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CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA E DOS EUA
Encerramento da Conferência Latino-Americana e dos EUA por Nicolás del Caño do PTS da Argentina e da FT-QI
Redação

A Conferência Latino-Americana e dos EUA foi convocada pela Frente de Esquerda Unidade da Argentina e realizou-se entre os dias 30 de julho e 01 de agosto, reunindo mais de 40 organizações de todo o continente. Aqui reproduzimos a fala de Nicolás del Caño no encerramento da Conferência.

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Ao final da matéria disponibilizamos o vídeo (em espanhol) de toda a sessão final da Conferência que contou com 4 falas de aberturas pelas organizações convocantes, diversas rodadas de intervenções focadas na situação específica dos países da região e depois uma fala de encerramento.

Disponibilizamos neste link a fala de abertura de Christian Castillo da direção do PTS da Argentina e integrante da Fração Trostskista Quarta Internacional. Também pode te interessar a intervenção de Diana Assunção do MRT na mesma sessão, a fala de Julia Wallace do Left Voice dos EUA, de Violeta Tamayo da LOR-CI da Bolívia. Em breve publicaremos novas matérias e traduções e as resoluções comuns adotadas na Conferência.

Veja a intervenção completa de Nicolás del Caño

Boa noite companheiras e companheiros. Em primeiro lugar, saudações a todos que participaram, a todas as companheiras e companheiros que acompanham essa Conferência Latino Americana, que foi uma instância de debates sobre a estratégia e o programa que a classe trabalhadora tem que sair para enfrentar as consequências dessa crise histórica. Sem dúvidas um dos debates principais que foram levantados sobre como avançar na reconstrução da Quarta Internacional, é uma das coisas que foram levantadas nessa Conferência.

Os companheiros do PO levantam que reivindicam o método que levaram adiante na CR-CI, quando Altamira era seu principal dirigente. Mas essa organização se dissolveu. E não vimos nenhum balanço do que a fez fracassar. Na nossa visão nenhuma internacional pode se construir com base em 4 pontos gerais. As diferenças muito importantes que temos com os companheiros da UIT na Bolívia, Peru, Venezuela entre outros, já colocadas pelos meus companheiros e companheiras, e quero dizer que não estou de acordo com o que colocou Giordano, com relação à unidade com setores que não sejam revolucionários, trotskistas, em função da construção de um partido revolucionário. De sua parte, o companheiro Bodart, do MST, creio que deveria refletir e tirar conclusões, e algo foi dito também sobre o erro que cometeram ao apoiar ativamente o Syriza na Grécia, como foto de Alex Tsípras inclusive, pouco antes que se começasse a ajustar ao povo grego. Por sua vez, em Brasil falou da ruptura do PSTU, mas não mencionou que o MST teve também uma ruptura com o MES, que teve uma política similar ao PSTU, apoiando o golpe contra Dilma.

Isso sem mencionar o que já colocou Myriam, e outros companheiros, com relação a ter participado em chapas junto com o juiz Piño Solanas, ou por ter sido parte do Partido Socialista Unido de Venezuela quando era parte do governo de Chávez. Por que assim como não ter tática na construção de partido leva a um sectarismo estéril, os atalhos oportunistas, e mais, no terreno internacional, terminam em desastres. Obviamente que estamos de acordo em implementar Frentes de Esquerda, similares a FIT-U, onde seja possível, e outras táticas comuns onde nos coloquemos de acordo, mas sempre sabendo que nosso objetivo é a construção de partidos revolucionários e a reconstrução de Quarta Internacional. Na Fração Trotskista e no PTS reivindicamos o método de nos unirmos a partidos e de compartilhar um programa e tirar as lições revolucionárias dos elementos mais candentes da luta de classes, que na nossa visão é o caminho pelo qual Trotsky foi dando passos para a fundação da Quarta Internacional. Com esse objetivo, de reconstruir a Quarta, reiteramos a proposta para que entre as correntes presentes, organizemos os debates que ficaram pendentes.

