativa de contenção da luta de classes. A verdade é que a burocracia sindical é contrária à unificação dos trabalhadores porque tem horror a que as lutas saiam de seu controle e estão se lixando para a vida dos trabalhadores que são jogados na rua pelas demissões!

No caso da LG e das fábricas fornecedoras as trabalhadoras demonstraram uma importante disposição de luta, que ao ficar isolada, sofrendo ameaças da patronal e da justiça, foi dia a dia sendo conduzida pela estratégia da CUT a aceitar as demissões e lutar por indenizações maiores como o único horizonte possível. Nesse momento a greve das trabalhadoras da LG foi encerrada e a luta das trabalhadoras terceirizadas segue em frente, mas mais isolada e em piores condições de enfrentar os patrões e isso é resultado direto da política consciente das direções sindicais.

A CUT diz em seu site defender os empregos e, inclusive no 1o de maio (em que as trabalhadoras em luta não tem voz, mas os golpistas e inimigos dos trabalhadores tem lugar garantido) tem o lema "Democracia, Emprego, Vacina para Todos", mas na prática aceita passivamente as demissões de milhares de trabalhadores como na LG, comemorando os valores das indenizações para esconder que aceitou as demissões (assim como fez na Ford) se recusando a unificar as greves e deixando as trabalhadoras terceirizadas em luta para trás.

O fato de que até mesmo a justiça tenha reconhecido o vinculo entre as empresas terceirizadas com a LG e a direção do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté mesmo assim se recuse unificar essas greves é bastante sintomático. A terceirização é uma forma de favorecimento direto dos patrões, já que dividem a nossa classe pagando salários e direitos menores a uma parcela (em sua maioria feminina, negra e LGBT) que em muitos casos faz o mesmo trabalho dos efetivos, para assim aumentar os lucros dos capitalistas.

Isso significa que o lucro de R$ 1 bilhão obtido pela LG apenas em 2020 só foi possível graças ao trabalho dessas trabalhadoras terceirizadas que agora a empresa está colocando na rua com as demissões. Ao criar trabalhadores de primeira, segunda e terceira categorias os patrões fragmentam a classe trabalhadora dificultando sua organização para lutar por iguais direitos, salários e contra as medidas de ataque. Ao dividir a nossa classe entre empregados e desempregados os patrões conseguem criar patamares cada vez maiores de exploração e rebaixar as condições de vida, os salários e direitos do conjunto dos trabalhadores, inclusive dos efetivos ou diretos. Isso significa que a terceirização e as diversas formas de divisão da nossa classe só favorecem os patrões, o que torna ainda mais criminosa a política da CUT que atuou para dividir os trabalhadores estimulando a rivalidade entre efetivos ou diretos e terceirizados ao dizer que unificar a luta significaria que os efetivos tivessem que "dividir o bolo" do pacote de indenização da LG com as trabalhadoras terceirizadas.

Seria de se espantar que dirigentes dos sindicatos (que são ferramentas de luta dos trabalhadores) defendam medidas que favoreçam os patrões se não estivéssemos falando da burocracia sindical das grandes centrais que historicamente atuam conscientemente para fragmentar, desmoralizar e trair as lutas da classe trabalhadora e nunca lutaram em defesa dos trabalhadores terceirizados, ao contrário, se propõem a ajudar os patrões a “regulamentar” a terceirização. No caso da CUT a terceirização é uma velha conhecida, já que foi a partir da traição das grandes centrais que os patrões puderam avançar na aprovação da reforma trabalhista, da lei da terceirização irrestrita e generalizar o trabalho precário ainda mais do que nos anos de governo do PT.

Para que a luta das trabalhadoras terceirizadas possa ir além é necessário também um debate com os companheiros da direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos já que a CSP-Conlutas poderia implementar medidas concretas a partir dos sindicatos que dirige para cercar de solidariedade a luta das trabalhadoras terceirizadas, assim como denunciar abertamente o papel da burocracia sindical da CUT e das demais centrais sindicais que atuaram para dividir os trabalhadores impedindo qualquer medida de auto-organização como a construção de um comando de greve unificado das 4 fábricas com representantes eleitas e revogáveis que unificasse diretas e terceirizadas em uma luta só contra as demissões.

Nesse momento em que no Brasil viemos de uma correlação de forças desfavorável aos trabalhadores é ainda mais importante tomar como inspiração as lutas internacionais da nossa classe, que se apoiando na auto-organização vem impondo importantes derrotas aos governos como na luta das trabalhadoras da saúde de Neuquen na Argentina e os portuários no Chile e é nessa perspectiva que o Esquerda Diário e o grupo de mulheres Pão e Rosas aposta suas energias para que com a força da nossa classe façamos com que sejam os patrões que paguem pela crise.

 
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