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RIO GRANDE DO SUL
Leite no Roda Vida: campanha para 2022, acenos ao capital financeiro e demagogias sem fim
Gustavo Costa

A participação de Eduardo Leite no Roda Viva nessa segunda-feira diz muito sobre nosso governador, a mentalidade da nossa elite e algumas das razões de por que o povo gaúcho está afundado em uma crise sem boas perspectivas.

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O jovem tucano fez acenos ao capital financeiro do começo ao fim da entrevista. Parecia que ele estava sentado em uma sala com investidores internacionais, mostrando como fez a lição de casa da escola de Chicago, aprovou privatizações, “a mais profunda reforma da previdência dos estados”, disparou elogios às reformas neoliberais de Paulo Guedes e devidamente administrou a abertura da economia a fim de agradar o empresariado gaúcho em meio a pandemia. Tudo isso em detrimento dos trabalhadores gaúchos, dos professores e dos pobres e negros que estão sofrendo com a crise econômica e a crescente mortalidade da COVID. Apesar de negar, certamente Leite viu no Roda Vida uma oportunidade de se postular a candidato a presidente em 2022 – seu nome vem sendo aventado há um certo tempo e caminha no sentido de reformular a direita tradicional no cenário político brasileiro, sem alterar uma linha da agenda neoliberal já avançada com o governo Bolsonaro. Ou seja, trocam-se as vestes, mas a pele é a mesma. Uma espécie de FHC dos pampas, com aquela pompa da elite gaúcha que se acha mais europeia do que brasileira, igualmente neoliberal. Ele fala em “sobriedade institucional”, “distanciamento controlado”, insiste numa posição “ao centro” e “não beligerante” – ou seja, uma série de expressões que buscam dizer a mesma coisa para a grande mídia e a burguesia nacional: “eu vim para fazer o que Bolsonaro está tentando fazer, mas sem falar tanta bobagem. Olhem para o Rio Grande do Sul que vocês verão!”

Pois bem, vejamos o Rio Grande do Sul de perto então. Desde o início da pandemia o RS perdeu 123,1 mil empregos formais e fechou o primeiro trimestre de 2020 com mais de meio milhão de desempregados, sendo que 20% dos desempregados procuram vagas há dois anos ou mais. Vale lembrar que esse índice de desemprego ainda não leva em consideração os efeitos mais brutais da pandemia. Esses milhares de desempregados hoje dividem seu tempo na fila da espera do auxílio emergencial prometido pelo governo e a busca por emprego nos ônibus lotados das grandes cidades. A fome cresce junto dos desabrigados pelas chuvas e as demissões crescentes.

A política da patronal, desde o início da pandemia, tem sido a de reduzir salários e demissão em massa, jogando milhares de famílias nas ruas sem sustento. No setor calçadista já são quase 11 mil trabalhadores demitidos desde o início da pandemia, 8 em cada 10 empresas ligadas ao agronegócio no RS demitiram recentemente, 8 cidades da serra registraram o pior índice de demissões dos últimos 16 anos, rodoviários de Porto Alegre estão sendo massacrados pelas empresas de ônibus, tudo em benefício do lucro. Ou seja, essa crise está sendo descarregada nas costas dos trabalhadores enquanto os grandes bancos ampliam seus lucros. O que o governo Leite fez para impedir tudo isso? Para proteger os trabalhadores, absolutamente nada. Para conservar os lucros dos empresários, reduziu as cores do distanciamento controlado a fim de abrir a economia, colocando milhares em risco. No caso dos professores, a despeito das falsas promessas de campanha, o governador vem garantindo o arrocho, atrasando salários e avançando na precarização da educação com o selo Luciano Huck de defeito.

Como se não bastasse esse aterrorizante cenário onde os trabalhadores pagam a conta da crise econômica, a curva da COVID alça voo e enquanto Leite falava no Roda Viva o estado atingia a marca de quase de 1300 mortes oficiais (sem contar os números subnotificados). A taxa de internações em leitos de UTI em Porto Alegre está em 92% e crescendo.

