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Um mês após anúncio de saída da Ford do Brasil, funcionários mantêm vigília na frente da fábrica em Taubaté
Redação

Um mês após a Ford anunciar o fim da produção de veículos no Brasil, funcionários da montadora em Taubaté (SP) mantêm uma vigília em frente à fábrica no interior de São Paulo. Eles amanhecem e dormem na porta da empresa para impedir um desmonte da unidade após o anúncio de saída.

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Foto: Rogério Marques/Futura Press/Estadão Conteúdo

Em Taubaté, são cerca de 830 funcionários diretos da montadora.

O fim das operações e as milhares de demissões da Ford vem após anos de incentivos bilionários para o setor automotivo no Brasil. Só o governo federal concedeu quase 70 bilhões em incentivos para o setor desde 2000. Após lucrar rios de dinheiro com regalias por parte dos governos, a Ford vai deixar milhares na rua para aumentar seus lucros.

Esses incentivos ocorrem através da isenção de determinados impostos que beneficiam diretamente as empresas ou suas vendas, como o IPI a nível federal ou ICMS a nível estadual.

Bolsonaro faz demagogia dizendo que a Ford sai do país porque quer mais incentivos, mas só para o ano de 2021 foi estabelecido o valor de R$ 5,9 bilhões em incentivos para montadoras bilionárias, valor que seria suficiente para o pagamento de mais uma parcela de R$ 300,00 do auxílio emergencial para 20 milhões de pessoas, ou que poderia ser investido em materiais, insumos e infraestrutura para o combate da Covid-19, que volta a devastar o sistema de saúde numa segunda onda.
Ao contrário disso, em plena pandemia, os atuais funcionários da montadora estão em vias de se somar à cifra dos 14 milhões de desempregados em todo o território nacional.

Com a decisão de encerrar a produção no Brasil, a empresa desligaria 830 funcionários na fábrica de Taubaté. Os trabalhadores reivindicam a manutenção dos empregos pelo acordo de estabilidade que tinham, em troca de terem abdicado de benefícios, como congelamento e até redução de salários. Apesar disso, a estabilidade se encerraria em dezembro de 2021.

Na última sexta-feira (5), a Justiça concedeu liminar impedindo que a empresa faça qualquer demissão até o fim do acordo, que deixe de pagar salários e licenças e que desmonte maquinários.

Mas sabemos que não podemos confiar no judiciário, que pelas mãos do STF foi parte do estabelecimento do golpe de 2016 e das reformas trabalhistas e previdenciárias que engrossaram a miséria e o desemprego estruturais que hoje afetam estes mesmos trabalhadores.

A Ford anunciou sua saída do Brasil no dia 11 de janeiro. A empresa alegou que reestruturava seu modelo de negócios e, por isso, deixaria a produção no país.
A saída acontece após um século de produção no Brasil. Com a saída da multinacional do país, além das 5 mil demissões já anunciadas, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico (Dieese) estima uma perda potencial de mais de 118.864 mil postos de trabalho, somando diretos, indiretos e induzidos — o que representa uma perda de massa salarial da ordem de R$ 2,5 bilhões ao ano.

Em entrevista ao G1, o mecânico de manutenção Luiz Rogério Alves, 45 anos, que trabalha há 26 na empresa, diz sobre o temor sobre a incerteza de como tocar a vida com a perda do emprego:

“Eu dediquei a minha vida inteira a isso, não fiz outra coisa. Quando eu recebi a notícia eu fiquei sem chão, achei que era um pesadelo. Hoje o que eu faço é concentrar meu esforço para manter o meu emprego e dos meus colegas. Não tenho ideia do que vai ser depois, se fechar. Prefiro não pensar nisso”, conta.

Essa entrevista se soma a outros relatos, como feito por outro trabalhador de Taubaté ao Esquerda Diário no fim de Janeiro, de que foram pegos de surpresa com o anúncio do fechamento da fábrica, mesmo após abrirem mão de direitos trabalhistas, mostrando que não é possível confiar ou negociar com a burguesia:

“Teve uma contratação em 2012 que muitos entraram pra trabalhar na Ford, mas a partir de 2014 a fábrica vem agindo na má fé, mandando várias pessoas embora ano a ano. Nunca esperamos que iria acontecer isso em 2021, porque ao longo dos anos fomos abrindo mão de direitos com a garantia de emprego. Desde 2014 fomos prejudicados. Tudo o que fizemos não valeu a pena. Sem aviso prévio mandou todo mundo embora. Nosso sentimento enquanto trabalhador da Ford é que fomos traídos por ela. Foi uma punhalada nas costas de todos os trabalhadores. É revoltante.”

Além da vigilia, no último dia 03 deste mês os mesmos trabalhadores da planta de Taubaté já haviam rejeitado a proposta de indenização pelo fechamento da fábrica. Após quase um mês realizando assembleias e mobilizações, receberam uma proposta de indenização de valor bastante similar ao que ganhariam se continuassem trabalhando somente até dezembro, momento em que venceria o acordo de manutenção de empregos assinado pela Ford antes de anunciar do nada que vai abandonar a produção no país.

Tudo isto mostra a disposição destes trabalhadores pra resistir contra o ataque da multinacional, porém, para organizar essa luta decidida, não serve a estratégia das centrais sindicais, CUT/PT e CTB/PCdoB, de esperar 2022 para derrotar Bolsonaro nas eleições para presidente, é preciso organizar a força dos trabalhadores para que construam um caminho de defesa de seus empregos e direitos impondo que sejam os capitalistas que paguem pela crise.

Como colocamos aqui os trabalhadores da montadora podem vencer com uma estratégia que passe por ampliar os apoios e organizar um fundo nacional de mobilização e solidariedade à suas familias, construindo uma forte frente única dos trabalhadores, que se unifiquem efetivos e terceirizados, que se exija a abertura da contabilidade da Ford, organizando comissões de base para transformar as vigílias em ocupações, organizando uma luta nacional pela proibição das demissões tendo como objetivo conquistar a estatização da Ford sob controle dos trabalhadores.

 
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