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RACISMO
Comparação da renda das famílias brasileiras demonstra racismo estrutural
Mathias Nery

Depois das imagens da morte de João Alberto, um ato racista realizado por um policial e um segurança do Carrefour, o IBGE publicou uma pesquisa que compara famílias que tem rendas centradas em pessoas negras e brancas e demonstra o racismo estrutural no Brasil.

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Foto: Felipe Souza/BBC Brasil

Depois que João Alberto sendo agredido até morrer por policial e segurança do Carrefour, vários estados ocorreram atos em repúdio a rede internacional de hipermercados.

A escória do reacionarismo bolsonarista mesmo assim se pronunciou negando que o racismo existe no Brasil, como fez o vice-presidente Mourão e o próprio presidente.

Contudo, nesta quarta-feira, 25, foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018: Perfil das Despesas no Brasil, que deixa mais do que claro como o racismo é estrutural. A pesquisa mostra que as famílias chefiadas por negros no País vivem com praticamente metade do total despendido pelas famílias que têm como referência uma pessoa branca. O fenômeno inclui gastos essenciais, como alimentação, moradia e acesso à saúde.

As famílias brasileiras tinham uma despesa média total per capita de R$ 1.667,90 em 2018. No entanto, entre as famílias que tinham uma pessoa branca como referência (alguém que pague ao menos uma das contas da casa) esse valor subia a R$ 2.279,19. Por outro lado, a despesa per capita nas famílias chefiadas por negros ou pardos alcançava somente 53% desse valor: R$ 1.207,11. O cálculo considera as despesas monetárias, que foram efetivamente pagas com recursos financeiros, mas também as não monetárias, que incluem o consumo de bens e serviços públicos como educação e saúde, de doações e da produção própria de alimentos, por exemplo.

A diferença nas despesas era considerável mesmo nos gastos essenciais. O gasto per capita com alimentação das famílias com chefes brancos era de R$ 269,44 ante R$ 181,60 entre as famílias com chefes negros. Na habitação, a despesa entre os brancos alcançava R$ 644,31, ante R$ 330,72 entre os negros. O mesmo ocorria no dispêndio com assistência à saúde, com um gasto per capita de R$ 183,94 entre os brancos ante R$ 94,99 entre os negros. Na média nacional, as despesas correntes consumiam R$ 1.554,06, enquanto uma fatia de R$ 63,61 era destinada a investimentos e R$ 50,22 iam para pagamento de dívidas. Nas famílias lideradas por brancos, a verba de R$ 103,46 per capita destinada a aumentar o patrimônio superava em mais de três vezes o montante obtido pelos negros para esta mesma finalidade, apenas R$ 33,27.

Esses dados demonstram que o capitalismo, não só ceifa cotidianamente as vidas dos negros através da polícia e do sistema prisional, como também mantém os negros com as condições de vida mais precárias que os brancos em todos os flancos. Uma forma de manter uma massa na miséria, que a joga nos piores postos de trabalho, com os salários mais baixos, sendo brutalmente explorados, e com isso garantir lucros ainda maiores aos patrões e empresários em cima do seu trabalho.

As famílias chefiadas por negros têm menos renda disponível que as lideradas por brancos em todos os estratos sociais, seja entre os mais pobres, seja entre os mais ricos. A Renda Disponível Familiar Per Capita (RDFPC) de famílias que têm como referência uma pessoa branca era de R$ 2.241,80, quase o dobro dos R$ 1.206,76 obtidos pelas famílias lideradas por pessoas pretas ou pardas.

Entre os 5% mais pobres, as famílias brancas conseguiam uma renda de R$ 245,82, ante R$ 141,98 das famílias negras. A tendência permanece a mesma em todas as faixas de renda, até a mais elevada, ou seja, os negros têm menos renda que os brancos mesmo quando alcançam o estrato mais rico. Entre o 1% mais rico da população brasileira, as famílias chefiadas por brancos tinham uma renda per capita disponível de R$ 23.414,51, enquanto as famílias que tinham como referência uma pessoa negra possuíam menos da metade desse valor, R$ 9.734,79.

O que esses dados também devem nos fazer pensar é que ter mais negros dentre os mais ricos do Brasil ou do mundo não significa a melhoria das condições de vida de toda a população negra, apenas de uma ínfima minoria que lucra também com o racismo. Não se luta contra o racismo por dentro das regras desse sistema podre, que traga diariamente nossas vidas, que tem intrinsicamente às entranhas a necessidade e o gosto de oprimir os negros.

Neste vídeo a Letícia Parks fala sobre as contradições do liberalismo para a luta negras :

A RDFPC média no Brasil foi de R$ 1.650,78 no ano de 2018, sendo que 23% desse montante, R$ 379,97, foram adquiridos de forma não monetária, o que inclui os valores de bens e serviços providos pelo governo, instituições e outras famílias, além da produção para próprio consumo. A renda não monetária, como a proporcionada pelos serviços de saúde e educação públicos e pela produção de alimentos, é fundamental para a sobrevivência dos brasileiros mais pobres. Entre os 10% mais pobres, 42,5% da renda familiar per capita disponível é não monetária.

