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GREVE CORREIOS
Greve dos Correios em Natal: aliança com a população e o papel dos sindicatos
Redação Esquerda Diário Nordeste

Em nova ação da greve dos Correios do Rio Grande do Norte, o Esquerda Diário entrevistou os ecetistas para dar voz à sua luta e transmitir sua mensagem a toda a população. Nos colocamos a serviço de tornar ativo o apoio a essa greve, e de aprofundar o debate sobre a importância dos sindicatos enquanto ferramenta de luta e de unificação da classe trabalhadora contra o projeto privatista e de precarização do trabalho por parte de Bolsonaro, dos generais e do STF.

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Os ecetistas do Rio Grande do Norte realizaram uma terceira manifestação em frente a agência de Correios da Av. Hermes da Fonseca de Natal, que contou novamente com grande peso de ecetistas do interior do estado, somando mais de 200 trabalhadores em uma greve que ganha cada vez mais adesão.

O ataque a direitos básicos dos correios, como o adicional noturno, das comissões de acidente de trânsito, do auxílio para dependentes/filhos especiais, diminuição do reembolso do auxílio creche/babá, entre tantos outros, tem como objetivo abrir a porteira da privatização dos Correios. Uma privatização que atingirá a população com a cobrança das entregas e retirada das agências do interior, pois a prioridade não será o serviço, já bastante precarizado, mas o lucro dos monopólios capitalistas, inclusive estrangeiros.

A vitória dos ecetistas é determinante hoje. Bolsonaro, os generais, o STF e o Congresso, tem suas diferenças no poder, mas andam juntos na privatização do conjunto das estatais e no avanço de condições de trabalho ainda piores que as promovidas após o golpe institucional, onde o direito trabalhista passa a ser chamado de privilégio. Se os ecetistas vencem, podem mostrar que a classe trabalhadora organizada é um dique de contenção desse projeto que atingirá a toda a população.

Nesse sentido que o Esquerda Diário vem se somando às ações da greve em várias cidades, chamando os partidos de esquerda, militantes de movimentos sociais e sobretudo o conjunto dos sindicatos, a batalharem pelo mais amplo e ativo apoio a essa luta. Fomos à ação de hoje com o texto “Greve nos Correios: 6 motivos pelos quais você deve apoiar a luta dos trabalhadores”, que é uma humilde contribuição do nosso diário para essa batalha.

Veja a seguir os depoimentos dos escetistas de Natal e dos interiores do RN sobre essa greve:

1) Esquerda Diário: Você pode falar um pouco da greve pra gente?

1) Estamos na greve dos Correios, ela tá forte em todo o Brasil, são 27 federações e já vamos pra duas semanas de greve. A gente não tem nada a perder, nosso acordo coletivo tá suspenso, esse general que tá no comando, na presidência dos Correios não vai dar nem um salário mínimo pra gente, nem isso, porque não tem acordo coletivo, não tem nada jurídico de confiança pra gente ter esse acordo coletivo, né? Aí a gente não tem nada a perder, tamo agora nessa luta nacional e, se deus quiser, vamos sair vitoriosos!

ED: Como você vê as condições de trabalho nos Correios hoje?

1) Eu sou carteiro e as condições, como toda a sociedade tá vendo, tão sucateadas. Desde 2011 não há concurso público e o trabalho vai ficando pra quem continua na empresa, aí o que a diretoria inventa é trabalhar no fim de semana, sobrecarregando o funcionário que ficou. E com isso vem todo o tipo de doença, até depressão, tudo, não tem tempo pra nada, né? Aí a gente fica nessa situação, sucateando tudo, não é só o funcionário também, você vai nas localidades, tá tudo vazio. Tá faltando álcool, tá faltando todo tipo de material pra trabalhar, aí é complicado isso.

ED: Mais de 100 trabalhadores dos Correios faleceram durante a pandemia, você pode dizer mais sobre a situação dos trabalhadores com o coronavírus?