A perspectiva da pandemia no estado só piora. Como afirmou o gerente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Ricardo Kuchenbecker, provavelmente chegaremos em agosto com o sistema de saúde do estado colapsado. Que distanciamento controlado é esse em que uma importante autoridade do hospital referência contra a COVID afirma uma coisa dessas e o governador segue rebaixando as cores de diversas regiões do estado? Já foram dezenas de surtos de COVID em frigoríficos, em call centers e fábricas espalhados pelo estado (em especial nas regiões de Lajeado e Passo Fundo), agora na serra gaúcha… e mesmo assim o Leite segue atendendo as demandas dos industriais e grandes empresários apesar de contrariar todas as orientações médicas e científicas. A única coisa “controlada” nisso tudo são os comandos dados pela burguesia gaúcha que controla o distanciamento de acordo com seus próprios interesses.

A verdade é que as graduais e oscilantes aberturas de Leite estão levando centenas à morte – e em breve, se nada mudar, serão milhares. Isso tudo combinado com a crise econômica é uma bomba relógio que torna Eduardo Leite não muito diferente de Bolsonaro na prática. Ele pode se diferenciar do atual presidente negacionista, mas vem cumprindo seus desejos à risca – abrindo a economia, garantindo os interesses dos empresários, não garantindo testes massivos à população. E quem paga a conta são os trabalhadores e a população mais pobre.

A receita de Eduardo Leite foi escrita na escola de Chicago e traduzida para o português no pior momento da história do país. As privatizações, a destruição dos serviços públicos, o rebaixamento salarial, a flexibilização do trabalho, a destruição dos direitos trabalhistas, as reformas previdenciárias, todos esses ataques vao ser sentidos cada vez mais na medida em que a crise econômica e a sanitária se combinam e se desenvolvem – e quem vai senti-los é o andar debaixo, os trabalhadores, os negros, a maioria da população que movimenta a sociedade. Já estamos vendo o sistema de saúde em vias de colapsar. O transporte privado está arrasando com os trabalhadores. A indústria demitindo em massa, quando não reduzindo consideravelmente os salários. A crise que se aprofunda no RS é de responsabilidade de Eduardo Leite e não vai haver demagogia que sustente o que está por vir, caso nada mude.

A única saída para a crise é os trabalhadores apontarem um caminho. Em primeiro lugar, o desemprego deve ser combatido com a redução de jornadas sem redução salarial, permitindo abrigar os desempregados na indústria, na construção civil, no transporte e mesmo na saúde e demais serviços essenciais. É preciso um plano emergencial para os impactados pelo ciclone, onde prédios e habitações vazias espalhadas pelas cidades sejam ocupadas pelos desabrigados, com renda básica de pelo menos R$ 2 mil para sobreviverem. As metalúrgicas, têxteis e indústrias químicas do estado deveriam converter sua produção para o combate da pandemia, produzindo respiradores, medicamentos, alcool gel, máscaras, EPI’s e demais equipamentos a fim de transformar a produção em função do combate a pandemia – também uma forma de diminuir o desemprego e garantir salários dignos aos trabalhadores – tudo com as devidas medidas de segurança, liberando os grupos de risco, etc. Os bilionários gaúchos devem ter suas fortunas taxadas, os sonegadores bilionários seus bens confiscados e acabarmos com as isenções fiscais milionárias do estado a fim de criar um fundo para permitir um auxílio de R$ 2 mil para todos os trabalhadores que estão fora dos serviços essenciais. Medidas como essas são mil vezes mais efetivas do que simplesmente reduzir o já altíssimo salário de R$ 25 mil do governador. O fantástico mundo de Eduardo Leite só tem lugar na sua imaginação ou nas promessas para o capital financeiro, o mundo real da maioria do Rio Grande do Sul, o mundo da fome, do desemprego, do racismo e da pandemia – esse mundo precisa mudar e os trabalhadores e a população mais pobre são os únicos que podem apontar um caminho e fazer com que os capitalistas paguem pela crise que eles mesmos criaram.

 
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