Hoje vemos como os governos querem iludir as populações dizendo que após a pandemia, a situação vai voltar a ser como era antes. Mas isso não é assim. Com Estados hiper endividados, a capacidade de emissão realmente não pode ser eterna. Começarão outra vez, os cortes, os ajustes, ou novas crises financeiras, bancárias, inflacionárias. E sabemos que mais cedo do que tarde, as massas irão reagir, como já vimos frente ao agravamento das mortes. A pandemia mostrou a hipocrisia e o cinismo da burguesia. Vejam que eles chamam de essenciais trabalhadoras e trabalhadoras precarizados, que ganham salários de miséria, como no setor da saúde, ou os entregadores, e a quem essas empresas nem reconhecem como trabalhadores. Um modelo que querem estender a outros setores, e que mostra como a tecnologia nas mãos do capital, é um elemento que, longe de melhorar, agrava mais as condições de vida e trabalho da classe trabalhadora. Mas é importante colocar que esse setor se levantou, que se realizou uma paralisação muito importante no 1º de Julho, uma paralisação internacional dos entregadores, que teve repercussão em muitos de nossos países.

No livro que publiquei, ano passado sobre a precarização que vive a juventude, colocamos que este fenômeno de organização ia começar a se desenvolver e não nos equivocamos. Nas novas gerações há uma enorme energia que quando se desata, é muito difícil de conter. Assim como vemos também no movimento de luta das mulheres, que corre o mundo. Hoje, a rebelião nos EUA vemos dezenas de milhares de jovens de menos de 18 anos, que estão na primeira linha de enfrentamento ao racismo e a violência policial, exigindo a abolição dessa instituição da ordem capitalista.

Temos uma grande tarefa, de ganhar essa nova geração que hoje desperta, para a perspectiva da revolução socialista. Não é uma tarefa simples. Até os dias de hoje os capitalistas usam a monstruosidade do stalinismo para desacreditar a ideia de uma sociedade comunista. Mas nossa luta não é por um regime autoritário, burocrático, e sim por uma democracia mil vezes superior à que qualquer Estado capitalista pode oferecer. A revolução que lutamos busca derrotar o Estado capitalista e colocar de pé uma verdadeira democracia das e dos trabalhadores, que mediante a socialização dos meios de produção e a planificação democrática da economia, permita passar do reino da necessidade e entrar no reino da liberdade, como colocava Karl Marx. Somente se terminamos com este sistema, a ciência, a tecnologia, poderão ser utilizadas à serviço da emancipação da humanidade, começando por uma redução radical da jornada de trabalho e a divisão das horas de trabalho pelo conjunto da população. O aumento do tempo livre vai permitir que as massas em seu conjunto tenham acesso às conquistas culturais, artísticas e científicas.

Eu tive a missão nestes últimos anos, junto a distintos companheiros e companheiras, dar as batalhas nos parlamentos burgueses. Hoje na Câmara de Deputados, damos uma batalha comum, com a companheira Romina del Plá, do PO, e que no caso do PTS, meu partido, compartilho esse lugar com companheiros e companheiras de diferentes legislaturas de suas províncias, sendo dirigentes da classe trabalhadora, se transformaram em tribunos de sua classe como Alejando Vilca, Natalia Morales, Carbonara, Andrés Blanco de Zanon, em Neuquén, que continua com a herança de nosso companheiro Raúl Godoy e outros dirigentes, e com nossa companheira Myriam Bregman, presente em numerosas lutas, e que é uma das principais referências da FIT.

