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Por todos os Matheus, a luta dos entregadores tem que ser também antirracista
Yuri Capadócia

Na sexta-feira dois casos revoltantes de racismo tendo como vítimas entregadores, provocaram indignação geral. Entre os casos uma coincidência, os dois jovens tinham o nome de Matheus. O que não foi mera coincidência é o fato de serem dois entregadores, uma classe majoritariamente negra vítima dos maiores níveis de exploração do trabalho em nossa sociedade.

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Matheus Nascimento, um jovem entregador negro, foi realizar uma entrega num condomínio de luxo em Valinhos, uma verdadeira Casa Grande pelas ofensas raciais com que foi recebido. O herdeiro de senhor de engenho viu no entregador seu escravo, o castigando pelo suposto atraso com ataques como “seu lixo”, “analfabeto” e “você tem inveja disso” enquanto apontava para a pele branca. Sem baixar a cabeça, Matheus rebateu as ofensas, devolvendo com o orgulho de classe daqueles que batalham diariamente e não precisam depender das heranças dos pais para se sentirem superiores.

No Rio de Janeiro, outro jovem entregador negro, Matheus Fernandes era seguido por dois homens enquanto ele ia inocentemente trocar um presente no dia dos pais quando foi acusado de furto e arrastado para fora pelos homens que o agrediam e ameaçavam inclusive armados. Tudo isso sob o olhar conivente dos seguranças, instruídos a partilhar desse olhar racista e sentenciador para jovens negros.

Dois casos que chocam pelos contornos mais extremos, mas que não são nada estranhos ao cotidiano dos negros, e principalmente dos entregadores no país. As ofensas explícitas do empresário de Valinhos não diferem em essência dos maus tratos que muitos entregadores sofrem diariamente, nas ofensas de clientes mal educados, tendo de se esgueiar pelas áreas de serviços, proibidos de usar os banheiros de estabelecimentos apenas pela cor de sua pele.

Mas acima de tudo essa inferiorização e desumanização se expressa na superexploração que os aplicativos condenam esses jovens. Essa superexploração que se apoia no racismo estrutural de nosso país para submeter uma maioria de jovens negros ao trabalho precários, sem os mesmos direitos trabalhistas que os demais trabalhadores. Pagando salários de miséria por entrega enquanto esses trabalhadores passam fome transportando comida para cima e para baixo pelas cidades desse país.

Porém nada dessas condições são ignoradas por essa elite racista, esses "cidadãos de bem" necessitam dessa superexploração do trabalho alheio não só para alimentar seus lucros como também para sentir-se superiores. Vencedores que pertencem a uma classe superior a esses trabalhadores precários, que ao penetrarem em seus condomínios precisam ser postos no lugar, rebaixados como os "lixos" e os "analfabetos" que são. Afinal, essa elite não é como os entregadores ou o restante dos trabalhadores - "cidadão não, eu sou engenheiro" -, nem lhe alcançam as mesmas leis, como o desembargador Siqueirinha que impunemente desfila sem máscara.

No governo Bolsonaro, esses cidadãos de bem já sentem-se livres até para enquadrar e linchar preto e pobre que invadam seus shoppings centers, como no caso do Matheus carioca, em que um policial e um segurança em horário de folga fizeram justiça com as próprias mãos, como sempre foi de praxe nos morros e favelas.

Por isso, que a luta dos entregadores tem de assumir as bandeiras antirracistas. Os entregadores, que já estão na linha de frente da mobilização da classe trabalhadora com seus breques dos apps, precisam também estar na linha de frente das mobilizações antirracistas. Assim como, já fizeram indo ontem protestar no condomínio em Valinhos. Para combater o trabalho precário que superexplora os trabalhadores, é preciso constatar seu vínculo com a ideologia racista empregue para legitimar essas condições deploráveis a que esses trabalhadores são submetidos.

Da mesma forma, não nos serve um movimento negro que não encampa a luta dos entregadores. Dizer que vidas negras importam, não é apenas combater a violência policial, mas também lutar por condições de vida dignas para as populações negras. Que os negros não sejam mais fonte de trabalho precário, como exército de mão de obra reserva, que não sejam os primeiros a morrer pela covid-19 pela falta de acesso a saúde.

É preciso dizer basta de morrer pelas balas da polícia, pela covid-19, e pelo lucro dos capitalistas!

 
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