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EDITORIAL
Unificar os focos de resistência: que as centrais sindicais construam um dia nacional de lutas no 20 de abril
Fernanda Peluci
Diretora do Sindicato dos Metroviários de SP e militante do Mov. Nossa Classe
Valéria Muller

Para o próximo dia 20, trabalhadores dos transportes de distintas cidades indicam mobilização, enquanto se expressam outros focos de resistência, como em Taubaté contra as demissões na LG e suas fornecedoras e no RJ pelo pagamento dos salários das merendeiras. Esse cenário coloca a necessidade de que as centrais sindicais rompam a paralisia e unifiquem todas essas batalhas em um dia nacional de lutas no 20 de abril.

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O descontrole da covid e o aprofundamento da crise econômica debilitam Bolsonaro, com sua desaprovação em alta após a crise envolvendo diretamente as cúpulas militares, ainda que mantenha seus 30% de apoio popular. Os protestos no Paraguai e em outros países soaram ao regime político golpista como um alerta: a combinação entre desemprego, caos sanitário, aumento da fome e crise política podem resultar em luta de classes. Em um movimento preventivo, os golpistas do STF reabilitaram os direitos políticos de Lula para que ele cumpra o papel de conter e desviar para o terreno eleitoral qualquer tendência à revolta, sem questionar nenhuma reforma anti-operária aprovada até aqui.

Neste contexto, são particularmente importantes as recentes demonstrações de que há forças na classe trabalhadora brasileira para lutar, apesar das derrotas acumuladas, fruto das traições dos sindicatos e centrais sindicais. Diante do fechamento de um setor da fábrica da LG em Taubaté, os trabalhadores entraram em greve contra as demissões e pelos seus direitos, junto às fábricas de terceirizadas, com as mulheres na linha de frente. Um exemplo pequeno, mas muito significativo por se tratar de um setor industrial importante, que vem sendo profundamente golpeado pelas demissões e fechamentos. Na educação professoras e professores enfrentam a tentativa de retorno irracional às aulas presenciais imposta pelos governos fazendo greves sanitárias, como em SP, um tipo de movimento que também ocorreu entre petroleiros, como no Paraná e em Minas Gerais. Vemos ainda crescer a revolta por baixo com a situação atual e pequenas mostras dessas insatisfação em vários setores, como na luta das merendeiras do RJ pelo pagamento de seus salários e nos protestos de garis exigindo vacina em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e entre os catadores em Porto Alegre. Em especial o setor dos transportes, altamente atingido pela pandemia, está no centro das disputas entre Bolsonaro e os governadores, que tentam usar a justa indignação dos trabalhadores, que se expressa em mobilizações e protestos iniciais e chamados que podem significar um salto nas mobilizações, caso se efetivarem.

Os trabalhadores metroviários de São Paulo aprovaram em assembleia um indicativo de paralisação para o dia 20, data para a qual os rodoviários da capital paulista também indicam parar reivindicando a vacinação. Nos trens da CPTM, um dos três sindicatos da categoria também convoca a se somar nessa data. Em Porto Alegre os metroviários da Trensurb deliberaram uma paralisação de duas horas para o dia 20. Também no Rio de Janeiro e no Distrito Federal, em diferentes datas, há paralisações e protestos de trabalhadores dos transportes marcados para este mês. No Ceará e no Rio Grande do Norte, rodoviários realizara manifestações exigindo o direito à vacina nas últimas semanas. Na capital potiguar, fizeram duas greves contra as mais de 1.000 demissões em 2020 e seguem com a frota reduzida. Nesse cenário, é fundamental que as organizações de esquerda, a CSP Conlutas e os movimentos sociais independentes do PT, exijam das centrais em cada local de trabalho que rompam com sua política de dividir a luta dos trabalhadores dos transportes, negociar e entregar direitos da classe trabalhadora, esperando 2022 enquanto sofremos com as mortes, demissões e retirada de direitos, e construam o 20 de abril como um dia nacional de luta unificando os trabalhadores dos transportes e todos os focos de resistência que vêm se expressando, em defesa da vacina para todos, com a quebra das patentes, e também contra as demissões e demais ataques das patronais e governos.

