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Eleições Bolívia
Com medo do MAS, golpista Añez retira sua candidatura à presidência da Bolívia
Juana Gabriela Runa

A um mês das eleições gerais na Bolívia de 18 de outubro, Jeanine Áñez renunciou à sua candidatura após várias horas de reunião com delegados da Comunidade Cidadã de Carlos Mesa. As duas últimas pesquisas aceleraram essa decisão. O bloco golpista discute a unidade enquanto o MAS se levanta.

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Há dois dias foram conhecidos os resultados de uma pesquisa de intenção de voto, realizado pela Fundação Jubileu, em que sem contar os votos nulos, brancos e indecisos (que no total rondam os 27%), colocaria Luís Arce em primeiro lugar Catacora, candidato do MAS, com 40,3% e em segundo lugar, com uma distância de quase 15%, Carlos Mesa da Comunidade Ciudadana (26,2%). Em terceiro lugar estaria o candidato da aliança “Creemos”, Luis Fernando Camacho com 14,4% e em quarto lugar estava localizada a até ontem candidata pela aliança “Juntos”, Jeanine Áñez com 10,6%.

Como é evidente, a repercussão desses resultados foi imediata. O mais marcante é que revelam a possibilidade de o MAS vencer no primeiro turno. Mas também expuseram algo que já era muito evidente, que é a queda acentuada da "popularidade" e aceitação de Áñez como opção eleitoral. Da mesma forma, consolida-se a figura de Luis Fernando Camacho, como candidato vencedor em Santa Cruz, e como expressão nacional de uma nova direita militante, conservadora e clerical.

Os resultados desta pesquisa baseiam-se em uma amostra de 16.000 pessoas, em todo o país, em áreas rurais e urbanas. Foi promovido pelo “Tu Voto Cuenta” que é um grupo que reúne mais de 25 instituições, entre as quais se destacam a Fundação Jubileu, a ONG Cipca (Centro de Pesquisa e Promoção do Campesinato), o sistema universitário estadual e rádios, entre outras. Isso permitiu que essas últimas tendências fossem tomadas de forma menos questionada, ao contrário do que aconteceu nos últimos dias com os resultados da pesquisa de empresas do CIESMORI.

Recordamos que se abriu uma polêmica com os resultados proporcionados pelo CIESMORI uma vez que esse teria realizado reuniões com a liderança da aliança Juntos de Áñez, além de se saber que eles tinham se beneficiado de um contrato com a Yacimientos Petrolifos Fiscales Bolivianos (YPFB). Embora esta pesquisa tenha colocado Luis Arce em primeiro lugar (26,2%) seguido por Carlos Mesa (17,1%), reduziu a diferença entre os dois para menos de 10% e colocou o ex-candidato Áñez, em terceiro lugar com 10,4%.

As diversas estratégias de campanha

É preciso dizer que, enquanto Arce Catacora do MAS enfoca a economia como o carro chefe de sua campanha, aproveitando o desastre econômico deixado nos 10 meses de governo de Áñez, ele tenta recriar as ilusões de que conseguirão resolver rapidamente a crise econômica. O jornalista Andrés Gomez Vela, entusiasta opositor de Evo Morales, resumiu em quatro elementos a explicação de por que o MAS conseguiu vencer no primeiro turno. Em primeiro lugar, assinala que o MAS se revelou um partido que não se baseia em “nenhuma figura” como o era Evo Morales; em segundo lugar, afirma que o MAS gera um sentimento de "identidade e pertencimento" entre seus simpatizantes. As outras duas causas que explicariam a eventual vitória do MAS são atribuídas aos erros da oposição; primeiro porque estão fazendo política a partir de suas bolhas e, segundo, porque se preocupam com o MAS e não com as pessoas que afirmam representar.

Por sua vez, Carlos Mesa, da Comunidad Ciudadana, concentrou-se - nas últimas semanas - em se separar do “Juntos” para não ficar preso ao forte desgaste de Áñez. Mesa não hesitou em acrescentar seu repúdio ao tratamento desastroso da pandemia e da economia, sem falar dos incêndios que devastam a Amazônia e várias florestas do país. A Comunidad Ciudadana se distanciou da multiplicidade de casos de corrupção que geraram muita rejeição em amplos setores da população.

Assim, a estratégia de Mesa de se separar de Áñez e do bloco governamental mostrou-se correta, tendo em vista o risco de que o peso morto que se tornou o“Juntos” poderia arrastar todo o bloco golpista ao colapso. Situação que se verifica com o desgaste acelerado de Áñez, que ontem culminou com sua renúncia à candidatura presidencial.

Em meio a tudo isso, a aliança “Creemos” de Luis Fernando Camacho e seu candidato a vice-presidente, o também ex-líder cívico de Potosí, Marco Antonio Pumari, teve um desenvolvimento contraditório nas últimas semanas. Ou seja, ao mesmo tempo em que perderam o apoio do Partido Democrata Cristão (PDC) ou de personalidades como o grupo Mario Cossio do Caminho Democrático para a Mudança (CDC) ou Ronald MacLean (ex-prefeito de La Paz), consolidou-se como uma terceira força, aumentando a intenção de votos. O objetivo de Camacho e Pumari é consolidar uma importante bancada parlamentar, bem como consolidar-se como alternativa militante de direita no futuro.

A renúncia de Áñez à candidatura, visando fortalecer um pólo de oposição ao MAS, não teve a recepção esperada e aquele fluxo de votos com que Áñez poderia ter contado, no Leste fortalecerá Camacho e no Oeste, muito provavelmente, Mesa, que pode significar não o fortalecimento de um pólo de oposição que poderia vencer a dupla presidencial do MAS, mas sim o risco do surgimento de dois pólos de oposição ao MAS e relativamente equilibrados nas intenções de voto. Diante desse cenário, a vitória do MAS no primeiro turno não parecia tão difícil.

Os grandes perdedores da decisão de Áñez são Luis Revilla (prefeito de La Paz), que em dezembro rompeu o acordo com Carlos Mesa para ingressar no “Juntos” e hoje terá que apoiar novamente Mesa, mas de fora e sem as cotas de poder, as que ele tinha antes de dezembro. Da mesma forma, Samuel Doria Medina, ex-candidato a vice-presidente de Áñez e conhecido empresário do cimento, hoje é forçado a aceitar esta decisão depois que vários chefes de seu próprio partido (Unidad Nacional) o deixaram de canto por dias antes para apoiar Mesa.

Agora, é preciso dizer que o temor de um retorno do MAS por todo o espectro golpista está incentivando e ampliando a voz de setores da ultradireita que torna a possibilidade do banimento do MAS para o dia 18 de Outubro. É o que se verifica, por um lado, nas cerca de 40 reclamações contra esta sigla, com argumentos e eixos jurídicos diversos, procurando, desta forma, que algumas das reclamações possam ser acolhidas favoravelmente pelo Tribunal Constitucional Plurinacional. Mas também há outros antecedentes para não descartar essa possibilidade, como vem acontecendo no Equador.

30 dias antes das eleições, a situação ainda é muito fluida e indefinida, agravada pelos últimos relatórios de direitos humanos, como o da Ouvidoria, Humans Right Watch e o do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que estabelecem que Áñez e todo o Estado boliviano são responsáveis ​​pela violação dos direitos humanos desde o mês de novembro até hoje. Isso enfatiza não só o bloco golpista, mas também o Alto Comando das Forças Armadas, que vêem com preocupação uma eventual vitória eleitoral do MAS.

 
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