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COLUNA
O dinheiro do General
Thiago Flamé
São Paulo

Foi, por incrível que pareça, foi Alexandre Frota quem colocou o dedo na ferida da relação do exército com o centrão: “não se deixem seduzir pelo dinheiro do General”, disse ao retirar sua candidatura de protesto e apoiar Baleia Rossi.

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Parece inusitado que tenha sido no discurso de Alexandre Frota, esse símbolo no cinismo da direita nacional, o ator pornô convertido em digno representante da família tradicional, que realizou uma das definições mais profundas sobre o que se passava na Câmara de Deputados aquela noite nas tribunas do Congresso.

Só um tresloucado como Frota teria condição para disparar sua metralhadora retórica contra o General Ramos, que tem sido o articulador político do governo Bolsonaro junto ao Congresso desde a saída de outro General, o Santos Cruz. Ramos, no entanto, só passou a efetivamente cumprir o seu papel após a entrada do General Braga Netto na Casa Civil. Tidos como racionais e moderados pela grande imprensa e pela oposição neoliberal, para o petismo, e para muita gente no PSOL, aparecem como mal menor, junto com Mourão, frente a Bolsonaro e seus milicianos. Como o impeachment que defendem levaria justamente esse setor a concentrar ainda mais poder, o calculo político os impede de fazer denúncias assim.

No entanto, a vitória do centrão e, especificamente da ala do centrão que primeiro rachou com Maia e foi em direção ao governo, foi um triunfo da orientação que o general Braga Netto e pela via dele o Alto Comando do exército deram ao governo Bolsonaro. As relações entre o centrão e os generais são históricas, profundas e estruturais. Pode-se dizer até que foram os generais que criaram o centrão, com os rejuntes do Arena, para controlar a constituinte na década de oitenta.

No seu primeiro ano de governo Bolsonaro tentou impor a disciplina judicial e militar ao Congresso e aos governadores, com os métodos da lava-jato e com a retórica anti centrão do general Heleno e Olavo de Carvalho. Esse caminho fracassou e desde então, arroubos retóricos e brigas com os governadores a parte, o governo, pela mão do general Ramos, vem se empenhando em abrigar cada vez mais políticos do centrão em cargos no governo e em rachar a base de Rodrigo Maia.

Bolsonaro já se reuniu com Lira e Pacheco (que se tornou presidente do Senado com apoio do PT e PCdoB) para discutir uma agenda centrada nas reformas estruturais, enquanto se acumulam os corpos no Norte do país antecipando o tipo de colapso que poderemos ver em outras latitudes se nada for feito – como não está sendo. O mercado financeiro aplaude e a Bovespa sobe, acumulando dois dias de alta.

Podemos esperar um aceleramento, ao menos enquanto durar a lua de mel de Bolsonaro com os novos presidentes no Congresso, da aplicação das reformas neoliberais e da onda de contágio na nova cepa manauara do vírus. Na Câmara, Lira pretende começar a tramitar a reforma administrativa e no Senado Pacheco se propõe a votar de imediato a PEC emergencial, aquela que permite aos governos cortarem 20% do salário do funcionalismo. Um momento triste para Rodrigo Maia, que está vendo o mercado financeiro encontrar novos queridinhos.

O fracasso de Maia é também o fracasso, ao menos momentâneo, da política de Frente Ampla que embalou a esquerda institucional no último período. A possibilidade de um impedimento do presidente pelas mãos da oposição neoliberal parece mais distante – se é que esteve próximo em algum momento. Mais do que nunca é evidente que somente a força na mobilização nas ruas, das greves, da aliança entre a juventude cada vez mais precarizada, das mulheres, do povo negro e do conjunto do povo com a classe trabalhadora será suficiente para derrubar esse governo aplicar um plano consistente de combate a pandemia e impor a convocação de uma assembleia constituinte livre e soberana em que sejamos nós e não o centrão e os empresários quem decida sobre os rumos do país.

 
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