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UFRGS
Rumo à assembleia geral da UFRGS, é preciso reerguer o movimento estudantil
Luno P.
Professor de Teatro e estudante de História da UFRGS

Na última quinta (08) se reuniu o Conselho de Entidades de Base da UFRGS, com dezenas de representantes de CAs e DAs. Entre as resoluções está a construção de uma assembleia geral da UFRGS, um espaço mais do que necessário como parte de reorganizar e reerguer o movimento estudantil para enfrentar Bolsonaro, seu interventor Bulhões e todos os ataques dos golpistas e dos capitalistas contra os estudantes e a classe trabalhadora.

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O primeiro CEB do ano ocorreu em meio ao completo descontrole da pandemia, com trágicos recordes de mortes sendo acumulados por Bolsonaro, os governadores e prefeitos (inclusive os do PT e PCdoB). O aumento do desemprego e da pobreza, que atinge 27 milhões de brasileiros, não será contido com o novo auxílio emergencial, com valor entre R$150 e R$250, deixando de fora 22 milhões de pessoas beneficiadas. Tudo isso pesa sobre os estudantes e se soma aos atrasos de bolsas e também à precariedade e sobrecarga do ensino remoto.

Neste contexto, os centros acadêmicos do Teatro (CaDi) e das Artes Visuais e História da Arte (CATC), compostos por militantes da Juventude Faísca e independentes, impulsionaram uma carta ao DCE, assinada por quase 100 estudantes e mais 5 CAs, para que o espaço do CEB fosse aberto a todas e todos que quisessem participar. Infelizmente o DCE, dirigido pelo MES/PSOL, Afronte/PSOL, Correnteza/UP, Alicerce/PSOL e UJC/PCB, não respondeu a esse chamado, embora algumas dessas organizações tenham se posicionado por fora da gestão. Muitas gestões das entidades estudantis estão paralisadas ou esvaziadas após um ano enfrentando as dificuldades do contato unicamente remoto com os estudantes, e restringir a participação somente àqueles que são parte das gestões significou, em alguns casos, que cursos inteiros não tivessem representação alguma. É o caso do curso de psicologia, do qual nenhum estudante pode participar, pois o CA é uma autogestão que vem bastante esvaziada. Apesar disso, por fora do CA, os ingressantes e veteranos estão discutindo a situação do país e da universidade, certamente teriam muito a agregar num espaço como o CEB. Esse é apenas um exemplo de como a restrição de acesso é antidemocrática e negativa, sobretudo quando se tem em vista que, quando era possível que esse espaço fosse presencial, essa restrição não se aplicava.

A reunião da última quinta foi dividida entre três pautas: informes, situação política e problemas do ensino remoto. Na discussão política diversas intervenções expressaram a dura realidade que se vive a nível nacional e na universidade, no sentido de denunciar Bolsonaro e também o interventor Bulhões. A Juventude Faísca, pela via dos centros acadêmicos que compõe, assim como representantes de outros cursos, propuseram a construção de uma assembleia geral da UFRGS, o que foi aprovado, ainda que sem data definida até a publicação desta matéria, mas que deverá acontecer antes do 1° de maio. É fundamental que esse espaço seja efetivamente construído em cada curso, não só com a convocação de reuniões e assembleias, mas com a perspectiva de convencer cada estudante da necessidade de se organizar para enfrentar Bolsonaro, Bulhões, os golpistas e os capitalistas. É esse o único caminho que pode realmente responder à situação em que estamos. É preciso nos inspirar no exemplo de luta em outros países, como França, Chile, Paraguai, EUA, onde diversas expressões de revolta ocorreram inclusive durante a pandemia. É fundamental confiar nas nossas próprias forças, combatendo todas as instituições deste regime golpista. Nesse sentido a política do impeachment, defendida por todas as organizações que compõem a gestão do DCE da UFRGS, é uma armadilha, que significaria Mourão na presidência, e tanto ele quanto todo o regime político golpista composto pelo STF, pelo Congresso e os governadores, junto aos capitalistas, são nossos inimigos e só poderão ser enfrentados na luta de classes, unindo estudantes, trabalhadores, mulheres, negros, indígenas, LGBTs e todos os oprimidos. Para isso é necessário pressionar as grandes centrais sindicais, como a CUT e a CTB, assim como também a UNE, ambas dirigidas pelo PT e pelo PCdoB, para que rompam com sua política de negociar nossos direitos e de fato organizem em cada local de trabalho e estudo um grande plano de lutas nacional. Recentemente essas entidades convocaram dias de luta separados, como parte de uma política de dividir as forças dos estudantes e trabalhadores, além dos próprios dias terem sido bastante burocráticos, esvaziados, com muitos estudantes e trabalhadores sequer sabendo do calendário convocado. Esse é o caminho oposto do que é necessário para que, em meio às diversas disputas que vemos no regime político, como o recente embate sobre a CPI Covid, emerja o movimento de massas como quem pode erguer uma resposta independente, para que sejam os capitalistas e seus governantes que paguem por essa crise.

