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Esquerda argentina propõe nacionalizar produção de vacinas: exemplo contra o vírus e os capitalistas!
Caio Reis

Um grande exemplo programático para a esquerda e os trabalhadores na luta por vacina para todos. Na Argentina, a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores Unidade (FIT-U) apresentou projeto de lei para declarar utilidade pública sobre o laboratório mAbxcience, que produz o soro base da vacina AstraZeneca. Projeto foi apresentado pelo deputado nacional e ex-candidato à presidência Nicolás Del Caño, que também discursou no ato em frente ao laboratório.

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Com mais de 4.000 mortes diárias por coronavírus, o Brasil atravessa uma catástrofe sanitária sem precedentes. A catástrofe, porém, não é só sanitária: é capitalista. A propriedade privada das patentes e da produção das vacinas, defendida por Bolsonaro e a esmagadora maioria dos governos, é um dos principais obstáculos à imunização rápida de toda a população nacional e mundial.

No Esquerda Diário, estamos acompanhando e denunciando o absurdo atraso na entrega de insumos e vacinas - mais de 5 milhões de doses - em plena generalização do colapso hospitalar. Ao mesmo tempo, empresários e empresas estão negociando seu “furo de fila” com a pressão pela legalização da compra de doses por pessoas físicas e jurídicas.

Com essa situação desastrosa, essa semana veio da Argentina um grande exemplo político para a esquerda que se reivindica anti-imperialista e consequente na luta contra a pandemia e os capitalistas. Trata-se da proposta da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores Unidade, de estatizar lá um grande laboratório produtor da vacina AstraZeneca e colocá-lo a serviço do único propósito a que deveria servir: produzir vacinas.

Isso porque, ao invés de produzir vacinas para imunizar a população argentina, o laboratório mAbxcience exportou o soro que poderia ser base para 40 milhões de doses. Ou seja, vendeu de uma tacada só uma quantidade de imunizante tão grande que poderia atender quase metade da população do país.

O governo argentino de Alberto Fernandez é diretamente responsável por isso: fez um acordo com o empresário Hugo Sigman, dono da mAbxience, para que ele pudesse exportar a vacina para o México e outros países. A Argentina, ou melhor, os trabalhadores e o povo pobre argentino, teriam garantidos de volta para si por volta de 2,25% dessa produção.

A questão é que 20 milhões de doses da Oxford AstraZeneca foram compradas pela Argentina, um país de 45 milhões de pessoas, e 2,25% não garante nem 1 milhão de vacinas (e leve em consideração também a necessidade de uma segunda dose). O populismo de Fernández e Kirchner mostra mais uma vez como se curva diante da grande propriedade privada.

"Se priorizan los acuerdos entre el Gobierno y los laboratorios y no las necesidades de la población frente al crecimiento de los contagios"

É diante desse absurdo que, na segunda-feira (5), a FIT-U, o maior bloco de esquerda do país, que reúne partidos trotskistas como o Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS, organização irmã do MRT e que impulsiona o La Izquierda Diario na Argentina), fez um ato em frente ao laboratório da mAbxience e exigiu sua nacionalização.

Várias figuras políticas da FIT-U falaram nesse ato, como Gabriel Solano (PO), deputado da Cidade de Buenos Aires, Vilma Ripoll (MST), Juan Carlos Giordano (IS), deputado nacional, e Nicolás del Caño (PTS), deputado nacional que apresentou o projeto de lei na Câmara. Assinado por Del Caño e Carlos Giordano, o projeto de lei propõe que o laboratório da mAbxience seja imediatamente declarado como propriedade de utilidade pública, sujeito a expropriação (sob a Agência Nacional de Laboratórios Públicos), e que se garantam todos os mecanismos para envasilhar as vacinas na própria Argentina.

O projeto propõe, já em seu artigo 1º, que se declare “de utilidade pública a empresa mAbxience Argentina, localizada na rua José Zabala 1040 de Garín, província de Buenos Aires, incluindo o terreno, imóveis, maquinário, laboratório, mobiliário, depósitos, insumos, produtos em armazenamento e qualquer elemento necessário para a fabricação do princípio ativo para a produção de vacinas contra a Covid-19”. No artigo 2º, exige a suspensão de “toda exportação do princípio ativo para a produção de vacinas contra a Covid-19”.

Essa luta é um grande exemplo para a esquerda de toda a América Latina e do mundo. Uma intervenção ao nível do laboratório, que garanta e amplie a capacidade de produção e envasilhamento, tem capacidade para produzir vacinas para todos os argentinos e para os povos do subcontinente. Uma vitória como essa seria fundamental para avançar em uma campanha pelo fim definitivo das leis de patentes.

Atualmente, apenas 9,2% da população brasileira está vacinada contra a COVID-19. A previsão é que os grupos prioritários só terminem de ser vacinados em setembro, e novamente os estados estão sofrendo com falta de doses e a suspensão da vacinação em diversas cidades. Em resposta a esse misto de incompetência, falta de vontade política e puro descaso capitalista, diversas categorias de trabalhadores já se mobilizam em defesa da vacinação para todos, como os metroviários, rodoviários, trabalhadoras da saúdee garis, contra as mortes na catástrofe sanitária e os diversos ataques econômicos que nossa classe vem sofrendo.

Enquanto a esquerda brasileira e as direções sindicais se encontram em uma paralisia aberrante, crentes de que esperar outubro de 2022 possa ser alguma alternativa contra Bolsonaro e a pandemia, a campanha da esquerda e dos trabalhadores argentinos pela nacionalização da produção de todos os componentes da vacina, retirando das mãos gananciosas dos empresários essa indústria estratégica, é um grande exemplo programático para a classe trabalhadora brasileira que aqui e ali começa a se levantar para lutar.

Veja também: É possível se livrar da força autoritária dos militares e do judiciário sem luta de classes?

 
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