1) Aqui em Natal, eu trabalhei na unidade de distribuição. Lá a gente via a situação, no começo não tinha máscara, não tinha nada. A doença ainda não tem cura, e o que acontece é isso, gente trabalha sem a mínima condição, né? No Brasil todo, já morreu mais de 100 companheiros. Essa doença, ela vem com tudo e a gente perde os companheiros em uma semana. Você tá vendo ele bem numa semana, na outra não tá. Mesmo que afastou os idosos, afastou o pessoal de comorbidade, a nossa média de idade é 45 anos, o que eu falei lá atrás (que desde 2011 não tem concurso), aí a gente acaba ficando doente também. E eu ouvi falar numa pesquisa da Espanha que os carteiros, a gente do correio, tem sete vezes mais possibilidade de passar a doença pra outras pessoas. Como eu trabalho na rua, eu vejo idosos, eu entrego. Mesmo que tenha proteção, não chega muito perto, não se aproxima muito.

2) Esquerda Diário: Por que você está participando da greve?

2) Eu sou funcionário da empresa há 7 anos e essa é a minha primeira greve. Eu até então tava falando pra companheira do Esquerda Diário que eu era meio contrário ao movimento, que eu achava que a gente vivendo num momento de pandemia não era o momento de greve, mas a gente viu que o correio se aproveitou dessa situação pra atacar de forma pesada a gente, a gente perdeu direito, a gente perdeu o vale alimentação, que é um benefício que a gente tem, a gente hoje praticamente só subsidia o plano de saúde, que a gente hoje paga 50% de tudo que a gente usa no plano de saúde, a gente não tem EPIs, eles mandaram uma bisnaga de álcool em gel e duas máscaras no começo da pandemia e depois não mandaram mais nada, ou a gente compra do bolso ou a gente não tem. E eu tou achando interessante porque a imprensa local, pelo menos em parte, tem dado voz a gente, por que eles tão vendo que é um ataque claro à categoria.

Eu tenho achado importante também, porque por exemplo, hoje a gente tá com o pessoal do sindicato dos bancários aqui com a gente, tem a juventude do Esquerda diário, que tem dado voz a gente, tem publicado matérias interessantes com a gente, inclusive a luta que eles falaram sobre o movimento foi bem interessante que eu achei, foram bem incisivos nos pontos que o correio tem atacado a gente e eu acho que o sindicato tem feito um papel importante nessa luta, por que eles realmente tem metido a cara contra esses ataques que a gente vem sofrendo diariamente dos correios. Como eu disse a pouco, eu era meio contrário, mas hoje fazendo parte do movimento eu vejo como é importante as ações do sindicato nesse momento que a gente vem passando, nesses ataques que a gente vem sofrendo.

3) Esquerda Diário: por que a população tem que apoiar a greve dos Correios?

3) Eu quero explicar pra sociedade que esse movimento grevista que está acontecendo aqui, ele tem uma importância fundamental pra sociedade, não somente pros Correios porque o emprego público ele é um emprego que pode ser ocupado por qualquer pessoa da sociedade que se enquadre nos requisitos mínimos pra exercer esse cargo público. O motivo da greve para sociedade, não para os empregados dos correios é que o salário e as vantagens do emprego público não se deteriorem, porque ele serve para os futuros empregados dos Correios que são pessoas, cidadãos da sociedade que vão lá prestar o concurso público e assumir o cargo. Então assim, não estamos reivindicando não só os nossos direitos são os direitos de todos os cidadãos, porque hoje to aqui como empregado dos correios, mas amanhã pode ser qualquer pessoa da sociedade, tá entendendo? E a privatização vem tirar esse direito que é de todos os cidadãos que é retirar o cargo público, o emprego público, e os direitos dos cidadãos de exercerem esse emprego de forma transparente e justa.

ED: Você tá colocando a questão do emprego público e dos direitos, e a mídia, o governo, tá chamando os servidores públicos de privilegiados por ter muitos direitos. E aí queria perguntar pra você como vê a importância da unidade dos trabalhadores, inclusive com aqueles que não tem direitos, e o papel dos sindicatos nisso.

