www.esquerdadiario.com.br / Veja online / Newsletter
Esquerda Diário
Esquerda Diário
http://issuu.com/vanessa.vlmre/docs/edimpresso_4a500e2d212a56
Twitter Faceboock
BALANÇO DA GREVE DOS BANCÁRIOS
Entrevista com a companheira Rosana Rosa, cipeira da matriz do Bradesco na Cidade de Deus em Osasco
Redação
Ver online

Esquerda Diário: Qual a avaliação que você faz do acordo?

Rosana: Na verdade só pra esclarecer uma questão antes, eu sou cipeira na Cidade de Deus, e eu avalio que a gente que tem um cargo de CIPA, que foi votado, que tem responsabilidade, a gente tem a obrigação de ajudar nas greves, né, porque nos bancos privados tem que ter a figura de uma pessoa lá para poder fazer a greve, concretizar uma paralisação numa determinada agência. E assim, no Bradesco eu senti uma grande diferença nessa campanha com relação às campanhas passadas porque a gente sempre teve um embate muito pesado com os colegas de trabalho, né? As pessoas [gerentes] sempre chamavam a polícia, buscavam um interdito [proibitório, instrumento jurídico que os bancos usam contra a greve], algum meio de estar entrando pra trabalhar... E dessa vez eu achei que foi bem, bem tranquilo, né, e tem um fator predominante nessa questão que vai além, e que é a saúde do trabalhador. O bancário, e principalmente as pessoas que trabalham nas agências, elas estão muito estressadas, têm uma carga de serviço muito alta. O bancário do Bradesco, além de ter um salário pequeno, que fica aí em torno de 3 mil, 4 mil reais, pra gerenciar uma agência com todos os seus problemas, ele tem que vender o produto, tem que atender o cliente bem, tem a sua equipe né, então é muito estressante... Tem a questão dos assaltos, a questão de sequestro, enfim tudo isso somado, fez com que as pessoas parassem e pensassem que era momento dela, além de estar contribuindo de alguma forma pra que desse certo a greve, pra que melhorasse o índice, mas principalmente que houvesse essa reflexão com relação à questão da saúde. O trabalhador está sofrendo, e é o famoso “sofrendo na pele” né, existe uma estatística aí que é de três mortos a cada dois meses de bancários no Brasil, isso de suicídio, e é uma estatística muito alta né? Então a gente precisa discutir isso seriamente.

Com relação ao índice, conversando com as pessoas na volta da greve, o que foi que eu senti? Pareceu legal, mas não foi legal, né, porque sai dos 5,5%, quando na verdade o Sindicato devia ter começado a discutir a partir da inflação. Mas não, aceita começar a discutir com os 5,5% termina no 10%, joga pro bancário a ideia de que foi muito bom chegar no 10%, quando na verdade todo mundo sabe que não foi bom, está todo mundo endividado, esperando aí o dinheirinho que vai entrar pra pagar na verdade o seu cheque especial, s suas dívidas, o dinheiro praticamente não entra na conta, porque ele já entra e já sai... Então, os 10% aí não significou quase nada. Eu quando entrei no banco, ganhava 10 salários mínimos, e hoje eu ganho 1770, vai pra 1900 e pouco o meu salário... Pra você ter uma ideia de como está defasado o salário da gente, e o que isso significa para a categoria. Então, apesar do sindicato estar a todo momento batendo nessa tecla de que foi bom, não engana a categoria, porque ninguém é mais criança, né? A gente sabe, a gente lê jornais, a gente vai ao supermercado, vai à farmácia, tem escola de filhos, tem tudo...

ED: Quais as principais dificuldades encontradas na campanha? Que relação vê entre elas e o cenário de crise e o ajuste fiscal aplicado pelo governo?

Rosana: Quando a gente pensa numa greve, ou começa uma greve, todo mundo fica numa expectativa de melhora no geral, né? Você vai numa greve pensando, claro, no índice, porque isso vai refletir em todos os nossos benefícios, até o fim da sua vida enquanto bancário, mas também você pensa como melhora na questão da educação – o Bradesco é um dos únicos bancos que não paga esse benefício –, tem a questão da saúde também que é uma questão que deveria ser bastante discutida... Então quando você parte para uma greve, todo mundo fica numa expectativa do que vai melhorar. Claro que se pensa muito na questão financeira, mas as outras questões pesam bastante. E aí volta da greve com um índice de 10%, e com quase nada discutido com relação às outras coisas, o que é frustrante, porque você fica o ano inteiro esperando pro Sindicato discutir essas questões que dizem respeito à nossa vida, e aí volta com praticamente nada e ainda cantando vitória. E isso, nos últimos anos, tem criado um monte de “gurus” dentro do Bradesco né, porque aí fica todo mundo “eu já sei como que vai ser, eu sei qual que vai ser a discussão”, as pessoas ficam arriscando palpites e acabam acertando porque na verdade a gente sabe bem o que tem acontecido nos últimos anos.

Com a questão do Levy no governo, e com a influência do Bradesco através do Trabuco, ficou ainda mais evidente essa questão né, porque é o sindicato que não avança num acordo, que deveria ter discutido melhor isso, mas não avançou; sai de um 5,5% pra 10%, que a gente sabe que é carta marcada, ou ao menos suspeita que é uma carta marcada; não fecha a Cidade de Deus, e aí as pessoas ficam perguntando “por que não fechou a Cidade de Deus?”.

