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ANÁLISE
Como a crise econômica deteriora imagens de Bolsonaro e dos governadores?
Matias Aires

As sucessivas quedas dos índices econômicos vão cobrando seu preço sobre o governo na opinião da população, agravada pelas misérias da pandemia e da crise capitalista.

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Segundo pesquisa Datafolha, dois em cada três brasileiros dizem que a situação econômica do país vai piorar, percentual recorde registrado. De acordo com o levantamento, em dezembro, 41% dos brasileiros tinham essa expectativa. Agora, são 65%, aumento de 24%.

No sentido inverso, caiu de 28% para 11% o percentual daqueles que esperam uma melhora no cenário econômico, segundo o levantamento realizado nos dias 15 e 16 de março.

O recorde negativo anterior da série de pesquisas com essa pergunta, iniciada em 1997, eram os 60% registrados em março de 2015, durante a recessão iniciada no governo Dilma Rousseff (PT).

O pessimismo é maior entre as mulheres (71%) do que entre os homens (59%); no Sul (68%) e Sudeste e Nordeste (66%) é maior do que no Norte/Centro-Oeste (59%). A expectativa de piora chega a 72% entre os desempregados e a 69% entre os funcionários públicos. Fica em 65% entre as pessoas com renda familiar de até dois salários mínimos e sobe para 67% entre os com renda superior a dez salários. Atinge 67% entre os que receberam auxílio emergencial em 2020 e cai para 64% entre os que não pediram o benefício.

Esse pessimismo sobre a economia tem seus correlatos regionais na própria aprovação do governo. Nas capitais com maior taxa de urbanização o governo derrapa, mas nos interiores das regiões o governo tem melhor aprovação. Assim, a divisão entre grandes centros e os interiores jogam um papel importante, na medida em que a densidade demográfica das capitais distorce em certa medida os dados. Por exemplo, o governo possui uma base mais sólida no Norte e no Centro-Oeste (em que a vida cotidiana é mais influenciada pelo agronegócio, setor patronal que é férreo defensor de Bolsonaro).

Entre aqueles que acham que a situação do país vai melhorar, os maiores percentuais estão entre estudantes (18%) e empresários (17%), moradores do Norte/Centro-Oeste (14%), que dizem não ter medo do coronavírus (17%) e/ou que avaliam o presidente como ótimo/bom (18%).

A crise econômica brasileira não é novidade. O PIB caiu 4,1% em 2020, o pior resultado em 24 anos. Pela primeira vez mais da metade da população economicamente ativa não tem trabalho, com 14 milhões de desempregados. A renda dos brasileiros encolheu 5,5% nos últimos dez anos; a queda no PIB per capita na década 2011-2020 é mais intensa que no período 1981-1990, a famosa “década perdida”. O resultado é que a economia brasileira saiu das 10 principais do mundo, estando em 12º lugar, com projeção de queda para 14º em 2021. A crise econômica tem impacto ainda maior com a pandemia, o aumento dos preços dos alimentos e os ataques à Petrobras, com aumentos nos preços da gasolina, do botijão de gás e do diesel.

Notoriamente, duas regiões brasileiras conseguiram escapar de uma contração econômica em 2020: Norte e do Centro-Oeste. As duas cresceram, respectivamente, 0,4% e 0,2% no ano passado, segundo o Banco Central (BC). São as regiões em que o governo sustenta bons índices, e o núcleo do agronegócio exportador que sustenta a economia brasileira (que teve aumento de 2%, diante da queda da indústria de -3,5%, da construção civil em -7%, e dos serviços em -4,5%, em 2020).

Nordeste, Sul e Sudeste não escaparam da recessão, mesmo tendo apresentado certa recuperação no segundo semestre de 2020. Segundo o BC, o Nordeste caiu 2,1% em 2020 por conta da contração dos serviços; o Sul também recuou 2,1% porque sofreu com quebras de safra e a redução da atividade industrial; e o Sudeste desabou 1,3% por também ter sido afetado negativamente por esses fatores, embora tenha se beneficiado da alta dos serviços financeiros e da produção de alimentos.

Eis aí um fator para se levar em conta na divisão regional dos humores políticos. Mas a questão central é entender como estão os setores mais precarizados da classe trabalhadora, urbana e rural, e o segmento mais golpeado pela pandemia no interior dos pequenos comerciantes (a pequena burguesia).