3) O papel dos sindicatos é de suma importância, por que eles lutam pelos direitos sociais dos trabalhadores. Então se outras categorias estão sofrendo com isso, é por que não está havendo uma luta pra que isso seja efetivado, pra que esses direitos sejam garantidos para esses trabalhadores. Os Correios já tem uma luta antiga para a conquista dos nossos direitos. O Sindicato dos Correios, não só dos Correios, mas da Petrobrás, do Banco do Brasil, da Caixa... essas empresas estatais já tem uma luta bem antiga sobre a conquista desses direitos. Muitas categorias não tem esses direitos porque muitas vezes são oprimidas pelos patrões e os trabalhadores ficam com receio de lutar pelos seus direitos.

4) Esquerda Diário: Qual o papel dos sindicatos na luta dos trabalhadores?

Primeiramente eu defendo os sindicatos de modo geral né?! Por que o único verdadeiro instrumento de defesa que nós temos é o sindicato. Tem muita gente por aqui ainda que reclama, que critica o sindicato, mas tire os sindicatos pra não ver senão piora, por que a gente só tem esses direitos que tem aí justamente por haver sindicato e consequentemente haver direito a greve, essas coisas todas, essas reivindicações, ou seja, o único modo de combater as injustiças né, que são de larga escala, as injustiças no nosso país, no Brasil, a injustiça, a desigualdade, as vezes até mesmo o preconceito contra o trabalhador menor, parece que até que em alguns momentos até certos preconceitos por que não quer ver ganhar alguma coisa a mais, um pouco de direito a mais de benefício essas coisas assim, e eles acham como se fosse um insulto pra os que pertencem a classe alta a esses digamos assim, as altas patentes que tem aí, ver um trabalhador que antes era um escravo e ganhar tanto direito, tanto privilégio entre aspas, socialmente falando, e com isso eu sou muito a favor da greve, acho que não tem outro meio, até mesmo por que ela colocou a gente numa, digamos assim, ela não deu outra chance pra gente, ela não deixou outra opção pra se pensar a não ser brigar pelos seus direitos por que como pode ela vir de uma hora pra outra ela querer vir exterminar, liquidar com os direitos da ideia de ser cidadão e não é só a questão de você ter seu patamar financeiro, social, de dignidade quer dizer, dignidade como cidadão, mas não só isso, mas também humilhar o trabalhador, então acho assim, impossível não fazer greve.

Nessa ação, contamos também com uma fala de solidariedade à greve da companheira Marie, editora do Esquerda Diário e da Juventude Faísca, contra o projeto de privatização e precarização do trabalho de Bolsonaro, dos generais e do STF:

GREVE DOS CORREIOS | Marie Reisner, editora do Esquerda Diário e da juventude Faísca, levando solidariedade à ação de greve dos ecetistas em Natal-RN, contra o projeto de privatização e precarização do trabalho de Bolsonaro, dos generais e do STF.

Publicado por Esquerda Diário em Terça-feira, 25 de agosto de 2020

A partir dos depoimentos de trabalhadores em greve no Rio Grande do Norte, queremos dialogar sobre o debate do papel dos sindicatos para que a greve dos Correios possa vencer e outras categorias possam se organizar, não só para barrar as privatizações e ataques aos trabalhadores, mas impor um outro projeto de sociedade na luta pelo Fora Bolsonaro e Mourão e contra todo o regime golpista.

Com os ecetistas na linha de frente de defender, em unidade com petroleiros e bancários, os trabalhadores contra o projeto privatizador de Bolsonaro, Guedes, General Floriano Peixoto e todas as figuras desse regime podre, como os ministros do STF, Rodrigo Maia e o Congresso, é possível uma saída para a crise contra os seus interesses a serviço dos capitalistas.

