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Problemas estruturais nunca resolvidos por governos agravam insegurança de reabrir escolas
Grazieli Rodrigues
Professora da rede municipal de São Paulo
Eduardo Luiz

Retomamos nessa matéria alguns dados sobre os problemas (históricos) estruturais das escolas, em especial da rede pública, além de dados sobre o potencial papel de propagação do vírus nos ambientes escolares não adequados, para debater a responsabilidade dos governos para dar condições realmente seguras para qualquer debate sobre o retorno às aulas.

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Imagem de janeiro de 2020 mostra pia quebrada em banheiro de escola de Samambaia, no DF — Foto: TV Globo/Reprodução, disponível aqui

Recentes estudos científicos realizados pela Revista Science, apontaram que crianças têm uma carga viral de coronavírus semelhante à dos adultos. Os dados foram apresentados aos parlamentares da Comissão de Educação da Câmaranesta segunda-feira (29) pela coordenadora do Laboratório de Epidemiologia da Universidade Federal do Espírito Santo, Ethel Maciel.

O inquérito sociológico feito no Espírito Santo com 1693 crianças e jovens até 22 anos apontou que a incidência do vírus neste grupo é de 6% – bem próxima à da população adulta, que é 9% –, que 35,3% dos estudantes estavam assintomáticas e somente 26% tiveram febre.

Para a pesquisadora Ethel Maciel, os estudos mostram que a medida mais eficaz é o distanciamento seguido de barreiras técnicas como filtros de ar – através de máscaras eficazes, por exemplo. “A gente precisa mensurar o CO2 desta sala. Porque pode ser que numa sala eu possa colocar 30 e em outra eu não posso colocar nem 10. Isso varia dependendo da ventilação e do tamanho da sala”, afirmou Maciel.

Com base nesse estudo podemos demonstrar como os meios escolhidos pelos estados e municípios para viabilizar o retorno às aulas são bastante insuficientes, especialmente nas escolas públicas.

Um deles, a aferição da temperatura de crianças e adolescentes, é uma medida que se mostra bastante ineficaz diante da alta proporção de casos que têm desenvolvimento assintomático.

Outro fator tem se mostrado um grande limitante: as condições estruturais das escolas da rede pública de todo país. Já é sabido que em mais da metade das redes estaduais e municipais do país a ventilação das salas de aulas são consideradas inadequadas, segundo resultado do SAEB, tabulado pelo Pindograma para Folha de São Paulo, a avaliação federal da educação básica realizada pelo Ministério da Educação (MEC).

Segundo dados do Censo Escolar 2020, coletados pelo portal G1, coletados em março do ano passado, o déficit estrutural das escolas – uma realidade histórica, como sempre denunciamos no Esquerda Diário – chega a extremos como o fato de que, em 2019, 3,5 mil escolas públicas não tinham banheiros, o que representava 2,4% do total. Em 2020, esse já escandaloso dado aumentou para 4,3 mil, sendo 3,2% do total.

Outro elemento estrutural é a internet banda larga, que não chegava a 15 mil escolas urbanas em 2019 (18,1%) e, em 2020, não chegou para 17,2 mil (20,5%). Além disso, 35,8 mil escolas ainda hoje no Brasil não têm coleta de esgoto, o que equivale a 26,6% do total. Antes, eram 36,6 mil (27,1%).

O que se vê é uma profunda debilidade estrutural das escolas e inúmeros indícios científicos sobre seu potencial papel no aumento da contaminação, em um momento onde vivenciamos o Brasil bater 4 mil mortes diárias em decorrência da gestão irracional da pandemia e da crise política, econômica e social que vêm sendo descarregada nas costas da classe trabalhadora e de seus filhos, que precisam da escola pública. Neste contexto, apesar de os governos estaduais, municipais e o federal muito debaterem para buscar impor a reabertura das escolas, fica evidente que pouco fizeram para viabilizar isso.

