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BBB e a invalidação da autodeclaração negra
Letícia Parks
Pedro Gronga
Estudante de História da UFMG

Nesta manhã de sexta feira (05/02), os participantes do Big Brother Brasil 21 Nego Di e Karol Conká em conversa debocharam da auto identificação do participante Gilberto como um homem negro.

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Imagem: via/ reprodução: Globo

Dentre os comentários nojentos sobre a negritude de Gilberto, Nego Di chegou a chama-lo de “sujinho” e que se ele se esfregasse bem daria pra entender que ele é branco, que observava que ele tem cabelo liso e de que talvez seja mulçumano mas negro não. Karol Conká chegou a citar que Gilberto tinha “arcada de negro” mas que não quis discutir sobre sua autodeterminação de negro pois tinha mais o que fazer durante a festa. Nego Di chegou a comentar que “algum dia alguém deve ter chamado Gil de preto e ele acreditou nisso” e que não era possível ele se ver como um cara negro.

Karol Conká é a mesma participante que dias atrás estava pregando que o participante Lucas não fosse digno de comer na mesma mesa que ela, o excluindo e humilhando na casa perante os outros participantes. Nego Di se somou à prática de isolamento de Lucas, inclusive julgando a sua luta contra a violência policial e o racismo dizendo que o participante queria fazer revolução pra vagabundo.

Não é de hoje que as pessoas negras de pele mais clara são invalidadas da sua própria autodeclaração, sempre questionados e tidos como mentirosos ao se identificarem como negros perante a sociedade. Para os tribunais de cor, importa menos o combate contra a policia racista - que mata negros de pele clara todos os dias, uma expressão óbvia do racismo contra negros de pele clara - contra as condições precárias de trabalho - que atingem pretos e pardos na mesma proporção frente a sua composição populacional -, concentrando seu "ativismo" em verdadeiros tribunais de cor que buscam julgar quem pode se chamar de negro e quem não. Cenas como essa só comprovam a dominação do pensamento da classe dominante, onde segregar negros de brancos, e negros dos próprios negros são formas eficazes de manter a desigualdade social e enfraquecer a organização dos oprimidos contra a exploração capitalista.

O argumento de que negros de pele clara sofrem menos racismo é aliado da tese da mestiçagem, no mal sentido. Ainda que a mestiçagem seja um fato num país como o Brasil, o fato de haver mistura de raças nunca levou indígenas ou negros a sofrer menos racismo, pelo contrário. Esse discurso que se comprova como farsa frente aos dados da realidade teve na história o papel de apagar a presença negra e indígena e separar essa enorme massa que sofre com o racismo da sua consciência como negro e como indígena, o que dificulta o combate contra um inimigo que não se vê e não se sabe nomear. Impedir o direito a autoidentificação é atentar contra a trajetória de luta do movimento negro brasileiro, que por décadas combateu os regimes autoritários brasileiros exigindo a unificação das identidades pretas e pardas como "negro" e também contra a burocratização da identificação indígena, que impede que o indígena que mora na cidade de comprovar sua origem e sua identidade.

Ideologias como o colorismo cumprem uma função clara numa política neoliberal pra luta negra: dividir os negros entre si e impedir que se dê um combate de massas e estrutural contra o racismo, uma batalha que ao se ver massiva, se conecta com um combate contra o próprio capitalismo, já que o uso do racismo está atrelado a manutenção de condições de precarização do trabalho e da vida que se justificam pela cor da pele e que geram enormes montantes de lucro para os grandes empresários, banqueiros e para as grandes coorporações imperialistas. Reduzir a identidade a um pequeno setor cria a ideia de que é uma batalha de alguns poucos pelo topo e pela representatividade, quando sabemos que ainda que se chegue no topo, a mulher ou o negro lá em cima ainda vão ver o chão sujo de sangue negro, indígena, LGBT, feminino e operário.

 
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