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O machismo nos aeroportos e nosso feminismo socialista
Joana Garibaldi - Trabalhadora aeroviária de São Paulo
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Entre a realização de um embarque e outro, ouvi o grito de um passageiro “ow menina vem aqui”, não fui. E lá estava ele me seguindo e gritando, obrigando meu sangue a ferver nas veias e me virar no mesmo tom, dizendo “você nunca mais vai gritar com uma funcionária, não sou menina” e sai. A cara de choque dele foi proporcional ao fato de talvez nunca imaginar uma mulher, terceirizada o fazendo se calar.

E o que pode esse sentimento de mulheres que não abaixam a cabeça no movimento operário? Quantas insubordinações e enfrentamentos com a patronal, com as burocracias sindicais e com cada expressão de machismo poderiam ocorrer? E qual seria o limite? Questões que podem parecer até abstratas, mas demonstram como a imposição do patriarcado pelo capitalismo – e em particular pela extrema direita – e toda a ofensiva castradora e machista é imposta para submeter todas as mulheres, mas em particular para disciplinar o movimento operário.

Para ilustrar o que quero dizer, tomo meu local de trabalho, o aeroporto como exemplo. Uma imensa concentração operária que envolve serviços, logística e uma linha de produção de vôos quase que “fabril” cronometrada no relógio, contudo extremamente fragmentada em diversas empresas terceirizadas, além das companhias aéreas e as divisões internas entre os que trabalham em solo e os que voam, essa divisão que é sentida diariamente, onde seu valor é medido pelo seu uniforme, é uma definição chave para entender como as patronais dos aeroportos conseguem manter a passividade e impedir processos de luta entre os trabalhadores.

Dessa forma o machismo é um fiel aliado das empresas em impedir que essa enorme massa de trabalhadores se vejam como uma classe única, independente do sexo, cor e uniforme. Além da marcada distinção sexual das funções, onde as funcionárias da limpeza são na maioria mulheres e negras, assim como as atendentes dos restaurantes. Há também o machismo do padrão, onde as mulheres que mais se enquadram ficam nas posições de atendimento, sendo comum tipos de assédio e desrespeito vindo dos passageiros, sem contar os gritos e agressões verbais que ocorrem principalmente contra as mulheres.

Por essa via a patronal busca dividir mais a classe trabalhadora, aumentar a competição entre funcionários homens e mulheres, e principalmente entre as mulheres. Sem contar o corriqueiro machismo que existe quando uma funcionária muda de setor ou tem alguma promoção e logo se ouve os outros dizendo que ela “saía com o chefe”. Se por um lado se divide incentivando o machismo, por outro também há toda uma campanha ideológica de um feminismo empresarial e liberal que na proporção inversa também contribuiu para essa divisão, ao tratar do machismo e do patriarcado quase como uma cultura inerente ao sexo masculino, apontando assim saídas individualistas de crescimento profissional ou um empoderamento de classe média, daquelas mulheres que tem condições materiais para uma restrita emancipação parcial.

Contudo qualquer perspectiva individual permite que se mantenha de pé essa engrenagem elaborada entre patriarcado e capitalismo. Por isso o patriarcado não pode ser derrubado sem que se lute também contra as bases materiais que o sustenta. A pandemia potencializou o machismo, tanto no aspecto da violência doméstica, como na degradação das condições de vida, as demissões, como vimos aos milhares nos aeroportos.

A degradação social somada a maior precarização do trabalho poderia levar a explodir lutas de descontentamento, para impedir esse cenário a divisão dos trabalhadores e as burocracias sindicais atuam incentivando a desmoralização, e a suposta falta de alternativa. Já foram tirados diversos direitos da classe trabalhadora, e o governo Bolsonaro junto as patronais seguem aproveitando da pandemia para atacarem mais, nesse ponto as mulheres podem cumprir de organizar todo esse ódio e descontentamento em chave de luta contra o regime golpista que vivemos e as patronais.

Isso porque “quem mais luta pelo novo são os que mais sofrem com o velho”, e o nível de sofrimento social só vem aumentando, somada às mortes pelo Corona vírus. E assim, termino voltando ao inicio, se a idéia do feminismo colocou para as mulheres que elas não vão mais abaixar a cabeça, que são fortes, independentes e lutadoras, no movimento operário esse sentimento disruptivo de ódio ao patriarcado pode e deve se expressar como combate as burocracias sindicais, para romper a passividade e mostrar como é possível os trabalhadores darem uma saída racional a crise.

 
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