Centenas de trabalhadores de logística da Amazon entraram em greve em Vigonza, Itália, na segunda-feira passada, protestando contra o que muitos consideram "um ritmo frenético e insustentável de trabalho, proteção insuficiente contra COVID-19 e baixos salários".
“As razões [da greve] são atribuíveis às insustentáveis condições de trabalho que são impostas a esses trabalhadores: eles ganham baixos salários e estão sujeitos a um ritmo insuportável. Eles são obrigados a respeitar inúmeras horas de trabalho que constantemente colocam em risco sua segurança e de outros ”, disseram Massimo Cognolatto e Romeo Barutta, dirigentes da central sindical CGIL nas regiões de Pádua e Veneto.
Depois de uma negociação que começou a aproximadamente um ano, com duas reuniões que terminaram e, nada, os trabalhadores da logística e entrega do armazém de Vigonza iniciaram uma greve parando todo turno de entrega de 15 de fevereiro, a partir das 6:30 da manhã.
Os motivos da greve são múltiplos e dizem respeito aos funcionários da distribuição de produtos da Amazon, cerca de 400 trabalhadores de cinco empresas externas que trabalham sob contrato para a Amazon. São exatamente esses trabalhadores que dirigem as vans da empresa e que realmente fazem as entregas ao domicílio.
Este setor é um dos novos projetos da empresa para redução de custos. O objetivo é "uberizar" o serviço de entrega de produtos. Ou seja, visa que os trabalhadores e motoristas sejam "autônomos", sem vínculo com a empresa, e que façam entregas sob demanda. Para isso, recebem valores inferiores aos dos trabalhadores da empresa e ficam 24 horas aguardando o software que os avisa da possibilidade de fazerem uma viagem para entregar os pacotes.
O assunto não termina aí. Como se terceirizar todo o ramo de logística não bastasse para evitar assumir seus salários e benefícios, Jeff Bezos foi recentemente indiciado por receber $ 61 milhões em gorjetas de motoristas de van de entrega, que os usuários da plataforma lhes pagaram, mas nunca chegou ao bolso dos motoristas.
Desde abril de 2013, a Amazon enfrentou lutas trabalhistas em vários países, principalmente na Europa, onde trabalhadores na Espanha, Alemanha, França e Itália entraram em greve mais de uma dúzia de vezes. Os protestos se intensificaram durante a pandemia, já que a Amazon não atendeu às demandas dos trabalhadores para tornar seu local de trabalho mais seguro. Este último gerou uma onda de protestos nos Estados Unidos durante o primeiro semestre de 2020. A empresa do magnata Jeff Bezos demitiu os organizadores dos protestos, mas a indignação dentro dos armazéns continuou e hoje enfrenta a votação para organizar o primeiro sindicato da Amazon nos Estados Unidos, no Alabama.
Sobre a situação na Itália, Christy Hoffman, Secretário-Geral da UNI Global Union disse: “Mais uma vez, os trabalhadores são forçados a fazer greve para fazerem suas vozes serem ouvidas, uma situação que poderia ser facilmente evitada se a Amazon levasse em conta as preocupações dos funcionários”
Outros participantes globais também estão levantando questões sobre o comportamento anti-sindical da Amazon. Na última segunda-feira, a UNI Global Union Amazon Alliance pediu ao gigante da tecnologia e do comércio que parasse com sua campanha anti-sindical desonesta e permitisse que os trabalhadores votassem um sindicato nos Estados Unidos sem a pressão agressiva e constante da empresa para votar não. Se a votação para organizar um sindicato no Alabama for bem-sucedida, terá um efeito muito além dos 6.000 trabalhadores daquele armazém. Seria um golpe devastador para a política anti-sindical e precária de Jeff Bezos e poderia encorajar a organização de mais de 400.000 trabalhadores nos Estados Unidos e mais de 1 milhão em todo o mundo.
Leia mais: Enquanto trabalhadores sofrem com a crise, magnatas da tecnologia aumentam seus patrimônios
|