Isso significa uma maior dependência dos negros em relação aos serviços fornecidos pelo Estado brasileiro, ao mesmo tempo em que vemos hoje é um regime golpista que avança atacando a classe trabalhadora de conjunto, que atinge principalmente a população de cor. Isso significa que a luta contra a Lei de Teto de Gasto, a Reforma trabalhista, a Reforma da previdência, a MP da Morte de Bolsonaro e entre outras, é uma luta da juventude e trabalhadores, mas principalmente das negras e negros, que mais sofrem com esses ataques. Nesse sentido, não podemos confiar em agentes desse regime para defender nossos direitos.

A renda mínima per capita apontada pelas próprias famílias como necessária para chegar até o fim do mês ficou em R$1.331,57 em 2018, o equivalente a 80,7% da renda disponível. Entre os 10% mais pobres, porém, a renda mínima era de R$ 470,29, quase o dobro dos R$ 244,62 disponíveis.

O IBGE lembra que os 10% mais ricos concentram três vezes mais renda do que os 40% mais pobres juntos. Enquanto os 40% mais pobres contribuem com R$ 215,30 para a média da Renda Disponível Familiar Per Capita, os 10% mais ricos respondem por uma fatia de R$ 629,37. A renda disponível dos 10% mais ricos era de R$ 6 294,83, enquanto a renda dos 40% mais pobres somava R$ 538,22.

Brasil tinha quase 3 milhões eram miseráveis em 2018

Mais de 25 milhões de brasileiros viviam abaixo da linha de pobreza no ano de 2018. Quase 3 milhões de pessoas sobreviviam na miséria. Segundo o IBGE, 77,8% da pobreza estava concentrada em famílias que têm como referência uma pessoa preta ou parda. A pesquisa do IBGE considera a classificação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) para a pobreza extrema, ou seja, pessoas com renda disponível familiar per capita inferior a US$ 1,90 por dia, na conversão pelo método de "paridade de poder de compra" (PPC), que não leva em conta a cotação da taxa de câmbio, mas sim o valor necessário para comprar a mesma quantidade de bens e serviços no mercado interno de cada país em comparação com o mercado interno dos Estados Unidos.

A população que vive abaixo da linha de pobreza é aquela com renda disponível de US$ 5,50 por dia também na conversão pelo método de PPC. A avaliação de pobreza segundo esses critérios - considerando toda a renda disponível, inclusive a não monetária - mostrou que 1,4% da população vivia na extrema pobreza, o equivalente a 2,899 milhões de pessoas, e 12,1% estavam abaixo da linha de pobreza, 25,053 milhões de brasileiros. Ainda que grave, o resultado é menos agudo do que de outras pesquisas que contabilizam apenas rendimentos monetários, uma vez que o acesso a doações, produção própria de alimentos e serviços públicos como educação e saúde, por exemplo, são contabilizados como renda disponível, com peso importante especialmente para a sobrevivência das famílias mais pobres.

As condições de moradia inadequadas.

O levantamento do IBGE mostra que cerca de 48,7 milhões de pessoas em todo o País não vivem em moradias plenamente adequadas, o equivalente a 23,5% de toda a população brasileira. Dois terços dessas pessoas moram na área urbana. Também houve diferença considerando a cor ou raça da pessoa de referência do domicílio: quase 75% dos que viviam com ao menos um tipo de inadequação no domicílio tinham como referência da família uma pessoa negra.

A pesquisa considerou como inadequados: parede sem revestimento ou de madeira aproveitada; cobertura em zinco ou alumínio; piso de cimento ou terra; ausência de banheiro exclusivo. Em todo o Brasil, 79 milhões de pessoas vivem em domicílios em áreas afetadas por violência ou vandalismo, segundo o IBGE, o equivalente a 38,2% da população brasileira. A região com menor proporção de famílias com esse tipo de queixa foi o Sul, com 29,4% da população local sob essas condições, seguido pelo Sul.

Assim como aponta Marcello Pablito, em Que reforma urbana defendemos para São Paulo?:, “na história colonial brasileira a concentração de terras no campo estava ligada a escravidão, nas cidades a concentração do solo e dos serviços está ligada ao trabalho precário e informal, sobretudo do povo negro, e a brutal desigualdade de renda”, ou seja, a luta por moradia digna para a população contra os grandes proprietários, está ligada intrinsicamente com a luta contra a herança escravista desse regime golpista.

A força da luta negra é imparável e marca a história das lutas contra a exploração desde a colônia, como é a história de Palmares. Recuperar essa história significa batalhar hoje por unir a força operária, negra, de mulheres e LGBTs. A luta contra o racismo no Brasil deve ser uma luta anticapitalista e esse sistema de escravidão assalariada, se enfrentando com Bolsonaro, Mourão e cada partido e juiz que sustenta esse regime do golpe e herdeiro da Casa Grande. Uma luta contra as reformas e pela igualdade salarial entre homens e mulheres, negros e brancos. Pela proibição das demissões e por um plano de obras públicas que gere emprego e ofereça moradia e saneamento digno para toda a população negra. Essa é a verdadeira batalha, para acabar com o topo e arrancar uma sociedade livre de racismo acabando com a exploração e a desigualdade.
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Com informações da Agência Estado

 
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