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POLÊMICA
Debate com PSOL-SA: é possível uma GCM da paz?
Redação

Nesse texto queremos fazer um debate programático com a candidatura de Bruno Daniel pelo PSOL em Santo André e todos aqueles que buscam construir uma alternativa dos trabalhadores contra Paulo Serra e a extrema direita.

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Já viemos debatendo em uma série de artigos e com retirada da candidatura de Maíra Machado o tremendo erro que era a decisão do PSOL se coligar com a REDE, partido que apoiou o atual prefeito Paulo Serra do PSDB em Santo André e como isso não favorece uma saída alternativa, ao contrário, repete os mesmo erros do PT que quiseram governar o capitalismo brasileiro e abriram espaço para a extrema direita no país. Com um discurso de administrar uma "Outra Santo André" em meio ao bolsonarismo, Bruno Daniel também com relação a polícia mostra que não pode representar uma alternativa independente dos trabalhadores.

O governo Bolsonaro junto aos militares é a expressão da militarização da política, do ódio a classe trabalhadora, aos negros, mulheres e LGBT’s. Desde sua eleição vimos os ânimos da polícia para aplicar com ainda mais força a violência para repressão da população, com peso especial para a os negros e pobres.

Em recente publicação Bruno Daniel, candidato a prefeito pelo PSOL em Santo André, diz que em sua prefeitura a Guarda Civil Municipal (GCM) terá "o papel de promover uma cultura de paz". Tendo um papel "complementar ao do policiamento estadual, atuando além da segurança patrimonial". A ilusão da esquerda na polícia é ainda mais grave frente ao reacionário Bolsonaro e a militarização da política brasileira. Também é uma afronta frente ao movimento que percorreu o mundo e começou nos EUA contra a morte de George Floyd.

Em Santo André, a polícia tem um histórico gigante de repressão a juventude e em especial aos trabalhadores e suas lutas. São diversos casos como o do Lucas, desaparecido após abordagem policial na Favela do Amor.

Somente na região do ABC os casos de violência policial aumentaram 466% desde o começo da pandemia, o que significa que se queremos construir uma alternativa dos trabalhadores além de termos de enfrentar a política de morte levadas pelos distintos governos frente ao coronavírus, também é um tema fundamental enfrentar a repressão cada vez maior em especial nas favelas e nas periferias, onde a violência já é sistemática.

Em Santo André, Bruno Daniel tem um discurso de que a GCM irá "promover uma cultura de paz". Um discurso que em si mesmo é vazio e não diz nada para aqueles que sofrem com a violência policial. Se o papel da polícia é proteger os ricos e reprimir os pobres, a paz da polícia de Bruno Daniel seria promovida para quem?

Com golpistas e por uma GCM ’da paz’ PSOL quer administrar, invés de combater, o regime do golpe

Em um dos comentários na publicação de Bruno Daniel que prometia uma "GCM pela paz" em Santo André, o candidato do PSOL responde um comentário sobre o caráter dos policiais dizendo "Infelizmente isso acontece, mas vamos partir sempre do princípio que não podemos generalizar. Focar e melhorias nos treinamentos e numa melhor capacitação, podem ser ferramentas que ajudem a melhorar essa relação. (...)É uma questão que vai além do bom senso, é uma cultura que precisa ser mudada, pois qualquer funcionário público é um servidor que deve respeitar a população que paga impostos e tem direito a serviços dignos”. O comentário mostra uma profunda ilusão tanto em uma suposta reforma da polícia, como também no Estado capitalista e seu aparelho repressor, mas se encaixa perfeitamente em sua tentativa de administrar uma cidade em uma conjuntura nacional cada vez mais marcado pelas consequências do golpe institucional.

O levante nos EUA ocorreu contra uma polícia cuja estrutura não é militar, mas é um dos símbolos do racismo, assim como a polícia aqui no Brasil. Os manifestantes gritavam pelo desfinanciamento da polícia, pela expulsão dos mesmos dos sindicatos porque em setores cada vez maiores não se tinha uma confiança na polícia, diferente da maior parte da esquerda brasileira que acha que é possível uma "polícia humanizada".

