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Os efeitos da pandemia da COVID 19 na educação na América Latina
Grazieli Rodrigues
Professora da rede municipal de São Paulo

A América Latina é um exemplo das regiões do mundo que tem sofrido profundas consequências sociais e econômicas frente a pandemia da COVID 19, nesse contexto as escolas e a educação são uma inflexão dessa crise. Leia abaixo os principais efeitos da pandemia na educação na região:

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Foto: Marcello Casal/Arquivo/Agência Brasil

A educação não passou batida pela pandemia, ao contrário, na mesma medida que vimos ficar cada vez mais evidente a importância das escolas para as comunidades, vimos também os governos sufocarem o papel social que as escolas poderiam ter cumprido no enfrentamento da crise sanitária da COVID-19 aprofundada pela crise econômica que já sofríamos desde 2008.

Essa realidade é ainda mais intensa nos países atrasados e economicamente dependentes, onde as populações estão sofrendo imensamente os efeitos dessa crise. Com os serviços públicos levados ao limite, quando é possível contar com eles, e com instituições tão importantes como as escolas com as portas totalmente fechadas, o que vemos é o Estado se limitando a ofertar um EAD excludente para as crianças e adolescentes em fase de escolarização, sem se comprometer com a garantia de acesso e ao mesmo tempo se eximindo de demandas essenciais como a alimentação, assistência, enfim.

Não à toa nos deparamos com dados como o da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que nos reporta a realidade de que:

160 milhões de alunos foram afetados com o fechamento das escolas na América Latina.

E que, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID):

cerca de 20% da população da América Latina não tem acesso adequado a internet.

Sendo uma previsão, estamos, em regiões como a latino-americana, nos deparando com o início de uma profunda defasagem geracional de crianças e adolescentes, no que diz respeito a educação. Por isso, desenvolvemos abaixo os principais eixos dos efeitos da pandemia na educação pensando a região:

1-) Interrupção do processo de ensino-aprendizagem

O fechamento das escolas teve como impacto direito na interrupção do processo de ensino-aprendizagem de milhões de estudantes. Sendo os mais prejudicados os que iniciavam a vida escola ou que saiam dela, tendo como consequência direta nesses casos um atraso imediato no desenvolvimento e ao mesmo tempo uma saída prematura e defasada depois de quase um ano para os que são formandos.

2-) Fome

“Ninguém aprende barriga vazia”. Todo professor e professora sabe que quando falta o básico, a alimentação, em casa, é impossível que os estudantes aprendam qualquer coisa. Não à toa, em países como o Brasil onde por vezes a única refeição das crianças era realizada na escola, o fechamento dessa instituição na pandemia, combinado à ausência de políticas efetivas de garantia ao acesso à alimentação e a uma realidade de crise e desemprego, deixou milhões de crianças e adolescentes com fome.

3-) Famílias, por vezes sem instrução, se viram obrigadas a ensinar

Seja com o ensino remoto, materiais apostilados e aulas transmitidas pela TV ou rádio, os responsáveis pelos estudantes se viram, em sua maioria, obrigados a cumprirem um papel de professor ou no mínimo auxiliar para as crianças e adolescentes. No entanto, essa necessidade se esbarra numa realidade de baixa escolarização, duplas e triplas jornadas de trabalho, por vezes precário e informal.

4-) Desigualdade de acesso ao EAD

A pandemia escancarou uma profunda e desigual realidade no que diz respeito ao acesso à internet, sendo essa realidade motivadora em alguns países, como a Bolívia, terem interrompido o ano-letivo, ao reconhecerem que o EAD não é uma alternativa. E mesmo lugares como São Paulo, a maior cidade do Brasil, a desigualdade de acesso chega a deixar de fora quase metade dos estudantes da rede do ensino remoto.

5-) Aumento da evasão escolar

Apesar da ausência de estatísticas oficiais sobre a evasão na nossa região, a realidade já indica que frente a dificuldade de acesso ao EAD, a ausência de condições estruturais como a alimentação e mesmo de condições pedagógicas para aprender sozinho, muitas crianças e adolescentes desistiram por contra própria de seguir os estudos esse ano. Vários destes inclusive, podem nunca mas retomá-lo ainda que futuramente exista um controle maior da pandemia, pois muitos já estão trabalhando e sendo arrimo de seus lares ou diretamente cuidando de seus familiares sequelados pela COVID.

6-) Violência doméstica e gravidez precoce

Não há dúvidas que com o fechamento da escola e o isolamento, as meninas certamente se viram ainda mais envoltas em problemas como a violência doméstica e sexual, a sobrecarga do trabalho doméstico e até a gravidez precoce – mediante a ausência do direito ao aborto em inúmeros países.

Frente à essa brutalizante realidade é preciso um programa emergencial para essa crise, que busque responder questões pedagógicas, como do acesso ao EAD, mas também estruturais como alimentação, renda e tudo que for necessário para que não sejam os estudantes e seus responsáveis, homens e mulheres da classe trabalhadora, a pagarem com seus já parcos direitos pelos incontáveis ônus dessa crise. Por isso, chamamos todos à lerem o plano emergencial para educação, elaborado pro professoras do Movimento Nossa Classe Educação e que constroem também o Esquerda Diário, que busca dar respostas aos principais problemas elencados aqui, abordando também o importante debate sobre o retorno não seguro às aulas que vem sendo imposto por governos em todo país.

 
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