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Cuidado! O Reformismo Ronda a Cada Esquina
Ricardo de Souza
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Nós trabalhadores devemos colocar-nos em alerta máximo para nos defender das ilusões dos apelos à moderação, que sempre nos rondam. A espoliação e a opressão de nossa classe assegurou a acumulação da riqueza socialmente produzida por nosso trabalho nas mãos da minoria burguesa. Mas atravessamos uma crise sem precedentes, que coloca em nosso futuro próximo o acirramento da espoliação da opressão, não apenas no Brasil mas internacionalmente. As ilusões de um pacifismo reformista são mordaças e algemas com as quais se silencia e se aprisiona a força libertadora e revolucionária dos trabalhadores.

Os esforços da grande mídia nacional, entre outros atores, para convencer os trabalhadores dos “perigos” da esquerda radical exemplificam o quão estratégico é a sedução reformista, pois tais empresas têm protagonismo na defesa das burguesias nacional e transnacional. Em 2 de maio e 24 de julho último a Revista Veja publicou informações de supostas pesquisas eleitorais apontando Jair Bolsonaro como favorito para reeleição em 2022. Em ambos os artigos, enfatiza-se Sérgio Moro como principal alternativa, na segundo matéria sendo colocada até mesmo uma fotografia do ex-juiz e ex-Ministro da Justiça que garantiu a eleição do aspirante a ditador que detém a faixa presidencial.

O artigo de 24 de julho publicado na referida revista desenvolve retórica no mínimo curiosa. O texto é aberto citando o desprezo do presidente à pandemia, o cerco à indústria de fake news e Queiróz. Passa então à narrativa da mais recente da suposta pesquisa eleitoral e de hipóteses que explicariam o alegado favoritismo. Nos dois parágrafos que concluem o artigo, surgem os dizeres “um projeto alternativo, menos radical e mais equilibrado” e “possíveis nomes de centro­direita” separados por apenas duas palavras. Soa como uma sútil chantagem a todos que percebem a tragédia do governo do ex-capitão, sugerindo-lhes que a saída encontra-se ao centro.

Interessa a quem a junção entre moderação e centro-direita? Junção que permitiu a recente retirada de direitos dos trabalhadores e o desmonte acelerado das fragilizadas estruturas públicas de proteção da população? E a centro-esquerda? A centro-esquerda insistente no credo da conciliação de classes, credo que resultou na traição dos movimentos de trabalhadores que lutavam contra o golpe de 1964. Credo que a partir de 2013 não só reprimiu a voz popular que se opunha à opulência dos que lucrariam com a Copa do Mundo de 2014, mas ao fazê-lo entregou a revolta como presente aos golpistas de 2016. Quando se apela à moderação da centro-esquerda, a quem tal apelo interessa? Aos trabalhadores de quem se quer cobrar o preço da crise atual, na escalada da barbárie capitalista? Obviamente, a resposta é não.

O perigo da anestesia da força de lutas da classe trabalhadora parece rondar-nos às vezes de maneiras insuspeitas. Fora os bolsonaristas, quem nunca riu do ridículo de “Globo comunista”, “Folha de São Paulo comunista”, e talvez até Sérgio Moro comunista... ”? Porém, a propagação em larga escala desse tipo de ridículo pode ter consequências nada inocentes. Como sabem os estudiosos da mente humana, a repetição com frequência de uma experiência retira-lhe a potência de nos causar estranhamento. Ocorre uma acomodação, uma naturalização daquela experiência. Vamos apagando da memória, pela repetição do adjetivo comunista, que se trata na verdade de Globo golpista, Folha de São Paulo golpista, Sérgio Moro golpista, entre vários outros novos “moderados” na barbárie expressa pela atual presidência do país.

Perceber os supostos novos inimigos dos bolsonarismo como comunistas pode facilmente transformar-se em percebê-los como amigos da classe trabalhadora, um erro que provavelmente nos conduzirá a consequências fatídicas, pois o que está posto na conjuntura atual de crise é o projeto de aumento da exploração e da opressão de nossa classe a níveis alarmantes, com vistas à preservação dos interesses dos capitalistas. O convencimento das massas trabalhadoras de que grupos empresarias, personagens de visibilidade pública e que certos ocupantes de instituições são seus aliados, e não aliados do capital, pode guardar interesse estratégico para a burguesia. É dar à burguesia a possibilidade de ter infiltrados na classe que ela precisa explorar. Lobos sob a pele de ovelhas podem ser facilmente apresentados como essas ditas alternativas “moderadas”.

Moderação é aquela “qualidade” que nossas elites enaltecem quando lhes convém. Moderado é silenciar o racismo estrutural brasileiro, celebrando a democracia racial que nunca existiu. Moderada é a caridade “humanitária” do empresário doador de cestas básicas que não abre mão do arroxo salarial e da máxima submissão de seus empregados, contando com as massas de reserva de desempregados como arma de chantagem. Moderado é aceitar como óbvio, normal e intocável os privilégios e o enriquecimento indecente e astronômico dos agiotas do capitalismo financeiro, os banqueiros, enquanto milhões vivem a carestia.

Na última semana veio a tona que em 22 de maio deste ano de 2020, o Brasil esteve na iminência do autogolpe ao qual aspiram, sem qualquer pudor ou reserva para mostrá-lo, o atual ocupante da presidência da república e aqueles que têm interesse em dar-lhe poder. A história do Brasil demonstra com robustez que o golpismo é um mecanismo de prevenção contrarrevolucionária sempre à mão para nossas burguesias, ao menor e mais modesto indício de avanço de direitos das massas e de correção das atrozes e seculares injustiças às quais elas são subjugadas. Mas a ingenuidade de não compreender que contrarrevolucionário também é o reformismo tem um preço caro.

 
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