A crise econômica, impulsionada pela crise sanitária da COVID-19, vem impactando profundamente as relações sociais no mundo inteiro, e um dos setores da sociedade mais atingidos vem sendo as mulheres.
Segundo o relatório, a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho em 2020 foi de 46%, uma queda de 6% em relação ao ano anterior. Enquanto a dos homens também caiu significativamente, de 73,6% para 69%.
Ser mulher e mãe no capitalismo, principalmente com o agravamento da crise, significa ter que cumprir jornadas duplas ou triplas, sobrecarregadas com as tarefas domésticas, ameaçadas constantemente no trabalho por estarem nos empregos mais precários, mais instáveis e mais degradantes.
Com a queda do PIB da região (de -7,7%) em 2020 em decorrência da crise sanitária, vários dos setores da economia mais atingidos são aqueles em que predominam a participação das mulheres. De acordo com o estudo, as restrições à mobilidade, inclusive com o fechamento das fronteiras, a queda do comércio internacional e a paralisação de várias atividades consideradas não essenciais impactam fortemente as mulheres, que são grande parte dos setores do comércio, do turismo e da manufatura, por exemplo.
Segundo o relatório, 56,9% das mulheres na América Latina e 54,3% no Caribe estão ocupadas nesses setores atingidos em cheio pela pandemia. O setor de turismo, em que 61,5% dos postos de trabalho são ocupados por mulheres, sofreu uma contração significativa, principalmente nos países do Caribe, onde 1 em cada 10 mulheres ocupadas trabalham nesse setor.
Outro setor altamente feminino e precário é o trabalho doméstico remunerado, que em 2019 91,5% eram mulheres. Em vários países da região mostrou-se uma queda gigantesca nos níveis de ocupação do setor. Aqui no Brasil, país com uma herança escravagista gritante e que possui um verdadeiro exército de empregadas domésticas, essa queda se fez sentir de forma muito dura para as mulheres, principalmente as mulheres negras.
Por outro lado, as mulheres também são maioria absoluta e linha de frente no combate ao COVID-19. Elas compõem 73,2% das pessoas empregadas no setor de saúde. O que contrasta bastante quando se fala de renda nesse âmbito: a renda das mulheres é 23,7% menor que a dos homens do mesmo setor.
São elas as que mais cuidam e são elas as que mais adoecem. A falta de insumos e recursos, jornadas de trabalho longas e intensas, falta de EPI’s, assédios vividos constantemente, tudo isso mostra uma precarização profunda do trabalho dessas profissionais, que não é de hoje, porém foi intensificado com a pandemia. Tudo isso, é claro, para aquelas que ainda mantêm seus empregos e não estão desempregadas ou trabalhando de forma informal.
Hoje, no Dia Internacional da Mulher, fazemos coro com as mulheres que se revoltam no mundo inteiro contra a precarização das condições de vida. Como declarou o grupo de mulheres Pão e Rosas: “Convocamos cada mulher trabalhadora e jovem que se revolta com o machismo e o conservadorismo que governa o país a tomar em suas mãos esses combates, não só no 8 de março, mas como parte de uma luta cotidiana, se organizando em cada local de trabalho e estudo e batalhando por esse conteúdo... [A crise] também mostra que o funcionamento de toda a sociedade depende da classe trabalhadora, uma massa amplamente feminina e negra, e por isso é somente essa classe que pode reverter a catástrofe social, sanitária, econômica e ambiental na qual a burguesia nos afunda".