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Anti-vacinas, conspiracionistas e neonazistas marcham em Berlim
Inés In

No fim de semana Berlim (na Alemanha) esteve marcada por uma manifestação de céticos da pandemia. Entre eles se encontravam anti-vacinas, teóricos de conspiração e hippies, mas também militantes fascistas.

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Ainda que Andreas Geisel (SDP), senador de Assuntos Interiores de Berlim, ,havia proibido os protestos pelo risco de contágio que este levaria consigo, os manifestantes chegaram desde todos os pontos do país. no sábado pela manhã essa proibição foi derrubada pela justiça - um escândalo se consideramos que uma semana antes a mesma justiça alemã havia proibido os protestos dos familiares que perderam a seus filhos em fevereiro deste ano durante um ataque fascista em Hanau.

Ainda que a permissão judicial incluía a obrigação de manter o distanciamento social, isso não foi respeitado em nenhum momento, como já se previa desde a própria conferência que rechaçava tanto o distanciamento quanto o uso de máscaras. Ainda que tenham havido algumas intervenções policiais durante o dia, em geral os deixaram marchar, mesmo que não cumprissem nenhum requisito da liberação para a marcha.

Entre os manifestantes haviam céticos anti-vacinas, ultradireitistas com símbolos neonazistas, e todo tipo de personagens que sustentam distintas teorias conspirativas.

A maior desde o fim da Segunda Guerra

Enquanto que em outubro de 2018, em resposta a uma escalada de violência racista, agitada por um grupo de ultradireita, foi organizada uma mobilização de quase 250.000 pessoas sob o tema #Unteilbar (indivisível), neste sábado só houve uma pequena ação de oposição a esta marcha a qual chamaram os sindicatos, a socialdemocracia, o partido verde e autonomistas, e que chegou a agrupar aproximadamente mil pessoas pela manhã e nem sequer 200 pela tarde. A polícia disse que do outro lado participaram uns 40.000, enquanto que os convocantes respondem que nas ruas haviam sido lotadas por um milhão. Muito provavelmente foram 70 a 80 mil. Em todo caso fica claro que esta mobilização chegou a ser a maior manifestação direitista da Alemanha desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Não é fácil analisar a composição dos manifestantes. Enquanto se via a famílias e aposentados que pelo fato de se verem afetados pela Covid-19 - e de fato o são - querem voltar a normalidade anterior, também havia grupos fascistas ou conspiracionistas como os Reichsbürger [1]. Isso implicou em um complexo tipo de consignas. Alguns gritavam: "Fora Merkel", uma consigna apropriada pela direita islamofóbica, outros haviam escrito "Paz, Liberdade e Amor" em seus cartazes. Porém, todos parecem estar de acordo não só em que as máscaras são desnecessárias mas também no que concerne a sua desconfiança a este governo.

Nos meios alemães se fala muito de uma cena que aconteceu frente ao Reichstag, o parlamento alemão, que os nazistas supostamente tentaram tomar por assalto. Ai se trata de uma minoria de aproximadamente 2.000 pessoas, convertida em um mar de bandeiras do Terceiro Reich e encabeçada por um ex-funcionário do partido nacional socialista alemão (NPD, pela sua sigla em alemão) que sobrepassou vários policiais. Esta "tentativa" foi mais um ato simbólico que a direita usa para sua propaganda.

Ainda que existam protestos similares, mesmo que menores, e esta de fato foi a segunda de agosto, o partido de extrema direita Alternativa pela Alemanha (AfD), vem perdendo parte de sua base, segundo pesquisas. É que as tendências de direitização vem se dando em outros âmbitos, mais institucionais. Nos últimos anos e meses tem sido descobertos células fascistas tanto dentro da Bundeswehr (Forças Armadas Unificadas), que realmente estavam preparando-se para a tomada do poder e a matança de seus oponentes políticos como dentro da polícia que ameaçaram a políticos, a advogados de famílias que sofreram com perdas pelas mãos de fascistas e às mesmas famílias mediante cartas de morte com a assinatura do NSU 2.0 - uma referência ao grupo fascista Clandestinidade Nacional Socialista (NSU na sigla em alemão) que financiado pelo Estado havia matado a 9 migrantes entre 2001 e 2006.

Uma longa tradição de apoio às estruturas da direita

As centenas de casos de terrorismo de extrema direita, os inumeráveis enredos entre o Estado e a direita e o estabelecimento de organizações de ultradireita por parte da Oficina de Proteção da Constituição são declarados uma e outra vez como casos individuais. Porém, o Estado tem uma longa tradição de apoio às estruturas da direita.

A "desnazificação" fracassou não só porque não houve um juízo coerente. Os maiores ganhadores da guerra e os que apoiavam a Hitler, os grandes capitalistas, saíram impunes. Os chefes econômicos haviam ganhado muito com a expropriação dos judeus, com a guerra e com o trabalho forçado. Corporações como Volkswagen se baseavam na economia de guerra patrocinada pelo Estado e apenas havia uma grande empresa que não se beneficiara do trabalho forçado. A todas aquelas foi permitido conservar seus lucros dos roubos depois da guerra.

Hoje são os primeiros efeitos da crise econômica, cujo ritmo está acelerado pela pandemia em todo o mundo, os que formam um terreno fértil para todo tipo de tendências reacionárias, que tanto historicamente como hoje em dia tem sua maior base social na pequena burguesia.

O Estado resgata as grandes empresas, porém as pequenas e médias recebem pouca ajuda. Ao mesmo tempo, muitos trabalhadores foram obrigados a trabalhar a jornada reduzida e, portanto, também privados de uma parte de seu salário. Com seus protestos contra as medidas que se estão tomando frente ao coronavírus, dão uma resposta reacionária à questão social porque a direita está se aproveitando do desespero.

Para que estas coisas realmente mudem, não necessitamos compromissos com a direita, mas sim uma unidade dos explorados e os oprimidos, quer dizer, dos trabalhadores, e os imigrantes, as mulheres e os jovens.

[1] Reichsbürger (cidadãos do Terceiro Reich) acreditam que a Alemanha está ocupada desde o final da segunda Guerra Mundial e que o Terceiro Reich nunca deixou de existir. Ainda que são ideologicamente heterogêneos são uma força ultradireitista.

 
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