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GUERNICA E A LUTA POR MORADIA
Guernica: As famílias se defendem e revelam as armadilhas do Governo
Redação

Funcionários do governo de Axel Kicillof foram ontem nas intermediações da ocupação de terras para comunicar as famílias que lutam por moradia sobre a nova “proposta” do governo para a situação habitacional. Dezenas de moradores questionaram a proposta na assembleia, exigiram que a reintegração de posse marcada para o dia 14 de outubro seja anulada e reafirmaram sua luta por terra e moradia.

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Uma nova equipe de funcionários governo estadual se apresentou nas intermediações da ocupação de terra em Guernica, localizada na zona sul da Grande Buenos Aires, para comunicar a nova proposta do governo para atender a situação habitacional daqueles que exigem uma moradia digna. No entanto, os moradores expuseram na assembleia as numerosas perguntas não respondidas pelos funcionários, desmascarando que se trata de uma nova armadilha para retirá-los dos locais de onde vem lutando para ter um teto para seus filhos.

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A comitiva era formada pelos integrantes do Ministério de Desenvolvimento do estado de Buenos Aires, Santiago Fidanza, Diretor Estadual de Atenção Imediata e Federico Ugo, subsecretário de Economia Popular, junto a Braulio Silva, da Secretaria de Moradia, Gitano Moreno, subsecretário de Direitos Humanos e Mosconi, da Defensoria do Povo do estado de Buenos Aires. Além deles, foram acompanhados por Nerina Favale, diretora estadual da Abordagem Territorial de Políticas de Gênero e Diversidade Sexual.

Quando apresentaram a nova proposta do governo que tinha sido apresentada na mesa de diálogo que ocorreu na última terça-feira, Santiago Fidanza explicou: “A proposta que fizemos ontem na reunião é o que estamos propondo a partir do Estado é avançar por um lado para soluções habitacionais definitivas que vão levar um tempo para que as famílias que estão em situação de vulnerabilidade que possamos através de uma série de certificações determinar que são beneficiarias deste direito vulnerável, digamos. Esse programa contempla para Guernica a criação de 3 mil lotes. Isso vai se desenvolver por etapas, não vai ser imediato, estamos trabalhando tanto e quanto nós asseguremos que existe essa necessidade”.

Ou seja, em sintonia com as declarações levadas adiante pelo Ministro do Desenvolvimento do estado de Buenos Aires, Andrés “Cuervo” Larroque, aqueles que representam o governo de Kiciloff seguem negando que exista um problema estrutural de acesso à moradia que, aqueles que estão ocupando terras em Guernica são trabalhadores, terceirizados, trabalhadoras domésticas, pedreiros, catadores, que nos marcos da pandemia viram sua renda reduzida consideravelmente, sendo obrigados a escolher entre pagar um aluguel e dar comida para os seus filhos.
No entanto, quando os vizinhos perguntaram se poderiam ir imediatamente para esses “novos lotes”, os funcionários negaram essa possibilidade. Neste sentido, um dos tantos moradores que questionaram essa proposta colocou: “Aqui todos nós podemos ficar, nós podemos ficar aqui tranquilamente, então vocês que trabalhem.

O poder judicial tem que parar, vocês dizem que não, então cadê a proposta? Vocês do governo praticamente nos estão deixando no ar com o poder judicial. Como vocês podem dizer que não podem fazer nada em relação à reintegração? O grupo de famílias que estão em Guernica que fiquem nos terrenos até que se possa resolver o problema. Quando a questão dos terrenos esteja resolvida, aí vocês podem vir aqui com um documento que diga para cada ocupante que esteja qual é o número do lote que lhe corresponde e onde”.