Nós, que ocasionalmente temos a responsabilidade de sermos deputados, sempre nos movemos segundo os ensinamentos do 2º Congresso da III Internacional para a intervenção parlamentar, onde se levanta entre outras coisas, que o deputado comunista está obrigado a colocar a cabeça das massas proletárias na primeira fila, estando nas manifestações, nas ações revolucionárias. Neste sentido, um dos meu maiores orgulhos militantes foi estar lado a lado com os trabalhadores e trabalhadoras de Lear, em que cortamos a Panamericana 13 vezes, sofrendo com os trabalhadores (e com Cristian Castillo, que era deputado naquele momento), as balas de borracha, o gás de pimenta, que recebemos pelas ordens de Sergio Berni, que era secretário de segurança de Christina Fernández. E também sofremos o mesmo na Pepsico em 2017, no governo de Macri. Por isso, uma das razões fundamentais da existência da FIT na Argentina, é a presença da esquerda classista nos principais combates da classe que tomaram corpo em nosso país, com grandes batalhar em fábricas, como Kraft, Mafissa os terceirizados ferroviários, Lear, Pepsico, ou as grandes jornadas de lutas contra a Reforma da Previdência, em dezembro de 2017, quando desde dentro do Congresso, intervíamos para apoiar a enorme mobilização travada nas ruas. Sempre nossa prática foi colocar as posições conquistadas à serviço da luta de classes, e das mobilizações extra parlamentares das massas trabalhadoras. Nesse meses os deputados da FIT fomos os únicos a nos opor ao consenso burguês entre o governo de Alberto Fernandez e a oposição direitista de Juntos por el Cambio. Temos utilizado a tribuna parlamentar para denunciar seus planos, desmascarando-os para os olhos de milhões, que ainda confiam no governo e tem ilusões no mal menor, mas que fazem uma experiência e tem simpatia com a esquerda que não arreda pé contra as patronais como faz Alberto.

Na última campanha eleitoral, colocamos claramente, fizemos uma grande agitacão em torno da ideia de que pagar a Dívida era incompatível com uma melhora das condições de vida do povo trabalhador. Propagamos também ideias fundamentais, medidas transicionais, como a nacionalização dos bancos e o comércio exterior sob controle operário, que ganham muito mais relevância com essa crise. Claro, o fazemos como parte de um programa de conjunto para que a crise seja paga pelos grandes empresários, os banqueiros e os capitalistas. Nesse terreno, contra o cretinismo antiparlamentar e o parlamentarismo burguês e centro-esquerdista, nos esforçamos humildemente para recriar as melhores tradições do parlamentarismo revolucionário à serviço de construir partidos de combate da classe trabalhadora no terreno nacional e no internacional.

Não temos pela frente uma tarefa nem um caminho fácil, nós sabemos, porque o stalinismo e o neoliberalismo não passaram em vão. Grande parte da esquerda mundial debate sobre quem sustenta a política da identidade, atacando qualquer tipo de centralidade ou hegemonia da classe trabalhadora, e que por outro lado, vendo o crescimento de populistas de direita, como Trump, sobre camadas da classe trabalhadora, se limitam a reivindicações econômicas, e não combate as opressões que coexistem com a opressão de classes. Somente uma teoria da hegemonia operária inseparável da construção de partido revolucionário pode dar resposta para esta situação sem cair na adaptação dos movimentos quaisquer que sejam, ou à negativa a existência das distintas opressões, seja a nacional, patriarcal, racial, que acompanham como a sombra ao corpo, a exploração capitalista.

Junto a numerosas elaborações que nossa corrente internacional tem realizado sobre temas teóricos e de estratégia, centrais para responder aos desafios do nosso tempo, entre eles, mais de 25 livros, estão os que escrevemos para recriar o feminismo socialista, sobre o problema indígena na Bolívia, ou sobre a questão negra nos EUA e no Brasil, humildemente colocamos aqui para consideração como um aporte à esta Conferência.

Companheiras e companheiros, a crise acelera os tempos, e temos que multiplicar esforços e a audácia para ganhar o melhor da vanguarda operária e da juventude, para a militância para terminar com esse sistema. O Internacionalismo teórico e prático é parte integrante do partido que queremos construir. No 80º aniversário do assassinato de Trotsky, pelas mãos de um agente stalinista, colocar todas as nossas forças na reconstrução da Quarta Internacional é a melhor homenagem que podemos fazer. Muito obrigado, e novamente um fraternal abraço a todas as companheiras e companheiras que participaram dessa Conferência Latino Americana.

Confira o vídeo completo da sessão final da Conferência Latino-Americana e dos EUA

 
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