Você pega: segundo maior banco privado da América Latina, maior banco em número de funcionários e maior em um monte de outras coisas que ele se posa dizendo que é, e não fecha a sua matriz, com quase 17 mil trabalhadores? Todo mundo fica questionando, e passa pela cabeça da gente o seguinte: que parceria é essa que foi colocada, que fez com que o sindicato parasse todas as concentrações do Itaú, concentrações da Caixa, do Banco do Brasil, e não parasse a maior concentração de trabalhadores, que é o Bradesco da Cidade de Deus? Com a influência que o Bradesco tem na mesa de negociação, a influência que tem na cidade [em Osasco]... E aí a gente ouviu até uma coisa que é interessante: que na última campanha, na última vez que foi em 2013, que o Bradesco parou a matriz, parou o trânsito da região e [o Sindicato] teve que pagar uma multa por isso... Só que nós vamos pagar agora, nessa campanha, 2,5% + R$10, pagar pelo gasto da campanha salarial. Então por que não se parou o Bradesco da Cidade de Deus, se a gente paga o gasto da campanha salarial? É isso que as pessoas perguntam. Inclusive quando o sindicato lança mão de parar a Cidade de Deus, ele paga pelo preço dessa discussão com o trabalhador, porque alguns diretores do Sindicato foram questionados sobre isso. E a resposta não vem a contento. Porque ninguém engana mais ninguém, não dá mais pra enganar né, não dá mais pra fazer de conta...

ED: Quais as perspectivas para o movimento após a greve?

Rosana: Quando eu coloquei lá pros meus colegas de trabalho, lá na equipe, que eu faria greve, eu ouvi de algumas pessoas a pergunta de por que que eu faria greve, o que me estimulava a fazer a greve. Então eu disse que a greve era o momento onde a gente podia estar conversando com os outros colegas, de fora da Cidade de Deus, e o momento de aproveitar aquele espaço durante a greve para poder estar fazendo o diálogo da importância de mudar o que está colocado aí, principalmente no que diz respeito à direção do Sindicato, a atual direção do Sindicato. E eu fui com esse foco para a greve, e quando eu fui para algumas concentrações, o Bradesco da Santa Cecília, o Bradesco da Paulista, no primeiro dia eu fui pro Bradesco de Alphaville, e eu procuro sempre conversar com as pessoas, mesmo que seja um pouquinho, para ter uma ideia daquele trabalhador, que está naquele local de trabalho, naquela cidade, fazendo aquela determinada função, seja ele gerente, seja ele chefe de expediente... porque é isso que faz a gente pensar no conjunto.

E eu acho que a greve vale a pena, sob a nossa visão, por conta disso, da gente poder ter esse espaço pra fazer essa discussão. E aí eu acho que nesse contexto a gente avança, porque a gente consegue fazer com que as pessoas, mesmo que sejam grupos pequenos, parar pra pensar qual é a condição dela de trabalhador e o que é uma pode estar fazendo pra mudar o que está colocado.

bastante hoje wir sind da preciso ir na caixa de som do do do do Itaú então é isso e assim que o trabalhador responsável por essa diretoria que está em cima do jota uma lição do sindicato

Cabe uma reflexão assim: o trabalhador, ele é responsável por essa diretoria que está aí, se ele vota numa eleição para o sindicato, ele é responsável, mas se ele não vota ele é responsável também. E isso, essa consciência, a gente tem que fazer crescer dentro da categoria, porque hoje se a gente tem um sindicato irresponsável, a ponto de fazer algumas barbaridades, a ponto de fechar um acordo como esse, a ponto de não trazer uma resposta merecida para o trabalhador, então é responsabilidade da gente, é uma discussão que a gente tem que fazer.

Eu digo o seguinte: que entre o bancário que é sindicalizado, se manter sindicalizado e fazer essa discussão com o seu sindicato, cobrar do seu sindicato reuniões para discutir a sua saúde, reuniões para discutir a sua condição de trabalho, e um bancário que fica só questionando e “chorando as pitangas”, é melhor ser sindicalizado e cobrar do seu sindicato que organize o seu local de trabalho, que organize a sua cidade ou estado, para poder discutir a condição de trabalho. Porque hoje a gente não vê no nosso Sindicato uma diretoria que responda a isso. Hoje a gente vê diretores que desconhecem o direito do trabalhador, que desconhecem a condição do local de trabalho, a gente de diretores que xingam, que criticam o trabalhador, mas que não discutem qual é a condição desse trabalhador. Por isso inclusive que a gente vê locais de trabalho se organizando para se dessindicalizarem. Isso é um desserviço, né?
A gente tem que batalhar para que as pessoas fiquem sindicalizadas. A cada campanha, a gente vê um monte de gente querendo se dessindicalizar. Isso vem acontecendo nos últimos anos em massa, e é claro que as pessoas estão desestimuladas, porque a cada vez que tem uma campanha que o Sindicato faz o que fez, vai acontecer das pessoas se dessindicalizarem. Infelizmente. Mas esse trabalho a gente vai ter que fazer e é isso que, quando a gente volta de uma campanha, a gente precisa também fazer: fazer as pessoas continuarem sindicalizadas, continuarem discutindo com o seu sindicato... Pra gente permanecer na luta, porque é uma luta.

Eu já participei de muitas lutas, de rua, já participei do movimento estudantil, eu já fui diretora do Sindicato, já fui cipeira por três gestões e estou na minha quarta gestão... Então, eu nunca vi mudar uma situação se não tiver organização, se não tiver luta, se não tiver discussão... Tem que ter. Não adianta ficar sentado na cadeira, e querer mudar, porque não muda. Nenhum país, em nenhum lugar do mundo, muda... A gente só muda com organização e com luta, não tem outro jeito.

 
Izquierda Diario
Redes sociais
/ esquerdadiario
@EsquerdaDiario
[email protected]
www.esquerdadiario.com.br / Avisos e notícias em seu e-mail clique aqui