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Opinião
Trabalhadores árabes e o Imperialismo de Biden
Vinícius de Oliveira

“Estados Unidos bombardeiam alvos no Oriente Médio” - a qual governo norte-americano se refere essa frase? Bush? Obama? Trump? Biden? Todas as alternativas? As diferenças entre esses governos podem se dar no campo da demagogia, mas nas ações concretas de todos há uma coisa em comum: o imperialismo.

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Recentemente o mundo recebeu uma notícia que não veio exatamente para chocar ninguém, mas sim para confirmar uma tendência que já se desenhava no último período. O governo de Joe Biden ordenou seu primeiro bombardeio no Oriente Médio, dessa vez na Síria. O ataque se deu supostamente com uma resposta a um bombardeio de bases americanas no Iraque no começo do ano. O ataque foi feito a um edifício militar que pertence a milícias sírias apoiadas pelo Irã.

O governo Biden, com essa sua primeira intervenção imperialista na Síria, mostra que a que de fato veio fazer: expandir o domínio imperialista ianque ao redor do mundo. Isso não se disfarça com a demagogia vazia do democrata com a falsa representatividade em seu alto escalão com Kamala Harris ou com Lloyd Austin, que foi responsável por ajudar a liderar a invasão no Iraque e supervisionar as operações na Síria; e com certeza não está entre as aspirações dos manifestantes do maior levante da história dos Estados Unidos, o Black Lives Matter, que no ano passado rompeu com toda a passividade da pandemia e se lançou às ruas exigindo justiça por George Floyd e o fim da polícia racista. Bombardeios em países estrangeiros tampouco estão entre as demandas de milhares de trabalhadores da Amazon que lutam por sua sindicalização, ou dos professores que se opõem às reaberturas inseguras das escolas.

O país alvo desse ataque, a Síria, se encontra numa guerra civil sem fim há 10 anos. O conflito se iniciou com reivindicações legítimas da população síria, no contexto da Primavera Árabe. Tão logo o regime de Bashar al-Assad foi ameaçado pelos manifestantes, o presidente abriu mão da repressão com as forças armadas do país sobre a população. O conflito rapidamente escalou para um conflito armado, e os países imperialistas como EUA e UE rapidamente se colocaram a serviço dos rebeldes sob o pretexto de ajudar a resolver a crise humanitária, mas na verdade desejam apenas expandir sua influência imperialista na região, já que o governo de al-Assad é apoiado por adversários do ocidente, como a Rússia e o Irã. A guerra até agora já deixou quase 400.000 mortos e 11 milhões de refugiados.

Biden em relação ao Oriente Médio, segue numa linha que seus antecessores já caminhavam, inclusive Trump, de quem tentou de todas as formas se diferenciar. Prova de que não haverá uma mudança substancial é que ele manteve a embaixada dos EUA em Jerusalém, alinhando-se assim com a decisão de Trump de mover a embaixada para a cidade. O Estado de Israel, inclusive, neste mês lançou mísseis contra a Síria, como um fiel bastião do imperialismo na região.

Israel porém, não se limita a tomar ações militares contra os seus vizinhos, mas também aplica um verdadeiro apartheid ao dificultar o acesso dos palestinos da Faixa de Gaza à vacinação contra o covid-19 enquanto isralenses são vacinados de forma exemplar. O governo israelense chegou cinicamente a dizer que a vacinação na Faixa de Gaza deve ser de responsabilidade da Autoridade Palestina, ignorando completamente o fato de que o território é totalmente cercado por território de Israel. Demagogicamente também foram vacinados palestinos que trabalham em Israel, com o objetivo de proteger os próprios israelenses, não como uma forma de garantir aos 2 milhões de palestinos a imunização.

Entretanto, apesar de todas essas questões, e que o novo governo norte-americano aponta a uma posição de continuar apoiando o enclave sionista de Israel, os trabalhadores do Oriente Médio não se mostram derrotados. No ano passado, no Líbano, após uma enorme explosão no porto de Beirut, os trabalhadores saíram às ruas protestando contra o desemprego e a crise econômica com alta inflação, e o governo teve que renunciar para conter a fúria que a população expressava. Na Tunísia também houveram protestosapós um vídeo de um policial agredindo um pastor viralizar, e o governo teve de decretar um toque de recolher para impedir que a insatisfação com o ato se unisse às homenagens ao décimo aniversário da Primavera Árabe, que teve início no país. No Irã, recentemente houve uma onda de protestos onde os manifestantes, revoltados com o fuzilamento de baluchis que fazem transporte de combustível na fronteira com o Paquistão, invadiram a sede do governo local e postos militares.

Já sabemos que a postura do ocidente em relação ao Oriente Médio continuará fundamentalmente a mesma, ou seja, bombardeios, ameaças, venda de armamentos, e por aí vai; mas a crise do coronavírus é um fator novo. Por enquanto a pandemia tem atuado como uma represa, segurando e acumulando forças atrás de suas paredes. Com o fim dela, ou até mesmo antes, é possível que a luta de classes volte com grande força mundialmente, e nos países árabes isso não é exceção. Para que triunfe a classe trabalhadora árabe é necessário que sua força seja canalizada contra o regime capitalista, mas isso é fácil de escapar haja visto tantas forças políticas que se apresentam na região: tropas americanas, europeias, influência russa, milícias locais pró imperialistas, a própria burguesia local. É um grande desafio a construção de um partido que possa guiar essa massa de trabalhadores atacados por tantos lados. A Primavera Árabe foi uma primeira experiência importante, e mesmo com seus limites, expressou a força da classe trabalhadora do Oriente Médio. Com a organização partidária necessária e com uma orientação internacionalista, é possível que a continuação desse evento, 10 anos depois, venha a ser um novo exemplo para os trabalhadores do mundo todo.

 
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