Neste ponto político também a Juventude Faísca propôs uma campanha unitária contra a privatização da Carris, empresa pública de transporte que o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), tenta vender para satisfazer o lucro dos patrões, alinhado com a política de Bolsonaro e Paulo Guedes, precarizando cada vez mais o transporte e a vida dos trabalhadores rodoviários. Sobre isso o CEB indicou para os CAs e DAs discutirem uma campanha contra a privatização da Carris e de todas as estatais gaúchas, com o mote "estamos com os trabalhadores contra a privatização das estatais". A construção dessa campanha pode ser uma via de unir estudantes e trabalhadores contra esse ataque, como parte de uma perspectiva de que somente essa potente unidade é o que pode mudar a grave situação que vivemos. Vale ressaltar que em diversas cidades os trabalhadores rodoviários vêm realizando ações exigindo a vacinação. Em São Paulo há um indicativo de paralisação do metrô e também dos ônibus para o dia 20, data na qual também ocorrerá protesto dos trabalhadores da Trensurb. As centrais sindicais deveriam organizar o dia 20 como uma data nacional de luta dos transportes, unificando também com os operários da LG em São Paulo que enfrentam o fechamento da fábrica e demissões. Porto Alegre tem marcado em sua história o ano de 2014, quando os rodoviários mostraram sua força e paralisaram a cidade por 15 dias. É com a perspectiva de que novos processos assim possam se dar, e incentivando que aconteçam, que os estudantes devem estar lado a lado com os trabalhadores. Por isso, reforçamos o chamado aos estudantes da UFRGS, aos DAs e CAs a se somarem nesta campanha em defesa da Carris, como parte de uma luta por um transporte 100% público sob controle dos trabalhadores e usuários.

No último sábado os rodoviários realizaram uma carreata em Porto Alegre exigindo vacinação. O movimento estudantil deve se somar a essa reivindicação dos trabalhadores, colocando a necessidade de quebra de patentes para que seja possível a vacina para todos. No CEB foi mencionada uma campanha sobre esse tema, que não coloca a quebra de patentes como única via de massificar a imunização.

No ponto sobre o ensino remoto, foi discutido que mesmo em meio aos diversos relatos de sobrecarga de atividades e a falta de condições materiais para seguir os estudos, a reitoria vem se movimentando para impor ainda mais a precarização do ensino, discutindo a retirada da resolução que impedia reprovação por faltas, assim como "descongelar" o ordenamento e retirar a possibilidade de cancelar cadeiras em qualquer momento. Essas medidas se somam a uma assistência estudantil insuficiente, com bolsas atrasadas e Casas de Estudante que necessitam de várias reformas. Nacionalmente a assistência estudantil é afetada com cortes no orçamento das universidades públicas e no Programa Nacional de Assistência Estudantil, chegando a R$187 milhões em cortes, o que causará maiores taxas de evasão e riscos de jubilamento, elitizando e tornando nossa universidade um espaço ainda mais excludente. Sobre isso o CEB encaminhou campanhas de denúncias das condições dos bolsistas, contra os cortes, por reformas nas casas de estudantes e aumento dos auxílios. Também foi decidido responder ao mentiroso parecer da reitoria que coloca o primeiro semestre em ensino remoto como algo positivo. Essas campanhas são importantes e precisam ser efetivamente impulsionadas e construídas pelo DCE e pelos CAs, buscando que cada estudante tome para si essas batalhas. Sobre o ere também foi proposto uma campanha de denúncias, e neste ponto chegou a ser defendido pela UP/Correnteza, que são parte da gestão do DCE, a exigência de punição aos professores que descumprirem as diretrizes do ERE. Essa proposta é totalmente alheia a qualquer perspectiva tanto de organização dos estudantes para responder às contradições do ERE quanto de uma possível aliança entre estudantes e professores. Sobretudo num contexto em que a autoritária Lei de Segurança Nacional é utilizada pelo bolsonarismo para perseguir opositores. Exigir que o interventor Bulhões puna nossos professores deve ser algo rechaçado por todo o movimento estudantil.

É nessa situação que se faz ainda mais necessária a unidade do DCE, DAs e CAs, com o conjunto da comunidade acadêmica junto aos trabalhadores de dentro e de fora da UFRGS. Precisamos enfrentar a precariedade do ensino remoto, os cortes e privatizações, o autoritarismo do governo, como foi a tentativa de censura dos professores da UFPEL, o uso da Lei de Segurança Nacional contra aqueles que criticam Bolsonaro, e também a perseguição que o Estado faz ao movimento estudantil da UFRGS, criminalizando os protestos realizados no ano passado contra a intervenção bolsonarista ameaçando o DCE uma multa que pode variar entre mil e 100 mil reais. Por tudo isso, chamamos o DCE e as correntes de esquerda que o compõem para batalhar pela construção de uma assembleia massiva, convocada amplamente em cada curso, batalhando para convencer os estudantes de sua própria força e apontando um caminho para reorganizar o movimento estudantil em aliança com os trabalhadores.

Foto: Ramon Moser/Arquivo UFRGS

 
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