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CRISE IMIGRATÓRIA NA EUROPA
Grécia: Incêndio do acampamento de refugiados de Lesbos, uma consequência das políticas anti-imigrantes da UE
Philippe Alcoy

O incêndio do acampamento de Moria, em Lesbos, é um resultado direto das políticas anti-imigração dos governos gregos e da UE. Uma situação de incerteza se abre para milhares de refugiados, com o risco de aumento da repressão e das tensões sociais.

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Foto: Reuters

Na manhã de quarta-feira, o campo de refugiados de Moria, na ilha de Lesbos, na Grécia, virou fumaça. De acordo com os bombeiros enviados ao local, praticamente não sobrou nada do campo onde viviam cerca de 13.000 pessoas - projetado para acomodar 3.000 refugiados. No momento, nenhuma morte foi registrada, mas as autoridades gregas falam de uma "catástrofe humanitária".

A situação no campo de Lesbos é de fato um desastre humanitário, mas não começou com o incêndio. Na verdade, por meses, até anos, ONGs humanitárias denunciaram as condições de vida precárias e perigosas de milhares de refugiados. Quase 13.000 pessoas viviam em confinamento, com muito pouco acesso a torneiras de água e chuveiros, com banheiros insuficientes e condições de higiene deploráveis...

A pandemia Covid-19 só piorou a situação, porque as medidas de prevenção tornaram-se impossíveis nessas condições, expondo os refugiados aos riscos do novo vírus. Além disso, embora as origens do incêndio ainda não sejam conhecidas, algumas fontes indicam que ele foi iniciado pelos próprios refugiados como um ato de protesto contra as medidas de contenção tomadas pelo governo grego. Na verdade, alguns dias antes, dois migrantes do campo testaram positivo para Covid-19, e então, após 2.000 testes, 35 outros casos foram descobertos, o que levou à quarentena de todo o campo.

Essas medidas provocaram a revolta de vários moradores do campo porque, desde o início da pandemia, o governo grego de centro-direita aproveitou a oportunidade para implementar sua agenda anti-imigrantes reacionária: em maio, as medidas de confinamento no país começaram a ser relaxadas, mas os imigrantes dos acampamentos nas ilhas do Mediterrâneo ainda estão sujeitos a regras rígidas de restrição de movimento.

Esta política repressiva foi denunciada por associações como o Médicos Sem Fronteiras, que consideraram as medidas “discriminatórias”, estigmatizando e marginalizando os refugiados e imigrantes que pedem asilo. Para muitos observadores, o governo grego está usando a pandemia para testar uma política cada vez mais repressiva contra os imigrantes, montando campos fechados cuja entrada e saída seriam controladas por meio de um cartão para residentes e, ao mesmo tempo, facilitando a expulsão de migrantes cujo pedido de asilo foi recusado.

Após o incêndio, milhares de pessoas ficaram desabrigadas. Alguns refugiados tentaram ir para o porto de Mitilene, mas foram impedidos pela polícia. O governo também declarou estado de emergência na ilha e destacou membros das forças de segurança para impedir que refugiados deixassem a área. Ou seja, a primeira resposta das autoridades gregas foi aumentar a repressão sob o pretexto do “risco de propagação do vírus” na ilha. Além disso, o prefeito de Mitilene, Stratis Kytelis, chegou a propor a ideia delirante de colocar os imigrantes em barcos para evitar uma possível disseminação da Covid-19.

Para além da motivo pontual que teria iniciado o incêndio no campo de Moria, o desastre era previsível: a situação dos refugiados nas ilhas gregas é insustentável e representa uma bomba-relógio. A do campo de Moria acaba de estourar e as consequências humanitárias, mas também sociais e políticas, são imprevisíveis. O descontentamento já existia entre os refugiados muito antes do incêndio. Agora que perderam tudo, os riscos de revolta são certos, mas também os de repressão. No entanto, esta situação não é apenas o resultado de políticas de imigração reacionárias de sucessivos governos gregos (incluindo o de Syriza), mas das políticas migratórias erguidas pelo conjunto da União Europeia, que fazem do continente uma fortaleza impenetrável para as centenas de milhares de pessoas que fogem das guerras, da pobreza e das crises climáticas.

Nesse sentido, é necessário que o movimento operário do continente europeu, especialmente em países imperialistas centrais como a França e a Alemanha, exija o fechamento desses campos/prisões de refugiados e o acolhimento em condições dignas de todas e todos os migrantes. É assim que os trabalhadores do continente serão capazes de criar um equilíbrio de poder capaz de repelir as tendências xenófobas e racistas da extrema-direita pró-patronal.

 
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