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DEBATES NA ESQUERDA
Resistência-PSOL no Recife: adaptação ao PT e a "frente ampla" de Marília com apoios bolsonaristas
Rauni Dias

A Resistência, corrente interna do PSOL, se afirma como entusiasta da frente ampla a favor da campanha de Marília Arraes do PT, em total adaptação ao PT, e já agora tem visto as consequências da conciliação de classes, quando a candidata petista tem afirmado seus apoios de bolsonaristas como Anderson Ferreira, prefeito de Jaboatão dos Guararapes ou do Podemos, da delegada Patrícia.

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O sectarismo é a outra face da moeda do oportunismo, como já dizia Trótski. Tal frase exprime bem a trajetória da Resistência, corrente interna do PSOL. Oriunda de um rompimento do PSTU - defendendo algumas posições corretas sobre o golpe de 2016 contra a linha ultra-esquerdista majoritária da direção daquele partido que na época defendia “Fora Todos” fazendo coro com a direita golpista - essa corrente vem então navegando nas águas do sentido oposto, se adaptando e se diluindo cada vez mais no petismo. Um dos casos mais emblemáticos disso é no Recife.

Desde o início a Resistencia esteve na trincheira para que o PSOL não tivesse candidatura própria e se integrasse diretamente a candidatura de Marília Arraes, posição que acabou sendo adotada pelo partido de forma burocrática, através de uma reunião do diretório e não de prévias abertas aos integrantes do partido, algo que não pareceu incomodar a direção dessa corrente.

O argumento, tanto da direção da Resistência quanto do PSOL, seria que a candidatura de Marília selaria uma aliança entre os movimentos sociais e seria uma alternativa para enfrentar tanto o bolsonarismo quanto o PSB.

Compartilhamos do sentimento dos setores progressistas da cidade de querer enfrentar tanto a extrema direita no comando nacional como também a oligarquia política que está há anos no comando da cidade e do estado. Mas seria apoiando o partido que está coligado com o PSL em 140 cidades, faz parte da gestão estadual do PSB e que só largou a gestão municipal agora nas eleições, e tendo uma candidata que reivindica ser parte da família da oligarquia política local, o melhor caminho para tal tarefa? Além dos fatos acima, a direção da Resistência também parece ignorar o que foram os 13 anos de governos petistas de conciliação de classes que abriram espaço para a direita, assim como também foram os 12 anos de gestões municipais petistas anteriores a Geraldo Júlio, gestões que privilegiaram os grandes empresários e a especulação privada e não resolveram nenhum dos problemas estruturais da cidade como a imensa desigualdade social, o déficit habitacional e o saneamento básico. Também parecem ignorar o que são os atuais executivos que o PT dirige, como os governos estaduais do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia. Esses governadores, longe de fazer qualquer oposição ao bolsonarismo, já se declararam contra a derrubada do mandatário e articularam com o governo e o congresso pela aprovação da Reforma da Previdência tendo rapidamente implementado a versão estadual onde governam, chegando ao extremo de Fátima Bezerra (PT-RN) dizer que Bolsonaro tem “compromisso com a população”. Longe de fazerem qualquer aliança com movimentos sociais, esses governadores reprimiram as mobilizações antifascistas e antiracistas, protestos contra a reforma da previdência e a greve das universidades estaduais baianas.

Se tudo isso não basta, nem mesmo as direitadas de Marília na campanha parecem ter abalado a direção das correntes do PSOL. Propostas como o armamento da guarda municipal e as promessas de diálogo republicano com Bolsonaro, que em um debate Marília falou que com certeza o presidente iria atender (acabando com toda a esperança que esta poderia ser uma oposição ao governo), passaram batidas pela direção da Resistência. A coligação com partidos de direita como o PTC e o PMB merceu apenas uma nota de repúdio no Esquerda Online. Neste sentido, a Resistência se posicionou de forma mais adaptada do que correntes stalinistas como o PCB e a UP, que não embarcaram em tal coligação no primeiro turno (embora no segundo turno tenham sucumbido igual), afinal, não poderiam deixar de honrar com sua tradição de conciliação.

Já no segundo turno, Marília recebeu o apoio de partidos de direita e inclusive de extrema direita como o Podemos da Delegada Patrícia - que no primeiro turno foi apoiada por Bolsonaro e também pela Deputada Clarissa Tércio, linha de frente da manifestação reacionária contra o aborto da menina de dez anos. Também agradeceu os apoios e postou fotos junto com políticos como Anderson Ferreira (PL), prefeito bolsonarista da vizinha Jaboatão. Isso tudo não foi capaz de fazer a direção dessa corrente rever sua posição, merecendo de novo apenas uma nova nota de repúdio, enquanto sua militância segue vestindo a camisa de Marília Arraes e entragando os panfletos do PT na campanha.

Portanto, a vitória de Marília nas eleições, longe de representar qualquer fortalecimento da luta contra o bolsonarismo, representará na verdade outra coisa: o salto da integração do PSOL ao regime, já que este ocupa o cargo de vice. Nesse sentido, o PSOL e a Resistência não poderão se eximir das responsabilidades do que pode significar um governo de conciliação com setores da direita e até bolsonaristas, e os ataques que virão daí necessariamente contra os trabalhadores, que uma eventual prefeitura de Marília Arraes fará.

O giro à direita do PSOL e de suas correntes internas como a Resistência e outras que não citamos nesse artigo, torna cada vez mais urgente a construção de uma alternativa revolucionária com independência de classe. É importante frisar que o giro a direita dessa corrente se expressa também nacionalmente, como no Rio de Janeiro, onde estão chamando voto no Paes no segundo turno.

Ver também: Sem limites para girar à direita, a Resistência, corrente do PSOL, chama voto no DEM no RJ

Nesse sentido, queremos abrir esse debate, reivindicando a campanha da Bancada Revolucionária em São Paulo, que usou as eleições como uma tribuna revolucionária, levantando a necessidade da independência de classe e de se enfrentar com esse regime de conjunto - junto a um programa para que os capitalistas paguem pela crise, assim como experiências internacionais como a FIT-U argentina, uma frente de independência de classes que tem dezenas de parlamentares que levantam um programa anticapitalista e independente de todas as alternativas burguesas, estando ombro a ombro em todas as lutas.

Ver também: As eleições no Recife e as tarefas dos revolucionários

 
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