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Arte e ditadura
Antonio Manuel: o artista que ficou nú no museu e afrontou a ditadura
Alice Caumo
Estudante de Artes Visuais na UFRGS

Antonio Manuel foi o artista que não se calou frente a censura. Participou dos massivos protestos que ocorriam contra a violência e a repressão ao lado dos estudantes e operários que se levantavam contra a ditadura militar. Ao ser censurado de apresentar seu próprio corpo como obra, tirou toda a sua roupa dentro de um museu em plena ditadura. A

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O Corpo é a Obra (1970)

Antonio Manuel foi o artista que não se calou frente a censura. Participou dos massivos protestos que ocorriam contra a violência e a repressão ao lado dos estudantes e operários que se levantavam contra a ditadura militar.

“Naqueles dias o meu corpo estava na linha de frente. Ele foi submetido à violência em protestos de rua e aos mecanismos de tortura utilizados pelo regime militar contra prisioneiros políticos. Pouco a pouco, comecei a perceber o corpo como o tema central para meu trabalho. Afinal, era meu corpo que estava nas ruas, exposto a tiroteios, tiros e pedradas durante os confrontos dos estudantes com a polícia. Então imaginei meu corpo como a obra de arte”.

Pensando nisso, inscreveu seu próprio corpo para o XIX Salão Nacional de Arte Moderna no MAM/RJ, assinalando seu peso e altura como medidas oficiais da obra. O júri negou a sua participação dando mil e uma desculpas: não era permitida a presença de um artista durante a deliberação do júri, não se sabia quem seria considerado o criador da obra (o que Antônio respondeu que seria seu pai) e o museu não possuía condições adequadas para abriga-lo até a abertura da exposição, muito menos alimentá-lo e mantê-lo até o dia do encerramento.

Mas isso não conteve a revolta do artista. A obra se realizaria independente do júri, da ditadura e da repressão. Na noite da abertura da exposição, ele se despiu e caminhou nu pelas obras de artes no museu. Vera Lúcia, modelo vivo da Escola Nacional de Belas-Artes que assistia à exposição, se sentiu profundamente inspirada e entusiasmada com a performance, e se despiu também, participando junto da obra.

O museu foi imediatamente interditado pela polícia e Antônio teve que fugir para a casa de Mário Pedrosa, que comentou que a performance era um “exercício experimental de liberdade”, e que depois seria usada para descrever as práticas artísticas que resistem ao mercado da arte - ações que não podem ser apropriadas como mercadorias pela sociedade consumista e capitalista. Conta que aquele era um grande exemplo da arte como um processo, uma proposta aberta ou uma situação a ser vivida e experimentada.

No dia seguinte a exposição foi fechada e a Comissão Nacional de Belas Artes vai recomendar ao Ministro da Educação (um militar) proibir que Manuel possa participar de qualquer Salão Oficial durante dois anos.

Retomar histórias como essa nos faz refletir quais heranças da ditadura perduram hoje. Em cada comemoração de Bolsonaro e Mourão, em cada censura e criminalização da arte, resgatemos o que havia de mais combativo e disruptivo nas histórias desses artistas que não se deixaram calar e levemos o seu forte legado de luta à frente!

 
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