Como ficou evidente, a proposta não conseguiu convencer os moradores que participaram da reunião. Algo lógico, levando em, consideração que os funcionários não puderam explicaram onde estariam estes 3 mil lotes, nem quando poderiam se mudar para eles. Mas o que deixaram bem claro e insistiram é que para que essa possibilidade exista no futuro, as famílias tem que abandonar o terreno antes da data de reintegração de posse, ou seja, antes do dia 15 de outubro. Por que o governo não decide fazer o translado imediatamente se realmente existe essa possibilidade, assim evitando a reintegração de posse? Essas terras “prometidas” existem obviamente desde o dia 20 de julho. Por que não foi feito o translado nestes meses? Perderam o tempo. Por que não o fazem antes do dia 15? Se não fazem isso, sua única proposta real é que saiam de lá e vivam onde possam (debaixo de uma ponte, por exemplo) ou a repressão. Das consequências desta, será responsável o governo nacional e estadual que tem nas suas mãos a resolução do conflito mas prefere apostar em armadilhas.

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Como se fosse pouco, os funcionários quiseram mentir na cara dos moradores. O Subsecretário de Economia Popular, Federico Ugo, disse: "Uma outra reivindicação que vocês nos fizeram, para acabar com os boatos: qualquer ocupante que esteja recebendo algum tipo de renda que tenha a ver com o Estado não vai perder ele, não vai receber nenhum castigo por estar nessa ocupação, de “sanção” por isso, nós somos o governo.” Boatos? De jeito nenhum. Tirar o direito à IFE (equivalente ao auxílio emergencial) e os benefícios estatais daqueles que ocupam terras é uma linha defendida publicamente ninguém mais que o Presidente da Câmara de Deputados da Nação, Sergio Massa. É um mecanismo macabro daqueles que são parte do governo da Frente de Todos para castigar e punir famílias que se atrevem a tomar nas suas próprias mãos a reivindicação adiada por terra e moradia.

Depois de ter apresentado a proposta muito fraca e sem nenhuma solução concreta para as famílias, sem ter respondido as perguntas dos moradores, os funcionários continuaram sustentando que nem todas as famílias que pedem terra e moradia passam por necessidades, como declararam para o La Izquierda Diario: “Nós propomos que reintegrem (se corrige), que desocupem o local voluntariamente. Nós desde o governo do estado acompanhariamos essa transação. A realidade é que nós, no trabalho com os moradores, percebemos que muitos vem com essa inquietude inicial de que não tem nada e depois no diálogo vamos encontrando situações nas quais podem ficar no espaço de algum familiar, de algum vizinho que lhes ceda um espaço…”

Assim, se apresentaram na ocupação oferecendo “supostas soluções”, enquanto no dia anterior seguia o assédio policial: um helicóptero da Polícia de Buenos Aires sobrevoou a ocupação, motos e quadriciclos oficiais da polícia civil entraram no terreno, continuam os processos penais contra os moradores que pedem por terra, e a data de reintegração chega em 7 dias.

Fica evidente que a proposta é uma nova armadilha por parte do governo contra as famílias que lutam por terra e moradia. O governo do estado não apresentou nenhuma solução concreta que garanta esse direito depois de dois meses e meio de luta das famílias em Guernica, no entanto, insistem em levar adiante um despejo pacífico, embora nenhum dos reclamantes tenha conseguido comprovar os títulos das propriedades. Frente à dúvida, querem garantir os negócios dos condomínios e clubes da zona e tirar o quanto antes as famílias de lá.

A luta das famílias de Guernica vem conquistando uma forte repercussão em toda a Argentina. O governo deve dar uma solução para esta reivindicação desesperada por terra e moradia de milhares de trabalhadores que nos marcos da pandemia se viram nas ruas. Caso ocorra a reintegração, as consequências serão responsabilidade do governo que deixa as famílias sem nada. O apoio que sua luta conquiste nos próximos dias será fundamental para pesar na balança dos meses que venham a favor dos trabalhadores em luta e dos setores populares. Cercá-los da mais ampla solidariedade possível é uma tarefa inadiável.

Publicado originalmente em La Izquierda Diario

 
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