Rodoviários, metroviários e ferroviários, junto com todos os trabalhadores que não têm direito a isolamento social, estão adoecendo e morrendo com a covid, sem EPIs adequados, sem vacina, sem testes massivos, em meio à precariedade do transporte público que segue lotado em todo país, sofrendo com a implementação da reforma trabalhista, com as MPs de Bolsonaro e Guedes ano passado, com a terceirização e com a sede de lucro dos patrões, que atacam direitos, acordos coletivos e até mesmo os planos de saúde dos trabalhadores em plena pandemia. São categorias em luto tendo em vista tantos colegas que faleceram com o coronavírus. Isso tudo por responsabilidade de Bolsonaro e também de governadores como João Doria (PSDB), que trata a pandemia como oportunidade para retirar direitos e privatizar, e acaba de acrescentar mais de um bilhão em subsídios para uma linha privada, enquanto o estado não dá nenhum subsídio ao Metrô estatal. No caso dos rodoviários são centenas de mortos, incontáveis infectados e uma ditadura patronal que impõe demissões, cortes de salários e outros ataques. Em Porto Alegre, em meio a tudo isso, o prefeito Sebastião Melo (MDB) tenta impor a privatização da Carris, maior empresa de transporte da cidade, e o rechaço da categoria e da população contra essa medida também tem que ser transformado em luta no dia 20.

Um dia de luta nacional, que unifique todas as resistências em curso, tem possibilidade de impactar na conjuntura nacional a favor de toda a classe trabalhadora, das mulheres, negros e demais setores oprimidos. Se trata de uma posição estratégica dos trabalhadores, pois são quem move as cidades e por isso, quando param, têm a capacidade de impactar outros setores. Num contexto em que cresce a insatisfação com o governo, com o vírus e a fome ameaçando amplas camadas da população, um dia de luta nacional seria capaz de expressar o conjunto dessas insatisfações. Os trabalhadores de aplicativos também vêm realizando protestos e no dia 16 há um chamado de paralisação em SP, uma ação que certamente será muito mais forte se for unificada com os demais trabalhadores dos transportes, assim como poderia também ser unificada com os aeroviários, que não pararam de trabalhar durante a pandemia, vêm sofrendo muitas demissões e pagando com suas vidas com muitas mortes por covid. Da unidade entre os trabalhadores e os usuários dos transportes, junto à luta dos trabalhadores metalúrgicos contra as demissões como na LG, podem se desenvolver forças para enfrentar Bolsonaro, os militares, os governadores e o conjunto do regime político golpista, que junto aos capitalistas são responsáveis por toda a tragédia social vivida hoje no país.

Contra essa perspectiva está a atuação das direções sindicais. No caso dos rodoviários, a maioria dos seus sindicatos é dirigido por verdadeiras máfias ligadas às burocracias da UGT e Força Sindical. Essas burocracias fazem de tudo para frear e desviar a insatisfação dos trabalhadores, entregando acordos coletivos, boicotando e evitando espaços de organização. Dividem as lutas dos trabalhadores: não só nas cidades diferentes, mas mesmo em São Paulo, a mesma UGT está na direção do sindicato dos rodoviários, com seu deputado bolsonarista como presidente, e na direção de um dos sindicatos da companhia de trens, apontando duas datas diferentes, uma semana depois da outra, para separar as categorias. Ao mesmo tempo, tentam colocar a luta dos trabalhadores a serviço de Bolsonaro, nas disputas entre ele e os governadores. A política de centrais como a CUT, dirigida pelo PT, e a CTB, dirigida pelo PCdoB, tampouco oferece uma alternativa, se limitando a ações simbólicas esporádicas que não são construídas nas bases, como no último dia 24, enquanto esperam 2022 para tentar eleger Lula. Não podemos esperar, nossas vidas estão sendo destruídas hoje. Frente a isso, é necessário que a esquerda organize um polo antiburocrático, para exigir a unidade na luta, e junto aos trabalhadores pressionar essas direções sindicais para que rompam com essa política e organizem um plano nacional de lutas, partindo do dia 20. Como fração da diretoria do sindicato dos metroviários de São Paulo, o Movimento Nossa Classe, que ajuda a impulsionar o Esquerda Diário, batalha por essa perspectiva, e a partir disso atua na categoria para que a paralisação do dia 20 seja construída a partir das bases, com reuniões e assembleias democráticas nas quais cada trabalhador possa se colocar como parte ativa dessa luta, batalhando pela unidade de todos os trabalhadores dos transportes, para que os trabalhadores terceirizados não sejam excluídos da reivindicação da vacina, e para barrar também a retirada de direitos e defender o acordo coletivo da categoria e contra o avanço da terceirização e privatização do metrô.

Na categoria de rodoviários é comum as patronais impulsionarem mobilizações controladas para pressionar as prefeituras por mais subsídios, colocando a legítima insatisfação dos trabalhadores a serviço de seus objetivos capitalistas. Nesse sentido, a greve dos rodoviários de 2014 em Porto Alegre é um importante exemplo: diante de um "lockout" patronal, os trabalhadores se organizaram e tomaram a frente, voltando a luta contra os empresários e a burocracia sindical, impondo a paralisação total dos ônibus na capital gaúcha durante duas semanas, com amplo apoio dos usuários, dando início a um ano marcado por diversas greves antiburocráticas pelo Brasil.

