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COLUNA
Estrutura comprometida
Iuri Tonelo
Recife

As eleições do congresso dessa terça-feira tiveram como resultado novo fortalecimento do centrão. Essa que vem sendo a tônica do regime político brasileiro nos últimos anos, teve novo capítulo na expressiva vitória de Arthur Lira (Progressistas) na Câmara e de Rodrigo Pacheco (DEM) no Senado. Cada novo terreno para ao velho Arena tem significado um alicerce a menos no edifício da Nova República de 1988.

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As vezes os pedreiros, quando estão analisando uma casa velha, dizem que a estrutura está comprometida, problema nos alicerces, que a casa está caindo ou prestes a isso, não tem resolução. Essa casa não começou a ser se tornar inviável na última terça-feira, mas esse último episódio parece, como mínimo, colocar um limite para qualquer reconstrução pelos engenheiros do regime de 1988.

O primeiro movimento, e mais decisivo nesse sentido, foi o golpe de 2016, que significou um forte ataque contra um dos três alicerces da Nova República, o PT. Depois veio a eleição de Bolsonaro, que evidenciou, ao mesmo tempo, a emergência de um novo ator, a extrema-direita, e a decadência do PSDB, outrora um pilar do sistema político. Nas eleições de 2020, o centrão já havia se apresentado como grande vencedor, nova derrocada do PSDB e um terceiro pilar, o MDB, se não deixa de ter seu papel no sistema político, evidenciou seu melhor estilo fisiológico, adequado à nova força do centrão. Pois bem, com as eleições de ontem, o centrão se fortalece, o PT soçobra com a mudança da mesa diretora (primeira medida agressiva de Lira, que indeferiu o bloco opositor), o PSDB se divide e enfraquece e o MDB de Baleia Rossi passou longe, mas na verdade, também nem se propôs a ser uma força compacta real.

Quem quis galvanizar e saiu como grande derrotado foi Maia, sem sucessor a altura da disputa e sem partido, pois que o presidente do DEM, ACM Neto, já havia debandado e deixado “livre” o caminho de vinculação do partido com Lira, como parte das negociações de Pacheco no senado – o DEM mantém ainda certa força como partido, mas ainda testando a nova hegemonia dos parceiros do velho Arena. Por outro lado, quem teve o gosto de vitória nessa rodada foi Bolsonaro, pois acertou nas apostas, colocou dinheiro onde devia, e triunfou. Não é um triunfo exatamente dele, mas dos aliados, que estão mais fortes agora. E entre amigos de direita o humor muda muita rápido, e Bolsonaro sabe que não tem carta branca. Ainda assim, um bom respiro de quem vinha de derrotas amargas como a de Trump nos EUA, dificuldades em Manaus, questão da vacina, readequação com a China, queda de popularidade.

No jogo entre poderes, a entrada de Lira colocará uma questão importante: na disputa de bonapartismos, o centrão galvanizando o congresso desequilibrou a balança? Por um lado, o poder executivo nada mais fará do que aceitar. Uma imagem disso é que parece quase longínqua a então estrela general Heleno bradou em convenção nacional do PSL em 2018 bradando “se gritar pega centrão, não fica um meu irmão” ou aquele Paulo Guedes do começo do governo que dizia ser necessário “dar uma prensa no Congresso”.

Do outro lado do triângulo, a verdade é que o STF estava de férias até agora e não está claro até que ponto será um ator de embates com esse novo movimento. O importante é que seja tudo no “jogo democrático”, claro, com as novas regras do pós-golpe. Se o centrão é a carta da vez, Bolsonaro mantém sua sanha reacionária - mas respeitando os magistrados -, Lava Jato volta a ser aquele lugar onde se leva carros para lavar, haverá ímpeto de conflitos no STF? É certo que como grande pilar do autoritarismo institucional sim, buscará seu lugar de grande árbitro, mas o quanto avançarão nos escândalos de corrupção do centrão ainda é uma incógnita.

A verdade é que situação, oposição burguesa e velhos arenas convergem bastante nesse grande movimento centrífugo das reformas do grande capital. A bola da vez é atacar a educação e a saúde, a reforma administrativa, que aparece em “cortar do funcionalismo público”. Isso está no discurso de Lira, Pacheco, Bolsonaro, Rede Globo. Um projeto econômico hegemonizado pelo grande capital e com força particular do agronegócio (já tem que economista no país em cargos de poder falando que desindustrializar é bom, bem como acabar com universidades e pesquisa, em suma, dar o selo fazenda do mundo ao Brasil).

Diante desse cenário, duas saídas claras têm se apontado para a esquerda: a primeira, fingir que não estamos nesse novo regime sendo reorganizado dos escombros pós-impeachment e tentar encontrar um novo alicerce para a velha casa desabando (frente ampla, a qual desgraçadamente PT e PSOL insistem); a outra opção é constatar a situação, e não esperar a direita reorganizar os tijolos, o que exige uma política de choque contra esse regime político. Quem tem que propor outro projeto, que não dessa velha democracia degradada dos ricos, são os trabalhadores, chega de só ser uma sombra dos engenheiros do capital.

A conclusão não pode ser outra senão chamar uma nova constituinte livre e soberana, batalhando firme para mobilizar a vanguarda dos trabalhadores nesse programa, levantando a cabeça de cada lutador, para que coloquemos em pauta os grandes projetos do país, reforma agrária, não pagamento da dívida pública, fim da opressão racista, reorganização da economia a serviço da classe trabalhadora e escancaremos esse regime apodrecido até a raiz, essa casa em escombros da democracia degradada brasileira atual. Nessa luta, não temos pretensão de parar no caminho, devemos proclamar nossos objetivos socialistas e a necessidade de um governo dos trabalhadores, mas partindo dessa mobilização e de uma proposta política concreta em choque contra universo de escombros que os ratos do centrão gostam de manejar.

 
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