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EDITORIAL
O povo do Amapá não pode esperar, é necessário uma resposta imediata da esquerda
Marcello Pablito
Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.
Daphnae Helena

A situação de caos social que vive o estado do Amapá não é um acidente, mas responsabilidade direta da privatização, sendo uma expressão do projeto de país do regime golpista. É urgente que os principais partidos e figuras públicas da esquerda entrem nessa batalha para transformar a causa do Amapá em uma causa nacional.

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O estado do Amapá está há mais de uma semana com treze dos seus dezesseis municípios sem energia elétrica. A população passa por uma situação de desespero total, sem energia, sem água potável, sem comida, sem internet, sem sinal de celular e comunicação. Enquanto os condomínios da família Alcolumbre e dos juízes estão sendo alimentados 24h, o rodízio de energia e o abastecimento de água não chega aos bairros da periferia, nem tampouco nas comunidades quilombolas e indígenas. As manifestações que a população realizou nestes últimos dias foram brutalmente reprimidas pela polícia que cegou crianças, entrou nas casas dos moradores atirando e mesmo assim os protestos seguem.

A pouca repercussão que o caso vem tendo nas mídias não é desinteressada. Em primeiro lugar porque o projeto econômico de privatizações também é parte da agenda defendida pela mídia burguesa. Estes meios de comunicação, como a Rede Globo, que estão a serviço dos lucros de empresários e banqueiros nacionais e internacionais, fazem uma verdadeira campanha pela aprovação da agenda de ataques como a reforma administrativa e as privatizações. Em segundo, porque impera no país um pacto do regime golpista que abarca Bolsonaro, militares, Centrão, STF, Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre e Rede Globo. O conteúdo desde pacto é avançar na obra econômica do golpe, jogando os custos da crise nas costas dos trabalhadores para garantir o lucro dos capitalistas.

A situação que vive o estado do Amapá é expressão desse projeto de país do regime golpista.

O apagão no estado do Amapá não foi acidente, foi fruto da privatização que coloca o lucro dos empresários a frente da vida de milhares de pessoas. A empresa que era responsável pelo gerenciamento da subestação de energia é a Isolux Corsán, de capital espanhol. Essa empresa declarava problemas financeiros desde 2016 e, com a crise atual, entrou com pedido de recuperação judicial na Espanha e no Brasil. Para garantir os retornos de seus acionistas, a companhia se desfez de uma série de “ativos”. Entre eles, a participação que tinha na operação de energia do estado do Amapá, transferindo-a nesse ano para a Gemini Energy, uma holding controlada pelas gestoras internacionais Starboard Partners e Perfin.

A Isolux Corsán manteve por quase um ano os transformadores de energia em mau estado. No momento do apagão, dos três equipamentos que deveriam estar operando, apenas um estava funcionando corretamente, os outros dois estavam em manutenção e quebrado. Foi por isso que o incêndio em um dos transformadores deixou praticamente todo o estado do Amapá no escuro. Ao contrário do discurso utilizado no primeiro momento, de que o incêndio havia sido causado por um raio, as investigações descartaram essa hipótese.

Ironicamente, a empresa que assumiu o suprimento emergencial de energia foi a estatal Eletronorte, subsidiária da Eletrobrás. Em meio ao apagão, o secretário de desestatização do Ministério de Paulo Guedes, Diogo Mac Cord, foi a imprensa acalmar o mercado financeiro e garantir que a situação do estado não impacta no projeto de privatizações. O setor de energia, no qual opera a estatal Eletrobrás, é um dos que estão na mira da política de concessão ao capital privado, assim como o setor do petróleo com a venda das refinarias da Petrobrás.

Em meio a pandemia de Covid-19, com números que estavam aumentando no estado, a população, os trabalhadores, os indígenas e quilombolas ficaram sem energia, sem água, sem comida. Mas as balas de borracha e gás lacrimogênio da polícia sobraram para reprimir brutalmente as manifestações daqueles que exigiam o mínimo para sobreviver.

A reação dos governos municipais, estadual e federal foi de deixar a população sem garantias básicas de sobrevivência. A prefeitura de Macapá, de Clécio Luís (que foi do PSOL, depois da Rede e agora é sem partido), enviou caminhões pipa para a população com água suja que não era potável. O governador do estado, Waldez Góes (PDT) disse que a responsabilidade era da União. Bolsonaro disse em sua live “essa energia lá não é responsabilidade do Estado nem da União. É de uma empresa lá que ganhou a concessão”.

O Amapá é o estado de origem de um importante ator nacional, o presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM). A família Alcolumbre é uma das que controla a política local do Estado. Não à toa, o presidente do Senado diminuiu as sessões em Brasília para acompanhar a candidatura do irmão, José Maciel Alcolumbre, para a prefeitura da capital do estado em Macapá. Mesmo com a situação calamitosa no estado, as eleições burguesas estavam mantidas até o início da semana. A decisão do adiamento apenas ocorreu pelas manifestações dos amapaenses e o medo de que ocorressem protestos neste domingo.

O peso que Davi Alcolumbre e o DEM - mesmo partido do presidente da Câmara Rodrigo Maia- possuem no Amapá, indica mais uma razão pela qual a cobertura da mídia burguesa está sendo criminosa, ao dedicar poucas linhas para a divulgação dessa situação extrema pela qual passam os amapaenses.

