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DEMAGOGIA NO COMBATE À PANDEMIA
O que estaria nos bastidores das pressões sobre Pazuello?
Yuri Capadócia

Pazuello corre risco iminente de ser descartado por Bolsonaro. Será sacrificado justamente por demonstrar a máxima servidão à política negacionista e assassina do presidente, que agora em seus cálculos políticos para 2022 precisa pôr a vaga do ministério disponível ao Centrão além de dar um cavalo de pau na política de imunização.

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FOTO: CAROLINA ANTUNES/PR

Em 15 de maio, quando o general Pazuello assumiu o ministério da Saúde, o país registrava 15 mil mortos pela covid-19, 10 meses depois atingimos a pavorosa marca de 280 mil mortos. Nesse percurso Pazuello protagonizou trapalhadas grotescas, demonstrou uma servilidade humilhante e o máximo compromisso com a política criminosa e assassina de Bolsonaro. Alguns episódios de sua gestão serão marcos indeléveis da incompetência das Forças Armadas, como quando enviou um avião a India para buscar vacinas que voltou vazio após o governo indiano dizer que nada havia sido combinado, quando o ministério da saúde confundiu o Amapá com Amazonas e enviou por engano 76 mil doses de vacinas para o outro estado, quando firmou a compra da vacina coronavac do rival Doria e teve que voltar imediatamente atrás após bronca de seu chefe, mas o episódio mais brutal foi quando mesmo após ser informado com antecedência da catastrófica falta de oxigênio em Manaus, ele visitou a cidade defendendo o uso da cloroquina e do tratamento precoce como solução.

Veja: Fingindo preocupação com pandemia, Bolsonaro avalia retirar Pazuello após 278 mil mortes

Se a questão fosse a incompetência, Pazuello já havia dado todos os motivos para ser demitido muito antes. No cargo, o general, além da obediência canina a Bolsonaro, oferece também a vantagem de servir como para-raios sendo o responsável direto pela catastrófica gestão da pandemia, como na CPI que apura sua responsabilidade em relação a tragédia em Manaus, quando a negligência assassina não foi só dele, mas de todo governo federal, além do próprio governo estadual com o bolsonarista governador Wilson Lima à frente. Desde a eleição do Congresso em que o Centrão saiu vitorioso já era ventilada como uma das moedas de trocas para a compra do bloco a disponibilidade do cargo do ministério da saúde, além de outros como parte de uma reforma ministerial. Ainda assim, Bolsonaro não havia avançado nessa direção, porém nesse final de semana segundo informações da repórter Andreia Sadi, ele entrevistou uma médica para o cargo, Ludhmila Hajjar indicação do presidente da Câmara Arthur Lira (PP).

Assim como na mudança de postura do governo com a pandemia, com o presidente passando a utilizar máscara em coletivas de imprensa e adotando um discurso pró-vacinação declarando que a “vacina é a nossa arma”, essa guinada vem após o reabilitamento dos direitos políticos de Lula e sua entrada como competidor para 2022. Fator que pesa no cálculo político de Bolsonaro e do Centrão, que segundo relatos da imprensa burguesa já se divide nas perspectivas de quem apoiar para 2022, após um discurso de “Lula paz e amor” sinalizar muitos acenos para o bloco. Nesse cálculo a cotação do Centrão sobe e Bolsonaro precisa logo pagar.

A única dificuldade parece ser em torno do nome para bater o martelo. Bolsonaro adoraria um nome técnico que desse credibilidade para esse surto de sensatez, mas que nome técnico conseguiria suportar o peso de ancorar o negacionismo do presidente, que ainda que gire para um discurso pró vacina, seguirá fazendo o antagonismo em relação às medidas restritivas e defendendo “tratamentos precoces”. Esse é o obstáculo colocado contra a candidata entrevistada, que já criticou a cloroquina e a condução geral do governo. Por isso, outros nomes mais políticos, e diretamente ligados ao centrão - todos do PP - são também cogitados, como Ricardo Barros (PP-PR), Hiran Gonçalves (PP-RR) ou de seu amigo pessoal Dr. Luizinho (PP-RJ).

Essa nova investida do centrão sob o governo Bolsonaro mostra as fissuras na base de aliança do governo. O centrão poderá pressionar por ainda mais cargos ocupados por militares e nomes ligados ao bolsonarismo, como nas pastas da Ministério da Educação, Ministério de Relações Exteriores, Minas e Energia — além da "cozinha" do Planalto, como Casa Civil e a própria Secretaria de Governo. Resta saber o quanto esse movimento conta com a anuência ou não dos generais do governo, pois os militares desejam em certa medida se desassociar do crescente rechaço que vai ganhando o governo Bolsonaro, além de terem participado das negociações com o centrão na figura do General Ramos, principal articulador da entrega de emendas e de cargos.

Frente a fissura na base aliada do governo, a política da oposição é disputar esses setores, estendendo o perdão para os mesmos golpistas do centrão que deram suporte a política negacionista e de ataques de Bolsonaro, mirando 2022. Não temos tempo para esperar 2022, é preciso enfrentar todo o regime do golpe, sem ilusões de que um indicado do centrão dará uma saída melhor para a crise sanitária do que os militares demonstraram até agora. Governadores e prefeitos de todo o país mostram também seu fracasso diante da pandemia. Cabe aos trabalhadores impor um programa para a crise sanitária e econômica que segue se agravando no país, por vacinas para todos, testagem massiva, liberação remunerada de todos os setores não-essenciais, comissões de higiene em cada local de trabalho, unificação dos sistemas público e privado de saúde, além de um auxílio emergencial de pelo menos um salário mínimo e congelamento do preço dos alimentos. Para isso, as centrais sindicais como a CUT e a CTB, dirigidas pelo PT e pelo PCdoB, devem deixar sua paralisia e organizar essa luta.

Leia Mais: Pressão sobre Pazuello revela fissuras no governo, é preciso enfrentar todo o regime golpista

 
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