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LUTA DOS ENTREGADORES
A unificação dos trabalhadores precarizados é fundamental para poder fortalecer a luta
Fernando Pardal

A paralisação de entregadores do dia 25 ocorre como continuidade da primeira mobilização nacional do dia 1 de julho. Entregadores de todo o país cruzam os braços, contando com apoio de usuários que boicotam os aplicativos. Da Argentina vem um exemplo importante: uma rede de trabalhadores precarizados para lutar em unidade contra os patrões.

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A organização dos entregadores de aplicativos tem sido um sopro de ar fresco em nosso cenário político. Diante de tantos ataques que vinham com força desde o governo Temer, se intensificaram com Bolsonaro, e se apoiaram na situação da pandemia para aprofundar ainda mais as absurdas condições de trabalho que a patronal quer impor, a classe trabalhadora brasileira assistiu um criminoso silêncio por parte de seus sindicatos e centrais sindicais.

Os entregadores vinham sendo um dos setores mais atacados e também mais expostos à pandemia desde seu início. Com pedidos disparando, taxas despencando, e muitos trabalhadores de diversos setores perdendo o emprego e recorrendo aos aplicativos para tentar fechar as contas no fim do mês, as patronais viram aí a chance perfeita para aumentarem lucros aos custos do avanço sem freios contra salários e condições de trabalho dos entregadores.

A revolta latente foi fermentando por meses, com uma ou outra manifestação pontual explodindo aqui e ali. Os sindicatos, de costas para essa situação, continuavam em sua “quarentena” de trégua com a patronal, enquanto os entregadores contraíam covid-19 e os números de acidentes de trânsito que os atingem subia vertiginosamente.

Começaram a se articular grupos entre os trabalhadores, como os entregadores antifascistas ou o treta no trampo, e, por baixo, no boca a boca, conseguiram botar de pé a impressionante luta do dia 1, que furou até mesmo o cerco da grande mídia e obrigou os sindicatos – até então desaparecidos – a dar as caras, como o Sindimoto de São Paulo, dirigido pela UGT. Até Rodrigo Maia, articulador de ataques como a reforma trabalhista e previdenciária, teve que se preocupar e receber alguns entregadores para discutir suas pautas.

É claro que essa luta também se fortaleceu no cenário mundial a partir do imenso levante negro nos EUA, em que o assassinato de George Floyd foi o estopim para as massivas mobilizações que se espalharam no mundo como um rastilho de pólvora. Os entregadores, em sua grande maioria negros, são parte desse levante internacional ao gritar que suas vidas, as vidas negras, importam. E valem mais do que os lucros dos capitalistas.

Agora, no dia 25, ocorre a segunda paralisação nacional, e é um momento de pensarmos como esse movimento pode dar novos passos em sua organização e luta para aprofundar as importantes conquistas. Nesse sentido, é muito importante olharmos mais uma vez para os exemplos internacionais, nesse caso o argentino, onde se articulou “La Red”, uma rede nacional de trabalhadores precários, que unifica não apenas os entregadores, mas outras categorias massivas que sofrem muito com os ataques capitalistas, como os trabalhadores de telemarketing, as empregadas domésticas, terceirizados da limpeza, entre outras.

A rede de trabalhadores precários na Argentina tem dado alguns exemplos fundamentais, além da imprescindível iniciativa de unificar diferentes categorias para que as lutas isoladas possam confluir, ganhando força e golpeando como um só punho. Uma das questões importantes que colocam é a auto-organização: os trabalhadores tem realizado assembleias online, onde debatem suas pautas e elegem seus representantes democraticamente, conseguindo expressar a auto-organização como um método; isso, no entanto, não impede que sigam exigindo dos sindicatos – que na Argentina como no Brasil estão dominados por burocracias que se colocam de costas para as lutas – que deixem de passividade e se coloquem à frente dos combates contra patrões e governos.

Além de duas paralisações nacionais e diversos atos regionais, uma das conquistas importantes obtidas pela Rede foi a reincorporação de um trabalhador do telemarketing demitido. Eles ainda tem protagonizado lutas ao lado dos trabalhadores da saúde, que são linha de frente do combate à pandemia e tem sofrido com condições de higiene e segurança que os expõe de maneira criminosa ao contágio. Os trabalhadores da saúde também tem colaborado com a Rede ao ajudá-los a criar os comitês de segurança e higiene, formulando as reivindicações para que as condições de trabalho tenham todas as devidas precauções para evitar o contágio pelo coronavírus.

Como mostramos no vídeo abaixo, aqui no Brasil também há muitos trabalhadores precarizados que expressam sua solidariedade e para quem o movimento dos entregadores pode ser um exemplo e um catalisador dessa unidade:

Assim, pensamos que, entre os próximos passos da luta dos entregadores, a conformação de uma unidade desse tipo, com uma rede nacional de entregadores é algo fundamental, que pode dar um novo fôlego a essa importante luta que vem se desenvolvendo.

 
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