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ELEIÇÕES EUA
O voto latino nas eleições americanas
Óscar Fernandez

Frente a comícios fortemente vigiados e com grande polarização entre ambos os candidatos, junto ao contexto de mobilizações do #BlackLivesMatter, em quem irá votar a comunidade latina é uma pergunta para os dois partidos do regime americano. Segundo estimativas, são 32 milhões de latinos que poderiam votar e se espera que 14 milhões votem.

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(Foto: Life Matters en Pexels)

O Partido Democrata, longe do que os meios de comunicação e entretenimento do gigante do norte instalaram na consciência coletiva, é na realidade o que em outros países poderia ser chamado de um partido de centro-direita pelas políticas que defende. No entanto, conseguiu se auto-proclamar como o paladino dos direitos das minorias, entre elas a comunidade LGBTI+ e os negros e latinos.

Essa postura vem da inversão que ocorreu nos anos 1950 e 1960 - ainda que aconteceram fatos importantes nos anos 1930 e 1940 com a presidência de Roosevelt e seu New Deal - na qual os democratas, que eram um partido conservador e criado por confederados e membros da Ku Klux Klan, começou a usar a seu favor o movimento dos direitos civis, enquanto os republicanos faziam o mesmo com setores brancos, veteranos de guerra, famílias de classe média e a direita cristã. A população latina, no entanto, não se ajustou mecanicamente a esta situação.

Comunidade latina: entre democratas e republicanos

Se nos territórios que pertenciam ao México - Utah, Colorado, Nevada, Arizona, Novo México, Califórnia e Texas - a população latina, que é majoritariamente mexicana e centroamericana, geralmente vota nos democratas, na Flórida e estados vizinhos, bastiões das comunidades cubana e venezuelana, estes setores são uma forte base dos republicanos, especialmente por sua aversão aos regimes de seus países de origem, de onde vieram expulsos, particularmente os cubanos, os chamados “gusanos” [vermes] que pertenciam à burguesia batistiana derrubada pelo castrismo.

Mas este ano a eleição é mais complicada. O mundo foi testemunha de vários processos de mobilização na América Latina: Bolívia, Equador, Chile, Colômbia e na própria porta do imperialismo em Porto Rico, onde o governador colonial teve que renunciar.

Este panorama impõe travas a Trump, já que seus principais aliados, Bolsonaro e Áñez, sofreram uma humilhante derrota nas eleições recentes na Bolívia, ao que se soma o processo constitucional chileno onde o voto por uma nova carta magna foi arrasador; além disso, a negligência de Trump pelos porto riquenhos criou uma má percepção dele nessa comunidade.

#BlackLivesMatter e novas formas de pensar

Isso não quer dizer que Biden tenha assegurado a vitória. Longe dele, as gerações mais jovens tiveram uma importante recepção das ideias de esquerda, e a palavra “socialismo” já não é um fantasma que os republicanos possam incitar para que as pessoas não votem pelos seus oponentes - como ocorreu na eleição de 2008 quando acusavam Obama de ser socialista - mas uma categoria política com a qual muitos “millenials” e “zoomers” se identificam.

Muitos desses jovens viram na linha de frente o acionamento da polícia contra as manifestações do #BlackLivesMatter e o uso da Guarda Nacional - que nos Estados Unidos são um corpo de milícias ou “mini exércitos” que cada estado possui - por parte dos prefeitos e governadores democratas.

Isto gera um caldo forte para que na realidade haja um alto índice de abstenção entre os latinos; em 2016, frente a eleição entre Hillary Clinton e Donald Trump, 47% dos eleitores latinos se recusaram a votar por que não viam grandes diferenças entre os candidatos, apesar da insistência de Bernie Sanders para votar em Clinton e hoje novamente em Biden, além de possuir atrás de si o famoso “Squad”, políticas democratas de minorias como Alexandria Ocasio-Cortez e Rashida Tlaib que fazem coro em sua campanha pela vitória democrata.

Em uma situação onde a crise do coronavírus desnudou a incapacidade da administração de Trump de conter a pandemia, a eleição se vê mais como uma espécie de votação contra o magnata do que como uma disputa por um novo presidente.

Se o presidente tentou usar a economia a seu favor - com argumentos como o aumento (pequeno) do PIB e as aposentadorias - também é verdade que deixou de dar o “green card” aos imigrantes latinos, a exceção dos diaristas que trabalham nas plantações dos estados do sul como Arizona, Texas e Califórnia, e dos quais dependem em grande medidas as companhias do agronegócio como mão-de-obra ultra-barata. A isto se soma o aumento do desemprego, que atingiu com força negros e latinos, que também concentram a maior quantidade de mortes por causa da pandemia.

Biden mal pode enfrentar esta onda, já que tenta parecer um político moderado, distante das ideias radicais e de esquerda e com promessas como não proibir o fracking e manter sanções contra a China, sendo visto como um político ligeiramente menos problemático que Trump. Nesse sentido, os latinos não necessariamente vão votar nele, ainda que a pressão seja forte para evitar que uma segunda administração de Trump deporte em massa vários jovens que estão estudando no país imperialista.

O que estas eleições nos deixam é que nem republicanos nem democratas são uma opção viável para a comunidade latina. Seria muito diferente se existisse um partido verdadeiramente de esquerda, anti-imperialista, socialista e com uma agenda pró-imigrantes e enraizado na classe trabalhadora, nos sindicatos e nos movimentos de mulheres. Colocaria em primeiro plano que, efetivamente, o bipartidarismo histórico é uma farsa e que ambos os partidos defendem os mesmos interesses: os do capitalismo imperialista.

 
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