Bolsonaro tem especial atenção no pequeno comércio, influenciado pela grandes cadeias varejistas e a patronal organizada ao redor do CDL, que teve peso nos atos pró-governo no 14/3. O aumento dos preços e o incremento do desemprego motorizam o mal-estar diante do panorama econômico. Bolsonaro não reverterá nada nessa esfera, a crise econômica mundial é inclemente com o atrasado capitalismo brasileiro há mais de 10 anos. É no efeito de determinados paliativos (como o perdão das dívidas dos pequenos devedores, a nova rodada do absolutamente insuficiente auxílio emergencial – de R$175 a R$375 – entre outras) que Bolsonaro aposta suas fichas. Qual efeito terão? enquanto se alia a todo o regime golpista para seguir passando ataques como a PEC Emergencial (que potencialmente congela os salários do funcionalismo até 2036), a autonomia do Banco Central, etc. (reformas que lhe ganham o aplauso do mercado finaneiro, que como de hábito está se lixando para as mortes da população pobre e trabalhadora).

Uma coisa deve ficar clara: Bolsonaro não é o único responsável pela catástrofe econômica e sanitária. O sujeito oculto nessa equação são as instituições do golpe institucional, em primeiro lugar os governadores, o STF, os militares e o parlamentares. Os governadores (inclusive os do PT no Nordeste) administram a catástrofe sanitária e os privilégios dos empresários no incremento do desemprego. Aplicam nos seus Estados os dispositivos das reformas trabalhista e da previdência, avançados pelo togados do Judiciário brasileiro e pelos parlamentares no Congresso. O Supremo Tribunal Federal, em especial, foi o pilar do golpe institucional de 2016 e das manobras autoritárias realizadas junto à Lava Jato desde então, que tinham como objetivo franquear setores estratégicos da economia às multinacionais estrangeiras.

Ou alguém esqueceu a aprovação da terceirização generalizada do trabalho pelo STF, em 2018? O próprio ministro Dias Toffoli chefiou a votação que autorizou a venda das subsidiárias das estatais, ao gosto do governo (o que permitiu a entrega de 90% da Transportadora Associada de Gás, TAG, que era da Petrobras). Ainda mais entusiasmante para Bolsonaro foi a autorização, também pelo STF, agora sob a batuta do lavajatista Luiz Fux, para a venda das refinarias da Petrobras.

Governadores, juízes, militares parlamentares: são todos responsáveis junto ao governo pela fome e desemprego de milhões, e fazem isso conscientemente em meio aos momentos mais duros da pandemia.

Diante disso, para o PT não se trata de combater o regime do golpe, mas de conseguir seu lugar nele. Por que a crítica de Lula a Sérgio Moro não se estende à obra econômica do golpe, que foi forjada por Moro? Por que não fala nada sobre a necessária revogação das reformas trabalhista e da previdência? Por que se cala diante da absoluta paralisia da burocracia sindical petista, parafusada nas poltronas da CUT, que mesmo dirigindo milhões de trabalhadores não os organiza contra os ataques econômicos de todo o regime golpista, que inclui Bolsonaro, os congressistas, o STF, os governadores? Talvez porque a própria burocracia sindical ligada ao Centrão (como a Força Sindical e a CTB) acenam para Lula como melhor candidato para unificar “a esquerda, o centro e até a centro-direita” numa frente ampla com os velhos aliados que briram caminho a Bolsonaro em 2018...

A CUT e a CTB devem sair da trégua que deram aos golpistas, e usar o aparato dos sindicatos que dirigem a serviço das lutas. As baixas expectativas sobre a melhora da economia são um indício de que as mazelas econômica massacram agora mesmo a população. Há que lutar contra elas agora, e não esperar até 2022. A luta pela restituição dos direitos de Lula deve estar combinada com a luta contra todos os ataques e o questionamento a todo esse podre regime político.

Essa batalha exige um programa emergencial contra a crise sanitária que ataque os capitalistas (ver aqui) e envolve para nós a imposição pela luta de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana como saída independente de todas as alas desse regime golpista, que permita ao povo desfazer todos os ataques e reformas impostas desde o golpe, e decidir sobre medidas para atacar todos os problemas sentidos pela maioria do povo.

 
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