Os governadores mantiveram a mesma política que utilizam há décadas de manter as salas de aulas super lotadas. Em São Paulo, por exemplo, manteve-se a realidade de mais de 40 alunos por sala oficialmente, o que gerou rodízios de estudantes onde houve volta às aulas. No entanto, os trabalhadores da educação historicamente defendem que as salas de aula deveriam ter no máximo 25 alunos – o que, em meio a pandemia, mostra-se ainda um número muito alto, já que a maioria das salas de aula não tem ventilação adequada e nem espaço para o distanciamento físico.
Ethel Maciel deixa claro que o país está longe de uma reabertura segura hoje.

Segundo dados divulgados pela Fiocruz, o grau de transmissão é acima de 1, o que significa que 1000 infectadas transmitem o vírus para mais de outras 1000 pessoas. E quando falamos das escolas públicas e mesmo particulares – que não estão isentas de surtos virais, como vimos acontecer com a reabertura, em especial em grades estados e capitais, como tivemos em São Paulo e Brasil à fora – estamos falando de redes de ensino imensas, com milhões de estudantes, educadores e trabalhadores, além das comunidades escolares, como os familiares dos estudantes e todo o entorno das escolas.

Para o retorno das atividades presenciais é inevitável a vacinação de toda a população, tendo em vista que as novas variantes da covid vêm afetando cada vez mais os jovens. A política que o governo de São Paulo tenta implementar com o aval da APEOESP no estado, e de sindicatos como o SINPEEM no município de São Paulo, vacinando apenas uma pequena parte dos profissionais da educação e jogando a grande maioria aos leões, assim como todos os estudantes – que são a maioria esmagadora das redes de ensino – é uma medida extremamente limitada e insuficiente a partir das exigências básicas que fazem as comunidades escolares: de condições sanitárias para o retorno seguro, afinal, não aceitamos que deem continuidade às centenas de mortes de estudantes, trabalhadores da educação e terceirizadas do chão das escolas públicas de São Paulo, o que se mostra como uma realidade de todo o país.

Para isso é fundamental que o ângulo das entidades como os sindicatos já citados aqui, dirigidos pela CUT e CTB – as maiores centrais sindicais do país – rompam com seu imobilismo e paralisia e parem de atuar de fachada, desperdiçando propositalmente o potencial da classe trabalhadora brasileira e de categorias como a das trabalhadoras da educação, para se enfrentar diretamente com governos como Bruno Covas (PSDB), João Doria (PSDB), Jair Bolsonaro (sem partido) e Mourão (PRTB), que, apoiados em todo um regime golpista, diga-se de passagem, têm um objetivo em comum: nos fazer pagar pela profunda crise que vivemos e que foi agravada pela pandemia.

O PT e o PCdoB, à frente dessas centrais, cumprem, politicamente, um papel igualmente capitulador no Congresso, nos estados e municipais onde são governos. Buscam conciliar interesses inconciliáveis da classe trabalhadora junto aos partidos burgueses que viabilizaram todos os ataques contra os nossos direitos, escancarando sua grande estratégia: abrir caminho para eleição de Lula em 2022, perdoando os golpistas do impeachment e instituições como o Congresso, o STF, os militares, que de arbitrariedades com essa e da prisão de Lula sem provas, têm as mãos sujas de forma indiscutível e cada vez mais evidente.

Fica cada vez mais evidente que qualquer viragem no curso desse jogo, onde morremos aos milhares e perdemos cada um de nossos escassos direitos, só virá da nossa entrada em cena e, certamente, o papel das educadoras desse país nesse processo é indispensável. Atropelar a paralisia de grandes burocratas, como Bebel (APEOESP) e Claudio Fonseca (SINPEEM), da CUT e da CTB e derrotar a narrativa do golpe, levantando as demandas da nossa classe, como a vacina para todos, um auxílio emergencial suficiente, a revogação das reformas e grandes debates, como a necessidade de se construir uma Assembleia Constituinte livre e soberana, esses são os principais debates e inflexões que queremos fazer junto à nossa classe e ao conjunto da esquerda que defende uma perspectiva de independência de classe neste país, a fim de enfrentar narrativas como a que aponta a que, enquanto escrevemos esse texto, apenas na rede estadual de São Paulo, 51 vidas foram ceifadas pela irracional política de Doria, Covas e Bolsonaro.

 
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