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ESTADOS UNIDOS
A pressão de Trump às autoridades da Geórgia: "Quero encontrar 11.780 votos"
Juan Andrés Gallardo
Buenos Aires | @juanagallardo1

O diário The Washington Post revelou, neste domingo, uma gravação onde é possível ouvir Donald Trump pressionando a principal autoridade eleitoral do estado da Geórgia, para que "encontre" votos a seu favor que lhe permita modificar o resultado eleitoral.

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Uma gravação obtida pelo diário The Washington Post revelou, neste domingo, que o presidente dos EUA, Donald Trump, pressionou a máxima autoridade eleitoral da Geórgia para que manipulasse os resultados das eleições de novembro, um novo escândalo que alguns já comparam com o caso Watergate.

A revelação do The Washington Post, batizada nas redes sociais como "#Georgiagate", em referência ao caso Watergate, provocou um terremoto político em Washington, porém a maioria dos membros do Partido Republicano ficaram silêncio.

Na gravação é possível ouvir Trump pedindo ao secretario de estado da Geórgia, Brad Raffensperger, a máxima autoridade eleitoral do estado, que "busque" os votos que sejam necessários para anular a vitória de Biden.

Primeiro, Trump cumprimentou Raffensperger, também do Partido Republicano, e depois implorou que agisse e, diante da sua recusa, ameaçou apresentar acusações criminais contra ele, ao mesmo tempo em que o advertia de que estava correndo um "grande risco" por não aceitar seus pedidos.

"O povo da Geórgia está com raiva, as pessoas do país estão com raiva (...) E não há nada de errado em dizer, sabe? Acho que seus cálculos falharam", ouve-se Trump dizendo nas gravações do The Washington Post.

Raffensperger respondeu: "Bom, senhor presidente, o desafio que você tem é que seus números estão ruins".

Na conversa, de mais de uma hora, Trump pediu diretamente que manipulasse o cálculo ao dizer: "Veja, o que quero é que busque os 11.780 votos, porque ganhamos nesse estado".

Trump usou essa cifra de 11.780 cédulas porque Biden ganhou por 11.779 votos na Geórgia, que contribui com 16 votos no Colégio Eleitoral, o órgão encarregado de eleger o presidente dos Estados Unidos.

Em dezembro, depois de recontar os votos duas vezes, as autoridades da Geórgia certificaram a vitória de Biden, que foi o primeiro democrata a ganhar nesse estado desde a vitória em 1992 de Bill Clinton (1993-2001).

Sem provas, Trump alegou que as eleições foram fraudadas e apresentou dezenas de requerimentos, inclusive no Supremo Tribunal, porém sem êxito.

Esta revelação é produzida, ademais, enquanto ao menos 12 senadores e 100 legisladores republicanos planejam se oporem à ratificação do triunfo do presidente eleito, Joe Biden, durante a sessão do Congresso de 6 de janeiro programada com esse objetivo.

Essa é a última esperança de Trump, ainda que dificilmente possa mudar algo. Seria a primeira vez em mais de 100 anos que o Parlamento questiona a decisão do colégio eleitoral, no qual em geral é somente um ato formal pra confirmar o presidente eleito e que desta vez promete se converter em um show trumpista.

O próprio Trump chama os seus seguidores pelas redes sociais a se manifestarem nessa quarta-feira em Washington para pressionar a sessão do Congresso.

Essa estratégia está fadada ao fracasso e não conseguirá impedir que o Congresso confirme o triunfo de Biden, porém vai assegurar uma votação sobre o triunfo do presidente eleito e um largo debate, que poderia se estender até a madrugada de 7 de janeiro. Será um show televisionado em cadeira nacional destinado a minar a entrada e a legitimidade de Biden. Recordemos que 77% das mais de 70 milhões de pessoas que votaram em Trump opinam que ocorreu fraude nas eleições e que favoreceu a Biden.

O Partido Republicano está atravessando uma crise profunda puxada por um setor que já soltou a mão do magnata nova-iorquino e quer voltar a uma relativa normalidade, enquanto outro setor se encontra pressionado pela base trumpista, dezenas de milhões de eleitores que votaram no atual presidente e a que Trump radicaliza o tempo todo com seus discursos. O último deles, a negativa de fechar um pacote de resgate exigindo um cheque de 2 mil dólares para cada contribuinte, contra os 600 aprovados no Congresso. Essa mensagem teve uma mescla de demagogia, xenofobia e nacionalismo, com o qual Trump se prepara tanto para pensar seu futuro político como para manter sua base ativa durante o próximo período.

Entre os senadores que impulsionaram essa iniciativa figura o texano Ted Cruz, que aparece como possível nome republicano para a eleição presidencial de 2024 e que deseja ganhar apoio da base leal de Trump.

O vice-presidente, Mike Pence, que presidiu a cerimônia para certificar a vitória de Biden, deu as boas-vindas à estratégia de alguns membros da bancada republicana e disse "compartilhar" sua preocupação com a "fraude eleitoral", indicou em um comunicado de seu chefe de gabinete, Marc Short.

O líder dos republicanos na Câmara de Representantes, Kevin McCarthy, deu nesse domingo sinal positivo à iniciativa; enquanto que o líder republicano no Senado, Mitch McConnell, fez silêncio durante o fim de semana, ainda que anteriormente se posicionou contra.

A iniciativa tampouco agradou ao senador Mitt Rommey, ex-candidato presidencial republicano em 2012, e a antigos pesos-pesados do partido, como o ex-presidente da Câmara de Representantes, Paul Ryan.

A pressão contra a manobra de Trump é forte. De fato, dez secretários de Estado e de Defesa dos EUA firmaram uma carta em que dão por finalizado o processo das eleições presidenciais ganhadas pelo democrata Joe Biden. A carta, também publicada nesse domingo pelo The Washington Post e repostada por outros meios locais, está assinada por Dick Cheney, James Mattis, Mark Esper, Leon Panetta, Donald Rumsfeld, William Cohen, Chuck Hagel, Robert Gates, William Perry e Ashton Carter.

É necessário ver se a divulgação desse escandaloso áudio é um ponto de inflexão e servirá para que o Partido Republicano vire as costas para Trump, algo que parece pouco provável já que Trump tem uma ampla base social e política.

Por outro lado, nesse domingo começou a 117ª legislatura do Congresso dos EUA com a reeleição como presidenta da Câmara de Representantes da democrata Nancy Pelosi e com o Senado como incógnita, já que não se sabe qual partido o dominará até depois das eleições de 5 de janeiro na Geórgia.

Não está claro como afetarão os incendiários comentários de Trump à eleição, onde as pesquisas apontam uma apuração muito apertada.

O fenômeno trumpista, que chegou para ficar, terá duras implicações sobre o reordenamento do próprio Partido Republicano nos próximos anos, assim como também sobre a legitimidade do presidente eleito Joe Biden, que não somente deverá lidar com uma oposição ativa e com alas radicalizadas de extrema direita, como também com a contradição de sua própria base social que guarda grandes esperanças de mudança, que Biden parece estar disposto a desapontar continuamente.

 
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