O governo federal de Jair Bolsonaro foi nas redes sociais mentir e dizer que a 76% da energia havia voltado e que situação estaria normalizada até o final dessa semana. A realidade é que a previsão do governo é de normalização apenas em trinta dias. Nos últimos dias, o que reina é o silêncio de Bolsonaro em relação ao Amapá. Ao invés disso, foi na mídia fazer um falso discurso nacionalista de defensor da Amazônia, quando o seu governo, apoiado pelos latifundiários do agronegócio – setor com importante participação de empresas estrangeiras- vem sendo o responsável pela maior destruição ambiental que já se viu com queimadas e com o assassinato da população indígena por garimpeiros, como foi o caso do cacique Emyra Waiãpi, da terra indígena Waiãpi, no Amapá, morto a facadas no ano passado.

Ao mesmo tempo, partidos burgueses que supostamente fazem oposição ao governo Bolsonaro, que se colocaram contra o golpe e falam em nome de um suposto progressismo, como é o caso do PDT de Ciro Gomes, mostram ali sua verdadeira política. O governador Waldez Góes deste mesmo partido, não apenas se isenta de qualquer responsabilidade, como também é responsável pelas ações absurdas de repressão policial que cega crianças. Além disso, Goés está empenhado na eleição do irmão de Alcolumbre para a capital do estado, onde o PDT aparece coligado com o DEM e uma série de outros partidos do Centrão.

Por outro lado, partidos como o PT e PC do B que dirigem duas das maiores centrais sindicais do país, nada mais fizeram do que soltar notas de solidariedade. Afinal, estes partidos se aliaram em diversos municípios com os golpistas e também com o DEM de Alcolumbre. Para a sua estratégia eleitoral não interessa a organização de uma solidariedade ativa e a mobilização para garantir medidas urgentes como comida e água para os amapaenses. Interessa menos ainda ao PT, tendo em vista que recentemente Lula tem retomado o diálogo com o Ciro Gomes. A estratégia do PT é se preparar para gerir o regime do golpe em 2022, enquanto isso para a população amapaense a situação é a que uma moradora descreveu “se a gente não morre de sede, fome ou Covid, a polícia termina o serviço”.

Mas a situação do Amapá não ganha os jornais também pelo exemplo que a população, maioria de trabalhadores, negros e indígenas está dando, com diversas manifestações de revolta: apenas na capital do estado foram mais de 45 protestos nos últimos dias. Não podemos esquecer que as derrotas internacionais que sofreu a extrema-direita de Bolsonaro, foram todas precedidas de grandes conflitos da luta de classes. E a burguesia sabe que a situação extrema que estão vivendo os amapaenses e sua revolta e ódio também é compartilhado em muitas outras regiões do Brasil, nas quais os trabalhadores, maioria negra, convivem diariamente com a violência policial, com a precarização do trabalhado, da vida, com as mortes por falta de saneamento básico e falta de uma política racional de combate à pandemia.

É por tudo isso, que é fundamental a esquerda cercar de solidariedade os trabalhadores, negros e indígenas do Amapá que estão se manifestando. Os partidos de esquerda, parlamentares, candidatos, sindicatos, deveriam se colocar contra a brutal repressão da polícia e ajudar a colocar de pé um plano de emergencial para conseguir geradores de energia, alimentos, água potável para toda a população sob controle dos próprios trabalhadores amapaenses que hoje sozinhos organizam ações de solidariedade para angariar insumos básicos para as populações mais pobres. Além disso, é preciso colocar de pé uma luta contra a privatização que coloca os lucros dos empresários acima das vidas dos trabalhadores e pela estatização de todo sistema de energia sob controle dos trabalhadores.

O MRT, pela via do Esquerda Diário e das candidaturas a vereança, com a Diana e a Bancada Revolucionária em São Paulo, Valéria Muller em Porto Alegre e Flavia Valle em Contagem, está dedicando o máximo de forças que dispõe para denunciar a situação do Amapá e a situação de calamidade pela qual estão passando (com entrevistas, podcasts e vídeos), nos incorporando aos chamados de twitaço que estão realizando. Mas para o tamanho do problema se trata de algo totalmente insuficiente, é urgente que as principais figuras públicas da esquerda entrem nessa batalha para transformar a causa do Amapá em uma causa nacional.

É uma ilusão municipalista achar que é possível gerir uma cidade em meio a maior crise sanitária e econômica que o mundo já viveu. A perspectiva da esquerda, em especial do PSOL porque é visto por um setor como uma alternativa à esquerda do PT, teria que ser de utilizar essas eleições para organizar a classe trabalhadora numa perspectiva anticapitalista e de enfrentamento ao regime do golpe. O PSOL, ao contrário, segue trilhando caminhos semelhantes aos petistas, persistindo na estratégia de coligações e alianças que elegeu, justamente Clécio Luis para prefeito de Macapá em 2013. Quando prefeito pelo PSOL, Clécio se enfrentou com uma greve de professores e foi defendido pelas direções desse partido, o que mostra até onde chega essa estratégia de administrar o regime. Esse é o prefeito atual da capital, que saiu do PSOL e foi para o partido golpista Rede e agora está sem partido.

Esse é o combate que as candidaturas a vereança do MRT estão se colocando. Para construir um parlamentarismo revolucionário que sirva para denunciar a situação que vivem os trabalhadores e ajudar a organizar as lutas, estando lado a lado dos trabalhadores, dos negros, dos índios, das mulheres, contra os ataques e a repressão dos capitalistas. Nesse enfrentamento ao regime não basta mudar os jogadores, é necessário mudar as regras do jogo. Por isso defendemos a necessidade de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, imposta pela mobilização dos trabalhadores, para que os trabalhadores possam revogar os ataques impostos pelo regime golpista e para decidir sobre as principais questões do país.

 
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