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Política Bolívia
Arce foi empossado como o novo presidente do Estado Plurinacional da Bolívia
Juana Gabriela Runa

Luis Arce Catacora foi empossado como presidente eleito do Estado Plurinacional da Bolívia acompanhado por milhares de camponeses e delegações sindicais. Fez um discurso conciliador e com muitas promessas.

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Na manhã deste domingo, com a presença de milhares de camponeses provenientes dos departamentos de La Paz, Oruro e Potosí, assim como delegações sindicais, Arce recebeu a faixa presidencial e assumiu a presidência do Estado Plurinacional da Bolívia. O fez também sob a presença de comissões internacionais que estiveram presentes na cerimônia. Cabe ressaltar que o que mais “levantou poeira” foi a atitude do presidente do senado – o líder cocaleiro, Andrónico Rodríguez-, que para receber o Rei da Espanha optou por fazer uma revência e se inclinar frente a ele. Fez isso na frente de nada mais nada menos do que a figura que expressa de maneira direta o colonialismo sofrido pelos povos indígenas. Isto põe em evidência, de maneira simbólica, os limites da “descolonização” evista e do MAS.

Por sua vez, a oposição de centro-direita, chefiada por Carlos Mesa da Comunidad Ciudadana(CC), havia anunciado que não assistiria a cerimônia da posse como protesto pela mudança no regulamento de sessões parlamentares que o MAS realizou na última sessão da anterior Assembleia Legislativa Plurinacional(ALP). Recordemos que com esta modificação, o que antes exigia dois terços do Parlamento para atribuições próprias deste órgão de Estado agora exige apenas maioria absoluta, como por exemplo, construir comissões de investigação ou aprovar promoções policiais e militares, entre outros.

Esta mudança de regulamento permite ao MAS controlar o funcionamento do Parlamento e evitar o veto da oposição. Mas no último momento Mesa e sua bancada decidiram participar da cerimônia para fazer ser visível seu protesto diante da comunidade internacional. Declararam à imprensa que teria início um processo constitucional para reverter a citada resolução parlamentar, a qual qualificaram como um atentado às regras democráticas. A mudança de política de Mesa, “inteligente” como qualificaram no CC, permitiu-lhe ganhar visibilidade frente as delegações diplomáticas convidadas e diante da imprensa nacional e internacional. Mas sobretudo, lhe permitiu distanciar-se da ala dura do bloco golpista que são os que não assistiram a posse. A bancada de Mesa se limitou a mostrar suas bandeiras apresentando-se como uma oposição moderada e “respeitosa” da lei. Com esta atitude, Mesa busca consolidar sua figura como uma opção séria e estrategicamente viável para a burguesia, já que os Camachos, Añez ou Murillos, são uteis para a agitação das ruas, mas não para fazer os bons negócios, que é o que a classe dominante pretende.

Por sua vez, a ex-presidenta Jeanine Añez, assim como todos os membros de seu Governo, não esteve presente e acompanhou a posse do sua casa, na cidade de Trinidad no departamento do Beni. Da mesma maneira, Luis Fernando Camacho e sua bancada parlamentar, da aliança Creemos, tampouco estiveram presentes, como gesto de denúncia pelos regulamentos parlamentares e pela suposta fraude eleitoral, que usaram para tentar impedir a tomada de posse de Arce e Choquehuanca.

Enquanto David Choquehuanca, ex-chanceler durante o Governo de Evo Morales, em seu discurso de posse como vice-presidente realizou uma intervenção que buscava enviar mensagens tranquilizadoras e conciliadoras com a oposição, Luis Arce, ex-Ministro da Economia, e a partir de hoje, Presidente da Bolívia, em seu discurso fez várias vezes referencia ao golpe de Estado e os massacres que se levaram a cabo durante o mês de novembro do ano passado. Recordemos que Arce durante sua campanha eleitoral, evitou falar de golpe e se referia a Añez como presidente transitória, chegou inclusive em uma entrevista realizada pela rede PAT, no mês de julho, a afirmar que reconhecia Añez como presidenta constitucional.

Entre as referências ao golpe de Estado e aos massacres ocorridos, ele assinalou “Sacaba, Senkata e El Pedregal são provas irrebatíveis da brutalidade do regime, mas também são símbolo da dignidade e resistência de homens como Carlos Orlando Gutiérrez Luna, grande dirigente mineiro que lutou com valentia pela recuperação da democracia e que sempre viverá no coração do povo”. Assim também notou que “A Bolívia foi cenário de uma guerra interna, as duas tarefas do Governo, a pacificação e chamar novas eleições, não se cumpriram. A morte, o medo e a descriminação foram disseminados”.

Estas mensagens foram interpretadas por grande parte da imprensa hegemônica e a oposição como um discurso que pretende semear o ódio e “olhar para trás”. Se esquecem que Arce se referiu a necessidade, no mesmo sentido que Choquehuanca, de “governar para todos” e buscando construir pontes com a oposição. Em suas palavras “Devemos por fim ao medo na Bolívia. Creio na justiça, não em fomentar um ambiente de ressentimento e vingança que não respeita a diversidade de pensamento, onde ser de outro partido ou de outro espectro político te faz objeto do ódio. Isto deve acabar”.

O novo governo do MAS foi respaldado por uma importante legitimidade nas urnas, que lhe deu vitória no primeiro turno com 55,10% mas nasceu fortemente condicionado não só por uma profunda crise econômica e social em curso, mas também por uma crise política que o resultado eleitoral de 18 de Outubro não permite encerrar.

Neste cenário, o Governo de Arce e Choquehuanca será também um Governo acuado e condicionado, não só pelo parlamento, mas sim também nas ruas, por uma direita ultraconservadora e racista. Mesmo assim, as disputas e brigas internas dentro do Movimento Ao Socialismo (MAS) começam a aflorar logo depois do triunfo eleitoral, abrindo uma incógnita sobre como serão resolvidas as lutas entre as tendências deste partido. O retorno de Evo Morales ao país foi um fator a mais que revela as contradições dentro do próprio MAS, onde existem correntes que opinam que esta chegada é inoportuna e que exigem que a vitória que deram ao MAS seja para que se leve adiante uma “renovação completa”. Nos próximos dias e semanas começaremos a ver com mais clareza o desenrolar das diversas tendências que disputam os espaços de poder e de decisão no interior do partido.

As condições econômicas que Arce tinha quando era ministro foram embora para não voltar mais. Em seu discurso, o mesmo disse que “segundo dados publicados pelo INE (Instituto Nacional de Estatística, NdR), no segundo trimestre deste ano nosso país deixou de liderar o crescimento econômico da América do Sul durante seis anos no período entre 2006 e novembro de 2019 para presenciar o tombo mais forte da economia nos últimos quase 40 anos”.

Resta ver como Arce pretende satisfazer as necessidades e promessas realizadas, ainda mais quando destacou que “(...) de nada serve eleger as autoridades por meio do voto, se ao mesmo tempo, as pessoas a quem a democracia se deve estão privadas dos direitos fundamentais, como o acesso a saúde, a educação, ao trabalho, a renda e moradia”. Demissões massivas estão acontecendo agora, e a ameaça de uma possível segunda onda da pandemia está se aproximando.

Traduzido de:http://www.laizquierdadiario.com/Arce-juro-como-nuevo-presidente-del-Estado-Plurinacional-de-Bolivia

 
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