E como disseram os depoimentos dos companheiros, os sindicatos tem o papel de organizar a luta dos trabalhadores, pois são uma importante ferramenta de defesa dos trabalhadores. Em Natal, a CUT, que dirige a Federação Nacional dos Correios e o sindicato do RN, também é direção de inúmeras outras categorias, como Professores, Servidores da Saúde, e a CTB dirige o sindicato de petroleiros no estado onde Bolsonaro quer privatizar toda a produção e extração de petróleo, botando em risco 5,6 mil empregos. Se essa greve, como dissemos pode significar uma derrota ao governo Bolsonaro e alterar a correlação de forças para o lado dos trabalhadores que estão sendo levados a pagar pela crise por que a CUT e a CTB, não colocam o conjunto desses sindicatos na mesma luta?

As assembleias de base são ferramenta fundamental para que os trabalhadores decidam os rumos da luta e levem às suas últimas consequências, recuperando os sindicatos como ferramenta de luta nas mãos dos lutadores. Por isso é necessário que a CUT e a CTB convoquem essas assembleias nos seus sindicatos, pois é o apoio mais estratégico para fortalecer a greve dos Correios, através de uma só luta contra o projeto dos capitalistas e do governo de resposta a crise.

A conciliação com o governo Bolsonaro não é o que vai defender os empregos, mas a unidade dos trabalhadores. O PT, cujos parlamentares aparecem nas redes apoiando essa luta, na realidade já provou que quer seguir conciliando com os nossos inimigos e aplicando ataques onde governa, como o exemplo da Reforma da Previdência de Fátima Bezerra no nosso estado.

A CSP-Conlutas, que dirige o sindicatos de Bancários no RN, poderia ser um exemplo de como organizar os trabalhadores ao lado dos Correios e exigir das demais centrais que façam o mesmo. Desta central o PSTU está à frente, mas por hora, seguem assinando chamados a dias nacionais de luta para os quais a luta não é organizada e depois embelezando-os. Caso rompesse com essa linha poderia constranger os sindicatos patronais da Força Sindical e UGT que apoiam a MP da Morte de Bolsonaro e organizar a categoria.

Não poupamos forças para cercar a greve dos correios de solidariedade e apoio, assim como fazemos com cada luta de trabalhadores no país, por exemplo a recente paralisação de entregadores. Fazemos este chamado ao conjunto da esquerda, que hoje apresenta pré-candidatos que ainda não se colocaram ombro a ombro para dar apoio e visibilidade ao conflito, batalhando pela opinião pública que pode ser influenciada por editoriais reacionários como do Estadão. Chamamos o Deputado Estadual Sandro Pimentel, militante do MES-PSOL a colocar seu mandato à serviço dessa luta, assim como os grupos de juventude.

Acreditamos que a unidade dos trabalhadores é o único método que vai fazer com que os privatistas, os capitalistas nacionais e internacionais, paguem pela crise que eles criaram, não os trabalhadores. Mas também levar a um questionamento a todas as leis de ataque aos direitos trabalhistas, que começaram nos anos do PT, se aprofundaram com o golpe e ainda mais agora com Bolsonaro. Colocar a possibilidade dos trabalhadores decidirem os rumos do país.

Por isso nós do Esquerda Diário defendemos que a luta pelo Fora Bolsonaro e Mourão deve levar à necessidade de impor pela mobilização a convocação de uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana, por que não basta derrubar Bolsonaro para manter as mesmas regras do jogo, como seria o impeachment (que além de tudo daria mais poder aos generais com Mourão na presidência) e manteria de pé a Reforma da Previdência, a Reforma Trabalhista, a lei da Terceirização Irrestrita etc. Uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana daria poder ao povo fazer as suas próprias leis, dando oportunidade para a organização dos trabalhadores avançar como nunca em seus direitos, como seria com uma lei que proibisse as demissões ou a repartição das horas de trabalho e diminuição da jornada, sem redução de salário, dando emprego e direitos a todos os desempregados.

Colocamos essas contribuições ao debate com os companheiros em greve nos Correios, e chamamos a todos a enviarem suas denúncias e depoimentos, e conhecerem mais as ideias do Esquerda Diário. Uma mídia feita por e para trabalhadores, a serviço da luta por uma sociedade dirigida pelos trabalhadores contra toda forma de exploração e opressão.

 
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