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Luta de classes na França
Na França, trabalhadores de refinaria levam a frente greve exemplar contra demissões
Alexandre Azhar

Em Grandpuits, na região metropolitana de Paris, a gigante petrolífera imperialista Total anunciou o fechamento de uma importante refinaria, que acarretaria a perda de 700 empregos, sua esmagadora maioria de trabalhadores terceirizados, além de inúmeros mais empregos indiretos. Em resposta, desde 04 de janeiro, os trabalhadores, juntos a setores da juventude e ativistas levam a frente uma batalha exemplar contra mais essa tentativa de despejar a crise sobre nossas costas! Seu vigor e determinação de luta, rompendo a paralisia e o derrotismo, se auto organizando para tomar por suas próprias mãos sua luta são um grande exemplo aos trabalhadores brasileiros!

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No final do ano passado, a gigante petrolífera Total anunciou que fecharia a única refinaria de petróleo na região de Grandpuits. Segundo o discurso oficial, repetido ad nauseum pela mídia corporativa, o fechamento seria recoberto das melhores intenções: a Total pretende reconverter a planta em uma fábrica de biocombustíveis e bioplástico. Além disso, nenhum emprego seria perdido na operação. A realidade é bem diferente.

Primeiramente, por trás da suposta “não extinção de empregos diretos”, escondem-se por volta de 500 trabalhadores terceirizados que perderão seus empregos, além de mais 200 trabalhadores efetivos, pressionados a planos de “demissão voluntária”. Ao todo, calcula-se que seriam 700 famílias na rua. Além disso, não se pode crer por um segundo no discurso ambiental dessa gigante petrolífera! A Total, uma das maiores contaminantes do planeta, alega uma suposta “transição ecológica ao mesmo tempo que projeta aumentar em 12% sua produção de petróleo na próxima década. Na verdade, a Total reestrutura sua cadeia produtiva, deslocando a produção aos países do Sul onde as leis trabalhistas e ambientais são menos estritas, em suma, onde podem pagar menos e poluir mais. Ao mesmo tempo que põe trabalhadores na rua em plena crise com a desculpa de “preocupação ambiental”, a Total se apoia no punho de ferro do imperialismo francês para avançar seu megaprojeto extrativista em Uganda, que permitirá a produção de 1,4 bilhão de barris de petróleo, destruindo toda uma região, assim com sua água, suas terras e expulsando a força sua população local. Com esse projeto cerca de 100 mil pessoas serão vítimas de remoções.

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O destino que a Total pretende impor aos trabalhadores franceses também não se mostra promissor. A supressão desses 700 postos de trabalho terá impactos na economia de toda a região, e provocará o desaparecimento de empregos indiretos relacionados com a fábrica, neste que é a maior região industrial de Seine et Marnais. Além disso, a refinaria de Grandpuits era uma das poucas possiblidades de encontrar um emprego estável e com um salário superior ao mínimo em toda essa região. Enquanto isso, a Total acumula mais de 7 bilhões de euros de lucro em 2020, além de bilhões mais em ajuda do governo.

Adrien Cornet da CGT Grandpuits aponta: “Eles sabem: 200 supressões de emprego direto em Grandpuits, 500 postos de trabalho informal, 694 através de um plano de pré-aposentadorias. Essa eliminação de postos de trabalho não tem a ver com a transição ecológica, é só a redução das massas assalariadas, para otimizar a rentabilidade no curto prazo, e não pensar no bem dos seus trabalhadores”.

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Mas os trabalhadores da Total não aceitarão tão facilmente esse despejo de ataques e carestia de vida, para aumentar ainda mais os lucros das mega empresas, enquanto a classe trabalhadora carrega o fardo da crise! Já no 17 de dezembro, os petroleiros tinham rechaçado espontaneamente retirar o gás das instalações e começaram a greve. Na segunda-feira 4 de janeiro, foram os trabalhadores desses turnos noturnos e da manhã os que decidiram em assembleia geral começar a greve indefinida ao redor das demandas debatidas coletivamente. A auto-organização é marca do processo. Desde janeiro, são as assembleias gerais as que decidem os passos seguintes, elegem delegados de greve e opinam sobre as negociações. Um verdadeiro controle dos trabalhadores da sua própria luta.

Em um momento em que as demissões assolam a vida de centenas de milhares de trabalhadores franceses, e milhões em todo o mundo, e no qual a grande maioria dos sindicatos e centrais sindicais de limita a negociar com o patronato os termos dos ataques aos trabalhadores, e lutam, no máximo, por condições mais favoráveis de demissão, os trabalhadores de Grandpuits se colocam frontalmente contra a perda de qualquer emprego! Os trabalhadores, decidindo os rumos de sua própria luta, não aceitam as chantagens da Total ou do governo, e seguem resistindo em piquetes de greve, contra os ataques!

