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PLENÁRIA NACIONAL DO PÃO E ROSAS
Letícia Parks: "Ninguém vai calar a nossa voz"
Redação

Acompanhe a fala de Letícia Parks, dirigente do Pão e Rosas e do MRT, na Plenária Nacional do Pão e Rosas, que ocorreu nesse sábado dia 06/03.

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Oi gente, eu sou a Letícia Parks e antes de tudo queria dizer que é uma alegria enorme poder estar com tanta gente aqui interessada em conhecer e em fortalecer um feminismo socialista. Eu fico pensando qual o motivo que trouxe cada uma de vocês aqui, qual é a particularidade, qual é o drama pessoal ou o machismo do dia a dia que cada uma está enfrentando. Mas tem um motivo que acho que é justamente o de que pode fortalecer cada uma que tá aqui: que unificadas e com um feminismo socialista nós podemos chegar longe.. e isso tem um significado muito importante pro momento que a gente tá vivendo. E pra mostrar isso pra vocês, quero contar uma história que sintetiza porque pra ter um feminismo socialista nós vamos ter que nos enfrentar também com gente que não quer que nossas posições se expressem.

Bom, a história que eu vou contar pra vocês é sobre a construção do ato nacional do 8 de março desse ano. Isso acontece em reuniões que são dirigidas pelas militantes do PT, do PCdoB e do PSOL, e a gente sabe que isso não representa todo mundo. Ficam de fora todas as mulheres e meninas que estão nas escolas e nos locais de trabalho e não tem como opinar no que tá sendo decidido nessas reuniões. O que é curioso é que essa galera teria capacidade de ouvir e fazer com que muitas mulheres opinassem, porque são justamente as organizações que dirigem os sindicatos e entidades estudantis pelo país, mas elas simplesmente decidem que elas são melhores pra decidir qualquer coisa do que vocês, que estão vivendo o machismo e o capitalismo no dia a dia da escola e do trabalho.

Bom, nessas reuniões, a gente do Pão e Rosas participou dizendo que o 8 de março deveria ser construído com assembleias de base, mas fomos ignoradas. Depois, quando chegou a hora de debater a política do 8 de março, apresentamos a nossa visão sobre o Brasil e as tarefas do movimento de mulheres. Em todas as reuniões, dissemos que queremos lutar contra Bolsonaro, esse presidente que está por trás dessa situação de crise humanitária que se vive no Brasil. Um cara que foi eleito dizendo que ia perseguir professores com escola sem partido, que ia fazer reformas pra tirar ainda mais direitos da classe trabalhadora, que comparou negros com gado e que disse pra uma deputada que só não estuprava ela porque ela era feia. Sim, nós lutamos contra Bolsonaro com todas as nossas forças, e lutamos também contra Mourão. Em 2019, o Evaldo Rosa, sambista, tava indo de carro com a família pra um chá de bebê lá no Rio de Janeiro, e nisso ele passou por uma patrulha militar. Os caras do nada começaram a atirar contra o carro do Evaldo. Foram 257 tiros contra o carro do Evaldo e 80 tiros atingiram ele que morreu na hora. O Mourão, quando o Evaldo Rosa foi assassinado, disse que lamentou que "só uma pessoa foi atingida, foram disparos péssimos", e mais recentemente, quando o Nego Beto foi assassinado em Porto Alegre o Mourão disse que não existe racismo no Brasil. Como ele explica porque as mulheres negras recebem 60% a menos que os homens brancos e porque a polícia mata mais negros que brancos, eu não sei dizer, viu...

Bom, a verdade é que por tudo isso, a gente foi nas reuniões do 8 de março dizendo que o impeachment tiraria Bolsonaro pra colocar Mourão na presidência. Mas somos contra os militares na política, como tem sido desde o golpe de 2016. E não paramos por aí. Sabemos que esse golpe criou um novo sistema político no Brasil, um sistema que com o assassinato da Marielle Franco, comunicou pra todas nós que não nos querem na política. Todas as semanas novas ameaças chegam contra parlamentares do PSOL, mostrando isso mais uma vez. Rechaçamos essas ameaças, e sabemos que a morte da Marielle é uma ferida aberta desse golpe e a nossa luta precisa ser também uma luta contra todo esse regime podre, de um judiciário que humilha mulheres como fez com a Mari Ferrer, de um Congresso que está preparado pra votar novas reformas, de governadores que fazem demagogia com a vacina e com lockdown, mas na verdade estão aumentando as mortes e o contágio mandando a gente de volta pras escolas no Acre, no Rio Grande do Sul, no Distrito Federal, em São Paulo.

