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OPINIÃO
CINZA
Luiza Eineck
Estudante de Serviço Social na UnB
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Outro recorde. 3780. Quantos dias mais contando mortes? Sem testes, sem vacinas. Quantos dias mais vendo a grande maioria da população tendo que continuar indo ao trabalho e se contaminando enquanto alguns(pouquíssimos) ficam em casa? Isso em meio a política nojenta dos governadores que atuam sob pretexto de “lockdown” para “conter” a pandemia.

Um amigo questionou seu sentimento de raiva e dor, em um dia onde o céu estava tão lindo. Um cenário caótico que ofusca até a beleza do dia, da paisagem, da vida..como não? O dia mais ensolarado e sem nuvens se torna cinza.

Fiquei pensando nisso. Cinza. É uma cor esquisita, não? A descreveria como a cor dos ataques sistemáticos à juventude, aos trabalhadores e ao povo pobre. A cor de ter que ficar horas pedalando uma bike ganhando miséria sem nenhum direito. A cor de ser apenas uma escória para a Reitoria da universidade e receber marmitas com larvas, plástico e cabelo. A cor de ficar sentado horas ouvindo aulas massacrantes que não dialogam com a realidade. A cor de um sistema baseado na exploração e na opressão da maioria da sociedade para uma parcela ínfima (de parasitas) viver sua vidinha bilionária. A cor do entorpecimento dos trabalhadores.

Não aceitamos cinza. Enquanto não forem os trabalhadores que pintem, apreciem, fotografem e desfrutem plenamente dessa paisagem, desse mundo, não aceitaremos cinza. Enquanto Bolsonaro, os militares, os golpistas e o Centrão continuarem impondo o cinza, não aceitaremos.

A juventude historicamente nunca aceitou o cinza, na ditadura militar do Brasil, cujo golpe de 64 completa 57 anos amanhã, por exemplo, os estudantes incendiaram as ruas contra a ditadura imposta, o terrorismo do Estado e a cerceamento às liberdades democráticas. Principalmente, em 68, onde se abria internacionalmente um ciclo de revoluções, o sentimento na juventude era de que era um momento de mudança.

Esse sentimento pode estar mascarado agora, mas o papel incendiário que a juventude pode cumprir foi mostrado naqueles anos de combate, ainda que não decifrados até o fim. A esquerda segue cometendo os mesmos erros, tanto no movimento operário, quanto no estudantil(esse último só ganhando sentido aliado aos trabalhadores) até os dias de hoje. O processo de 68, assim como outros da ditadura, haviam embriões de uma nova estratégia - fios de continuidade das experiências mais avançadas da classe trabalhadora e do marxismo revolucionário -, que se a esquerda tivesse adotado um programa anticapitalista e com independência de classe, entendendo que os únicos que poderiam derrubar a ditadura, assim como todo o sistema capitalista, eram e são os trabalhadores, poderia ter tido um desfecho bem diferente e uma potencialidade muito maior.

Essa é uma das grandes lições deixadas para hoje, 57 anos depois, que a esquerda insiste em não enxergar e que o capitalismo adora. Precisamos começar a pintar as cores e os rumos do novo mundo, agora. Sem ilusões na conciliação de classe, uma saída dos trabalhadores, que transforme toda a raiva e dor em luta, que vingue todas as 3780 mortes diárias arrancadas pela ganância capitalista, que revogue todos os ataques, cortes e reformas descarregados sob as nossas costas, que imponha um programa emergencial, a quebra das patentes das vacinas e lute por uma nova constituinte livre e soberana que mude não apenas os jogadores, mas as regras desse jogo. Isso só é possível com a nossa organização independente, juventude, mulheres, negros e LGBTs aliados aos trabalhadores.

Só assim para enterrar de vez todos os resquícios da ditadura, como a Lei de Segurança Nacional, que prende e persegue os que nomeiam o ser que não pode ser nomeado, é com a força dos estudantes e trabalhadores que lutaram contra os militares que poderemos avançar para um mundo onde a única coisa cinza que restará serão as cinzas da combustão do velho mundo, sob elas ergueremos um novo, das mais variadas cores possíveis, e onde o céu voltará a ser azul.

 
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