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Aeroporto, da tragédia a farsa
Isabel Inês
São Paulo

Novamente com seus corredores vazios e vôos cancelados, o aeroporto parece reviver a mesma história de um ano atrás. Contudo dessa vez além da tragédia humana e social, há também a “farsa” de que o que ocorre é inevitável, de que as demissões, cortes de salários e benefícios não poderiam ter sido evitados, e o que resta agora é a apreensão de quando ocorrerão os novos ataques.

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Contudo há responsáveis por essa situação, e é preciso nomeá-los, as direções sindicais desde 2020 atuaram no sentido de garantir que não houvesse organização e resistência da categoria, para fazer valer o discurso e a política das empresas. Essa orientação dos sindicatos explica o fato de se repetir o mesmo drama social onde somado ao medo da pandemia, os funcionários vivem o medo da demissão e do rebaixamento das condições de vida.

Inclusive as expressões de luta que tiveram, a direção sindical de aeroviários da CUT fez todo possível para isolar e impedir que se transformasse em exemplo e um rastilho de pólvora para os funcionários de outras empresas e setores no aeroporto. Que foi o processo de paralisação e luta contra as demissões dos DOT da LATAM, que conseguiu impactar uma dezena de vôos e mostrou a força em potencial da categoria.

Dessa forma, não é que “brasileiro não luta”, é que existem direções e orientações políticas que fazem de tudo para impedir que a massa gigantesca de trabalhadores no Brasil se revolte e se coloquem como sujeito para resolver a crise nacional. A somatória entre a democracia burguesa parlamentar, direções burocráticas e traidoras nos sindicatos e movimentos sociais e identitários que buscam separar as pautas democráticas da luta de classes, é, em resumo, a articulação “perfeita” para o estado burguês estender sua influencia sob a sociedade civil e disciplinar o movimento operário, conseguindo manter o consenso, apesar de vermos diariamente tanta barbaridade.

Assim, as expectativas políticas da sociedade se canalizam nas eleições, atualmente no debate sobre a possível candidatura do Lula, que só é compreensível dentro desse regime que se consolidou em cima do golpe e de instituições autoritárias – judiciário e exercito – justamente porque a crise no Brasil é tão profunda, e o odioso governo Bolsonaro vem mostrando a falência do regime burguês, que essa mesma classe precisa buscar alternativas que contenham possíveis revoltas populares, retomando o PT como alternativa. Contudo os problemas que vivemos hoje não será resolvidos em 2022, além de que esperar já é em si um absurdo, como tão pouco a política petista é capaz de dar uma resposta a crise capitalista, que se intensificou com a pandemia, mas que já existia antes dela.

Não por acaso Lula não falou nada sobre reverter os ataques, a reforma da previdência e trabalhista (que inclusive foi em base dela que conseguiram implementar na pandemia a redução salarial, demissões, tirada de vale refeição e expansão do trabalho intermitente, precário e sem carteira assinada).

Se são os próprios trabalhadores que produzem as vacinas, o respiradores, e todos insumos para combater o COVID-19, se são quem produzem alimentos, quem transportam e fazem a logística da produção nacional escoar, são quem esta na linha de frente nos hospitais, então porque não são quem fazem a política diária no país? Quem define as leis e medidas, de combate ao COVID, mas também de toda a organização social. Porque seguem fechando fabricas e demitindo pessoas se poderiam estar produzindo respiradores, leitos e etc? ou porque diminuem as linhas de transporte quando mais precisamos de transportes vazios? A aviação poderia agilizar o transporte de alimentos, e insumos, enfim, pensar como se organiza a sociedade, para quais objetivos são empregues as riquezas produzidas é fazer política. Isso nas mãos do governo e das empresas serve apenas para enriquecimento próprio enquanto milhares de pessoas morrem, nas mãos dos trabalhadores poderia estar a serviço de garantir uma vida digna a todos.

Ao contrario de qualquer possível visão utópica desses grandes objetivos, é cada vez mais uma necessidade vital da humanidade, de acabar com o capitalismo que tanto degrada a natureza, a vida e que mostra sua falência a não ser capaz de responder a uma pandemia. Como diria Mario Quintana “Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... que triste os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas!”

Qual ligação entre exigir que as centrais sindicais se mobilizem com impor uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana?

Exigir que as centrais sindicais se mobilizem e organize os trabalhadores para resistir as demissões e impor um plano de emergência contra a pandemia, é parte de fazer os trabalhadores e a população que mais esta sofrendo com a crise, se tornarem sujeitos políticos e mostrarem sua força. Nesse processo impor pela luta uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que possa eleger seus delegados e debater sobre os rumos de tudo. É a instancia mais democrática que podemos chegar no regime burguês, dando voz as vontades de toda população explorada e oprimida, mediante a luta e a organização desses setores, que são os mais afetados pela crise.
Isso significa tirar a condução do país das mãos de Bolsonaro, eleito em um processo manipulado e fraudulento, que precisou tirar a elegibilidade de Lula de forma arbitrária, dos governadores que atuam em conjunto contra Bolsonaro, mas que nada garantem como medidas reais e preventivas contra a pandemia, e do judiciário e militares, que nunca foram sequer eleitos.

Uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, imposta pela luta, seria uma saída independente de todas as alas desse regime golpista, que permitiria ao povo desfazer todos os ataques e reformas impostas desde o golpe, e debater e decidir sobre medidas para atacar todos os problemas sentidos pela maioria do povo. No decorrer desse processo político os trabalhadores se enfrentarão com os limites da própria democracia capitalista, que é incapaz de dar vazão à soluções mais profundas dos problemas da nossa classe, levando a conclusão da necessidade da construção de um governo de trabalhadores de ruptura com o capitalismo.

Voltando ao cenário do aeroporto, o motivo de ter sido tão importante para as direções sindicais no aeroporto ter permitido que os ataques passassem sem luta foi justamente para desmoralizar e fazer com que cada funcionário não acredite na própria força social. Impor derrotas sem lutas, para que não surgisse nenhum exemplo de como resistir. Essa é a farsa que impõe vivermos uma repetição de 2020, parecer que estamos reféns de uma situação, quando não é verdade, é possível resistir e ter um plano para vencer.

 
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