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Mortes aumentam mas patronais da educação seguem ignorando a saúde de educadores
Redação

Enquanto aumentam as mortes por COVID-19 pelo país, nas escolas privadas, que representam alguns dos mais ricos do país, subestimam as mortes e mantem em risco educadores, que seguem indo às escolas e arriscando suas vidas em nome dos lucros.

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Mais uma vez o Brasil atingiu o recorde de mortes por COVID em 24 horas, dessa vez com 1976 mortes registradas. Já se sabe que esses números são bastante subestimados, já que há poucos testes disponíveis e muitas pessoas acabam morrendo sem qualquer tipo de diagnóstico.

Não é uma coincidência que esses números aumentem logo após exatas 4 semanas da reabertura insegura das escolas. Imediatamente do anúncio da reabertura, diversos docentes denunciaram os riscos aos quais a comunidade e o corpo de educadores - de professores a trabalhadores da limpeza - estariam expostos, já que as medidas sanitárias necessárias seriam dificilmente garantidas dentro das escolas, em especial as públicas ou privadas de pequeno porte. Duas professoras relataram que inclusive em escolas grandes, com muito lucro, mesmo em salas com alunos com casos confirmados de contaminação, apenas estudantes são afastados, enquanto o corpo docente e funcionários seguem indo trabalhar normalmente, na maior parte das vezes sem condições de pagar pelo seu próprio teste, que em algumas regiões podem custar mais de R$300 quando não há sintomas.

Uma professora de Geografia de 30 anos, funcionária de uma escola de grande porte e que não quis se identificar, disse que "existe uma manipulação dos dados de contaminação no ambiente escolar. Se diz que há poucas contaminações nas nossas escolas, mas não fazem testagem massiva. Com certeza se testes fossem feitos seria possível identificar a escola como um centro de contaminação intenso". E acrescentou: "se você pensa só pela ótica de escola de grande porte, se cria uma falsa segurança de que os protocolos são seguidos e que o grupo de risco está protegido em casa, mas isso já não é verdade nas pequenas escolas. Tenho muitas colegas que estão indo ao trabalho porque são professoras em escolas pequenas."

Enquanto hoje os professores municipais de São Paulo seguem em greve, exigindo que a volta seja segura, com recursos de proteção, testes massivos e contratação de todo o quadro de trabalhadores de limpeza - que em muitas escolas foram demitidos - os professores da rede privada enfrentam a gana de lucro de suas patronais, que mesmo com dinheiro no bolso, ignoram as recomendações sanitárias, forçam funcionários ao trabalho mesmo com comorbidades e atuam contra o direito de livre organização e greve da categoria.

"Na minha escola ao invés de termos direito de greve, a coordenação implementou uma espécie de comissão de docentes para direcionarmos reclamações, mas nós não votamos nenhum membro, foram todos indicados pela chefia", conta a professora de inglês do ensino fundamental. "Os professores querem se mobilizar, mas não tem qualquer garantia de que não vamos perder nosso emprego. Quase todo mundo conhece alguém que foi demitido depois de fazer greve, principalmente nas escolas mais ricas", conta ela, que passou o último semestre desempregada. "A escola que eu estava antes alegou que não tinha mais verba pra pagar nosso salário, mas lucrou por mais de 18 anos seguidos, sem nenhum ano ruim. Me demitiram e a vários outros colegas depois que questionamos a intenção da chefia de voltar às aulas no final de julho".

Muitas patronais alegam que fecharam os portões mas continuam com aulas regulares e presenciais no Ensino Infantil e Fundamental 1, fechando apenas as aulas que já estavam vazias pela vontade das famílias dos alunos. Ou seja, o que querem os educadores não importa, importa apenas a ameaça de cancelamento de matrículas. Algumas direções trabalham em cima da humilhação dos docentes, como conta a assistente de ensino fundamental 2: "a diretora na reunião disse que as pessoas com comorbidades não precisavam voltar, mas tirou sarro dizendo que ’tem comorbidades que já deviam ter sido resolvidas, né?’, se referindo à obesidade de alguns colegas. Senti nojo disso."

Da justiça já saíram duas liminares que exigem o fechamento das escolas, mas são liminares de faixada. O objetivo delas é parecer que a justiça atua como aliados, mas não há qualquer interesse ou esforço real de controlar todos os problemas por trás da abertura das escolas, que passam por enfrentar não apenas a abertura ou não do portão, mas as condições de tragédia social, sanitária e econômica que forçam famílias a mandarem seus filhos pra escola mesmo nessa situação. Faltam auxílios emergenciais dignos para viver, falta liberação remunerada e sobra desemprego e dupla jornada.

É preciso que se unifiquem as categorias da educação em defesa de um retorno seguro, o que passa por vacina pra todos, testes massivos, verba para todos os protocolos sanitários, contratação de professores e assistentes para garantir salas menos cheias e também de funcionários de limpeza e alimentação, para garantir as medidas sanitárias na escola e a alimentação adequada de todo o corpo de funcionários e de alunos para fortalecer o organismo frente à possível contaminação. Entretanto, é preciso dizer: enquanto os lucros ditarem os rumos da educação, nossas vidas sempre valerão menos. A pandemia deve reafirmar a necessidade de que toda a enorme categoria docente, do ensino público e privado, lutem pela estatização de todo o ensino básico, porque educação não é mercadoria.

 
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