E não estão sozinhos! Conscientes da importância da luta ambiental – exatamente o motivo pelo qual a pauta não pode ser deixada nas mãos de mega poluidores imperialistas – os grevistas se organizam e recebem apoio de diversos grupos ambientalistas, desde o Greenpeace, ao Extinction Rébellion aos grupos francêses Les Amis de la Terre e o coletivo Plus jamais ça. Os trabalhadores levantam e tomam para si a pauta da transição ecológica, contra seu uso farsesco para a supressão de empregos, e por um plano econômico ecologicamente responsável controlado pelos trabalhadores e pela população! Recentemente, os grevistas de Grandpuits, junto a grupos ambientalistas e estudantis protagonizaram um forte ato em frente à sede da Total, em um distrito empresarial nobre de Paris, no mesmo dia em que se reunia um comitê de representantes do trabalhadores [1], que apresentava parecer contrário ao plano social da chefia, que, segundo eles, “soa o alarme sobre as condições de trabalho da refinaria, destacando em particular os riscos psicossociais e de segurança do plano de reconversão”. Ao mesmo tempo, os trabalhadores, junto às organizações ecologistas, divulgam seu próprio parecer técnico, denunciando a farsa do plano “ecológico” da Total!

Trabalhadores pintam de verde a fachada da sede da Total, em protesto contra o falso e hipócrita discurso ecológico da petrolífera

A juventude, igualmente, se soma à luta! E a importante presença de estudantes em apoio aos grevistas da refinaria fortalece a importância da aliança operária-estudantil, e leva as reivindicações dos trabalhadores a setores cada vez mais amplos, conectando a luta pelos direitos dos trabalhadores às lutas também em curso contra a ofensiva repressiva do governo – cuja ponta de lança é a recém apresentada Lei de Segurança Global – que certamente se pretende usar contra os trabalhadores e setores oprimidos lutando por seus direitos. Mobilizam-se também os jovens trabalhadores, contra uma perspectiva de futuro que se desenha cada vez mais precarizada, enquanto os super ricos enriquecem ainda mais, às custas de esmagar os trabalhadores com o peso da crise.

Desde seu sindicato, os trabalhadores de Grandpuits também estendem a todo o país chamados à conformação de uma Frente Única Operária, em defesa dos empregos e contra os ataques às vidas dos trabalhadores. Nesse sentido, buscam coordenarem-se com outras lutas em curso no país, e já receberam apoio de importantes setores da classe operária. Delegações de trabalhadores de importantes refinarias de outras partes do país – alguns dos quais já afetados por planos de demissão da patronal após o fechamento de suas unidades – já visitaram o piquete, saudando o esforço como “uma luta exemplar”. Se prepara, para os próximos dias, uma grande jornada de lutas em solidariedade, junto a trabalhadores da maior refinaria da França, na Normandia – com quase 1.600 trabalhadores da total – em solidariedade com a luta de Grandpuits. Alex, representante sindical da CGT na refinaria da Normandia ressalta que: “em Grandpuits, eles reafirmam valores que alguns gostariam que esquecêssemos. A força da solidariedade operária, os comitês de greve. Eu tenho orgulho do que fazem lá”. A solidariedade de classe se expressa, igualmente, com a arrecadação do fundo de greve, que só dos refinadores de Normandia, recebeu 4.000 euros, e tem sido apoiado por lutadores de toda a França, conseguindo fundos mesmo de algumas grandes figuras políticas da esquerda.

Com a crise sanitária e econômica, os planos de demissão de multiplicam, o aumento do desemprego ameaça grandes setores da sociedade francesa, e o desmantelamento dos serviços públicos leva à precarização ainda maior das camadas populares. Esta mobilização pode e deve servir de exemplo de que é possível aos trabalhadores se organizarem, recusarem-se a aceitar a miséria do possível e arrancar a vitória, assim como pode ser ponto de apoio em uma coordenação de todos os trabalhadores que sofrem ataques enquanto os patrões enchem seus bolsos!

Em especial no Brasil, onde, frente às recentes demissões em massa da Ford – que, assim como a Total, joga trabalhadores na rua para mover suas operações para onde for mais barato – e às privatizações que avançam a passos largos para precarizar ainda mais as vidas dos trabalhadores, vendendo o país ao imperialismo a preço de banana, as grandes centrais sindicais (em especial a CUT e a CTB, dirigidas pelo PT e PCdoB, respectivamente) preservam um silencia sepulcral frente aos ataques do governo contra os trabalhadores, de olho em nada mais que adaptarem-se a um regime golpista cada vez mais abertamente antioperário, o exemplo dos trabalhadores da Total, seus métodos de auto-organização, seu esforço de ligação com outros setores e sua resistência à miséria imposta pelos grandes capitalistas, pode mostrar uma alternativa mais do que necessária!

As burocracias sindicais brasileiras se reservam a, no máximo, negociar os termos dos contratos de rescisão, passando por cima dos trabalhadores, e ajudando os patrões e a imprensa a vender a narrativa de que “frente à crise, os ataques são necessários” – chegando mesmo a níveis verdadeiramente vergonhosos, como o silêncio (e mesmo complacência) frente à aprovação e implementação da MP 936, que, apelidada de MP da Morte, permitia os cortes de salário e facilitava as demissões em pleno pico da pandemia, e foi relatada por ninguém menos que o deputado Orlando Silva, do PCdoB!

Leia mais: Centrais sindicais chamam MP 936 de "conquista". Pra quem?

Esse nível de subserviência e adaptação das burocracias – guiados por claros interesses políticos e materiais de seus dirigentes, que nada têm a ver com os interesses dos trabalhadores – mostra a importância do grande exemplo dos refinadores da Total, além da importância reavivar, também no Brasil, como na França, a tradição de auto-organização dos trabalhadores em luta, para varrer as burocracias sindicais e retomar os sindicatos como ferramenta de luta, dirigida pelos próprios trabalhadores!

 
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