Essas foram as posições que nos levaram a querer construir um 8 de março contra Bolsonaro, Mourão, militares e todos os golpistas, lutas que consideramos inseparáveis dos direitos que viemos lutando para ter há décadas, como o aborto legal, seguro e gratuito, o direito à maternidade, que também é roubado da gente com desemprego, com moradia precária. E por defender tudo isso, fomos proibidas de falar neste ato nacional que vai acontecer amanhã, dia 07 de março. O PT, o PCdoB e o PSOL escreveram um manifesto pra expressar a política nacional do 8 de março, lá não existem as palavras golpe e Mourão, e a luta das mulheres se resume a um pedido ao Congresso de golpistas para fazer um impeachment que na prática colocaria Mourão no poder. Isso não é um detalhe. As nossas gerações, todas presentes aqui nessa reunião, estão convocadas pela história a impedir que maiores tragédias aconteçam. Nosso país já viveu ditaduras, já vivemos verdadeiros massacres armados contra a nossa classe, contra o movimento negro e de mulheres. Não pode ser que frente a tanto autoritarismo na nossa história, a gente aceite o autoritarismo que está se construindo agora na nossa frente, diante dos nossos olhos. Mas hoje a gente tá aqui e quero dizer: ninguém vai calar a nossa voz!

Vocês devem ter visto BBB né? E o efeito dele. Um efeito construído pela globo para dizer que antirracismo pratica preconceito contra bissexuais e contra paraibanos, como se todo feminismo fosse o da Karol Conka. Esse feminismo aí não tem nada a ver com o feminismo socialista. Isso é neoliberalismo, é aquele feminismo que serve só pra buscar um lugar pras mulheres dentro do capitalismo, como se a vida de milhões de mulheres e de negros fosse melhorar com um ou dois "vencedores" com a nossa cara lá no topo, e como se do lado de cá, no chão da fábrica, das escolas, dos locais de trabalho, das mulheres que não chegaram ao topo, fôssemos perdedores. Mas não existem perdedores na nossa classe. A nossa classe é muito mais forte do que a vitória de um indivíduo nesse sistema podre. A gente pode revogar as reformas, a gente pode responder quem mandou matar Marielle, pode legalizar o aborto, pode conquistar testes massivos, vacina pra todos, a gente sabe como fazer as aulas voltarem com total segurança sanitária, a gente pode conquistar o auxílio emergencial com um valor digno pra todos os que tão sem emprego, a gente pode conseguir que sejam liberados do trabalho todos os que tem a saúde em risco, a gente pode decidir só trabalhar nas fábricas se for pra produzir respiradores, só entregar comida se for pra quem passa fome. A gente pode derrubar, com a força da nossa luta, Bolsonaro, Mourão e todo o regime do golpe, uma força que tem que vir das mulheres e das negras e negros que estão há anos na linha de frente de todos os combates, e que com essa energia, a gente pode ser um fermento pra toda a nossa classe trabalhadora, como tão sendo as mulheres em Myanmar, que resistem contra o golpe lá e inclusive foram duramente reprimidas ontem, e com essa força colocar em marcha esse gigante que tudo produz e tudo pode controlar, a classe trabalhadora, uma força que é capaz também de conquistar uma nova Constituinte, pra mudar não só os jogadores mas também as regras desse jogo, e permitir que seja o povo, a grande maioria pobre e trabalhadora, quem decida os rumos do país.

Por isso, é inaceitável que tenhamos sofrido esse silenciamento no 8 de março, e fizemos uma grande campanha pelo país exigindo nosso direito de fala, e novas campanhas serão feitas e propostas aqui nessa nossa reunião para que a gente fortaleça esse feminismo. Queria que vocês ouvissem com atenção, propusessem, se somem, porque numa época em que os capitalistas nos lançam tantos ataques, nos colocam dentro de crises humanitárias, de sofrimento e morte, a forma de se manter viva é organizar a tristeza e a raiva em luta contra o capitalismo, o machismo, o racismo, e todos os seus representantes, e nesse caminho, se enfrentar com as direções burocráticas que impedem a força da nossa mobilização e mantém uma paralisia. Exigimos que saiam dessa paralisia, porque enquanto os de cima brigam entre si, e eu to falando de Bolsonaro, dos militares mas também de todos esses golpistas do Congresso Nacional e do STF, é preciso apresentar uma saída nossa, das mulheres e da classe trabalhadora, pra que sejam os capitalistas que paguem pela crise.

 
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