Os metroviários de São Paulo têm grande tradição de luta. Em 2014 protagonizaram uma importante greve que foi alvo de dura repressão do governo do PSDB, demitindo trabalhadores, que conquistaram a reintegração após 4 anos com muita luta. Em 2017 a adesão da categoria às greves gerais contra a reforma da previdência e trabalhista foram decisivas para que outros setores aderissem no país todo, o que freou, num primeiro momento, a aprovação das reformas do golpista Temer. Ainda que esses eventos sejam parte de uma conjuntura distinta, eles demonstram a importância estratégica dos trabalhadores dos transportes.

Chamamos cada trabalhador e trabalhadora a batalhar para que o 20 de abril seja um dia nacional de lutas, que possa unir metalúrgicos, metroviários, rodoviários, ferroviários, aeroviários, motoristas e entregadores de aplicativos, professores, bancários trabalhadores da saúde e também os usuários dos transportes, contra toda a precariedade que é imposta diariamente e em defesa de nossas vidas. É preciso erguer a batalha por vacina para todos, com a quebra das patentes e intervenção estatal nos laboratórios e farmacêuticas para produzir vacinas em massa, sob controle dos trabalhadores, o que permitiria atender toda a demanda rapidamente, como parte de um plano de emergência contra a pandemia, que inclui também a paralisação de todas as atividades não essenciais, com liberação remunerada paga pelos grandes empresários, e a proibição de todas as demissões e mais contratações nos serviços essenciais como transporte e saúde. Por comissões independentes de saúde e segurança para impulsionar a auto-organização dos trabalhadores por local de trabalho. É necessária a reconversão da indústria para a produção de insumos de combate à pandemia e a expropriação de hotéis e resorts para garantir isolamento adequado para quem se contamina, investimento e contratação em massa para abertura de novos leitos, além da liberação com remuneração de todos os trabalhadores de grupos de risco e um auxílio emergencial de pelo menos um salário mínimo aos informais e desempregados até o final da pandemia. O único caminho para uma resposta operária à crise sanitária, econômica e política é a luta organizada da classe trabalhadora, que também deve avançar para batalhar para que os serviços públicos essenciais como saúde e transporte sejam retirados das mãos dos empresários e controlados pelos trabalhadores e usuários.

Nessas batalhas é preciso enfrentar também todo o regime político golpista, que junto ao negacionismo de Bolsonaro leva o país à trágica marca de mais de 350 mil mortes registradas por covid. Um regime político cada vez mais autoritário e militarizado, o que só pode ser revertido pela força da unidade dos trabalhadores na luta de classes, e não por frentes amplas com burgueses e golpistas, como propõe o PT rumo a 2022. Ao invés de se preparar para ser parte disso nas eleições e alimentar a ilusão do impeachment, que levaria o reacionário General Mourão à presidência, chamamos o PSOL a colocar o peso de seus parlamentares e sua influência nos movimentos sociais a serviço de fortalecer os focos de resistência que se expressam, aderindo à batalha para que o 20 de abril sejam um dia nacional de luta e exigindo que as direções sindicais rompam com sua paralisia. Nosso chamado a conformar um polo antiburocrático a nível nacional se estende às centrais sindicais de esquerda como as Intersindicais e a CSP-Conlutas, dirigida pelo PSTU, além das demais organizações à esquerda do PT. As entidades estudantis dirigidas por esses partidos, como DCEs e CAs também estão convocadas a serem parte desses combates e lutar pela unidade de estudantes e trabalhadores.

Nós do MRT colocamos o Esquerda Diário a serviço de cada foco de resistência que se expressa no país em meio à situação reacionária atual, levantando uma política independente e dos trabalhadores e um programa para que sejam os capitalistas que paguem pela crise. Batalhamos pela unidade dos trabalhadores dos transportes, contra as demissões na LG, contra a repressão à ocupação da CCBB em Brasília e em defesa do direito à moradia, pelo pagamento dos salários atrasados das merendeiras do Rio Janeiro que lutam contra Paes e os empresários. Somos parte de uma Rede Internacional de Diários militantes, impulsionada pela Fração Trotskista, que vem intervindo nos principais processos de luta de classes dos últimos anos, como nos EUA, Chile, França e outros países. No Brasil buscamos colocar as lições estratégicas desses processos a serviço de enfrentar Bolsonaro, Mourão, os militares e todos os golpistas, e por isso chamamos os trabalhadores e a juventude a lutar para impor uma assembleia constituinte, livre e soberana, para que seja a maioria da população a decidir os rumos do país e para varrer as heranças da ditadura como a Lei de Segurança Nacional, além de anular todas as reformas. Esses combates colocarão a possibilidade da classe trabalhadora avançar na luta por um governo de trabalhadores, de ruptura com o capitalismo.

 
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