Frente as mobilizações que sacudiram o mundo em meio a pandemia e todo o reacionarismo da situação mundial, fazendo Trump ficar em segundo na corrida eleitoral, é trágico ter uma esquerda brasileira que cada vez mais se adapta ao regime golpista que militarizou ainda mais a política e que acredita numa polícia progressista.

A adaptação cada vez maior do regime que vem levando o PSOL querendo tentar se propor como administrador do estado capitalista, querendo colocar como possível governar cidades com um programa "progressista" em meio ao Bolsonarismo, sem querer travar uma luta nacional contra o regime do golpe. Também vai na contramão de qualquer combate a direita e dá mais força pra sua política de confiança na instituição policial.

Outra Santo André é possível sem uma luta nacional contra Bolsonaro, STF e o congresso que estão unificados para atacar os trabalhadores? Outra Santo André é possível aceitando a reforma trabalhista, a reforma da previdência e agora com a reforma administrativa? Não.

Só é possível enfrentar a violência policial e vingar cada morto pela polícia no Brasil, com uma luta implacável contra todo o regime e os agentes repressivos do Estado. Uma luta contra cada medida contra os trabalhadores e reformas aprovadas que atacaram a população e hoje já sentimos a piora em nossas vidas.

Isso poderia ser possível se as energias de todos os lutadores e partidos que se reivindicam de esquerda estivesse concentrada em fazer cada uma destas lutas vencer, e neste passo, erguermos uma luta nacional por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, para questionar não só "os jogadores", mas as regras deste jogo, onde sejam os trabalhadores quem decidam os rumos do país impondo com que sejam os capitalistas a pagarem pela crise. O que inevitavelmente desencadearia uma reação dos patrões e dos seus agentes, que não aceitariam passivamente a revogação das suas reformas, e em base a auto-organização dos trabalhadores, os revolucionários poderiam batalhar por um governo de trabalhadores em ruptura com o capitalismo.

É com essa perspectiva que levamos nossas candidaturas do MRT e a batalha que demos em Santo André contra a coligação do PSOL com a REDE, que é parte da luta contra a adaptação a esse regime. Também no Rio de Janeiro lutamos contra a indicação do ex-comandante da PM como vice da chapa. Porque não temos ilusão de que é possível uma “polícia humanizada”.

Por trás do discurso de uma “GCM que promova a paz em Santo André” se esconde a tentativa de sinalização cada vez maior para os ricos e poderosos de que o PSOL não é tão radical assim e pode sim governar o capitalismo, seguindo assim os passos que levaram o PT ao poder, o mesmo caminho que abriu espaço para a extrema direita em seu governo e nos faz ser governados por Bolsonaro e toda a corja golpista.

É necessário um caminho alternativo e a esquerda do PT, não a repetição de seus erros e política, mas um caminho de superação dessa experiência. Seus 13 anos de governo já mostraram não ser uma saída para o conjunto da classe trabalhadora e quando veio a crise econômica assistimos que o petismo longe de representar um avanço gradual e sistemático, foi um freio da luta dos trabalhadores a partir da atuação desse partido nos sindicatos. Para conciliar com a burguesia, era necessário frear a luta dos trabalhadores.

Em nada ajuda, a ilusão em uma polícia humanizada sendo que nos momentos agudos de luta e manifestação, seu papel serve para reprimir qualquer coisa que atrapalhe os lucros dos grandes capitalistas. Quem defende essa polícia vai na contramão de defender os trabalhadores, não sendo a polícia um “servidor público como qualquer outro”.

Mas isso não é uma contradição para o projeto que apresenta o Bruno Daniel, isso porque seu projeto político não é superar o capitalismo. É administrá-lo buscando humanizá-lo. Uma utopia regressiva em tempos de crise, como a atual. Vemos a cada dia que a violência policial acompanha a sanha de lucro dos capitalistas enquanto a crise avança. Nada nos será dado. Será arrancado pela luta de classes, para a qual os trabalhadores, a juventude negra e o povo devem ter claro que encontrarão na polícia o braço repressivo do Estado.

 
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