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CHUVAS EM PORTO ALEGRE
Com descaso de Marchezan, moradores sofrem com alagamentos em bairros pobres de Porto Alegre
Ana Paula Carvalho

Enquanto moradores de Porto Alegre ainda se recuperavam dos estragos deixados pelo Ciclone-Bomba, que ocorreu na última semana, a chuva voltou a ganhar força na capital na madrugada de terça-feira (7) e avançou até a manhã desta quarta (8), após a formação de um novo ciclone. Porto Alegre ultrapassou a média histórica de volume de chuva de todo o mês de julho em apenas dois dias e as condições precárias vida trouxeram destruição para inúmeras famílias.

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Desde terça feira a noite as chuvas têm provocado diversos transtornos em muitas zonas periféricas, como casas e ruas inteiras alagadas, além de semáforos desligados e árvores caídas e mais alagamentos e bloqueios de vias importantes que conectam os extremos da cidade ao Centro. Houve vários relatos de moradores de Porto Alegre dos danos que sofreram com a chuva.

Loreno Lopes de 67 anos, operador de máquinas pesadas, aposentado e morador do bairro Aberta dos Morros, teve a sua casa completamente tomada pela a água que chegou a cobrir seus móveis. Com a água ainda cobrindo o pátio, Loreno varria o acumulado do piso da sala, onde teve que colocar o seu sofá sobre a mesa: "Perdi tudo. Preciso de alguma doação. Vivo com um salário desse tamanho — sinaliza com os dedos comprimidos, sobre a aposentadoria" "Com meu salariozinho de aposentado como vou comprar outros (móveis)?"

No mesmo terreno, o neto também teve a casa atingida e os móveis terão de ser descartados. Loreno vive na Rua Vale do Sol, em frente a uma área com muito lixo acumulado. A vizinha, Jessica da Cunha, 28 anos, reclama do descarte: "O pessoal acaba jogando lixo na rua e, com a chuva, vem tudo". Esse é outro exemplo que demarca o total descaso do governo municipal, de Nelson Marchezan (PSDB), em prover um sistema de esgoto e coleta de lixos eficiente na região.

Na casa da educadora, Jéssica, a chuva invadiu o galpão que tem nos fundos de sua casa. A marca na parede mostra que o alagamento atingiu pelo menos meio metro dentro da construção. Nas ruas Tim Lopes e Paulo Rubilar de Farias, também no Aberta dos Morros, uma série de ao menos 10 casas tiveram estragos e água nos pátios, com marcas altas de alagamento próximo às portas.

Rua Paulo Rubilar de Farias do bairro Aberta dos Morros

Na Avenida Edgar Pires de Castro, entre os bairros da Zona Sul, Campo Novo e Restinga, um carro caiu em um buraco aberto no asfalto, fruto do descaso da prefeitura em fazer a manutenção das vias na região. Dentro do veículo estavam três servidoras públicas do Estado que estavam indo para o trabalho, no bairro Cristal. "Tava tudo coberto pelo alagamento e, quando notei, o carro tombou para a direita" relembra Celia Caravaca, que dirigia o veículo. De carona, a colega Joseane Pache, que teve o estragado com a chuvarada da semana passada quando o Ciclone-Bomba atingiu o RS. Após várias tentativas de retirar o automóvel, o trio deixou o carro e seguiu de carona para o trabalho mesmo assim.

Também na Avenida Edgar Pires de Castro, no bairro Lami, As sete famílias da comunidade guarani Tekoá pindó poty tiveram de se reunir em uma das poucas casas não alagadas. Um dos índios que vive na comunidade, Roberto Ramires, 52 anos, afirma que a água invadiu praticamente todas as casas. "A água subiu muito rápido. Contamos com ajuda agora" diz. No pátio, até mesmo o banheiro comunitário estava inacessível e eles tiveram muito prejuízo, ainda mais na situação ainda mais vulnerável em que se encontram devido a pandemia, em que tiveram seu auxílio cortado pelo governo e também não conseguem vender seus artesanatos.

Maria Paz, de 67 anos, mora sozinha na Vila Farrapos, na zona norte. A casa dela foi invadida pela água. "Daqui um mês, dois, os políticos vêm aqui apertar a mão de todo mundo. Eu vou me mudar. Não tenho mais idade pra enfrentar isso" reclama do descaso dos representantes. Nas ruas na Vila Farrapos, o cenário é o do descaso: ficaram totalmente alagadas com a água chegando na porta de todas as casas e adentrando.

Na Avenida Tramandaí, o Arroio Capivara transbordou pela segunda vez apenas nesta semana. De manhã, a água já havia baixado, porém a via seguia com muito lodo. Um tronco de árvore foi arrastado pela força da água, e ficou sobre a calçada. O profissional da saúde, técnico em enfermagem, Benhur Vais, de 21 anos, ficou quase 12 horas aguardando o guincho. "Eu saí do trabalho às 20h e fiquei preso aqui, porque o guincho não chegou no carro, de tanta água" contou, às 7h, enquanto ainda esperava por socorro.

Cenas como essas, que se espalharam pelas áreas mais periféricas da cidade de Porto Alegre, caracterizam muito bem a barbárie capitalista levada a frente pelo prefeito Nelson Marchezan durante todo o seu mandato. Enquanto reserva todo o seu descaso para os bairros que mais necessitam de assistência e que abrigam a maioria dos trabalhadores e trabalhadoras de Porto Alegre, garantiu isenções fiscais milionárias e inúmeros privilégios aos empresários para quem governa.

Marchezan continuou seguindo essa lógica de salvar o lucro dos empresários, enquanto deixa os trabalhadores da cidade ao relento mesmo em meio a pandemia, uma vez que tomou todas as medidas para garantir a abertura da economia ao invés de desenvolver medidas de combate à pandemia. O resultado disso é o sistema de saúde porto alegrense a beira do colapso com 84% dos leitos de UTI ocupados.

Todo esse alagamento das zonas mais pobres da cidade e destruição de moradia é fruto de uma decisão política da prefeitura que não investe em nenhuma garantia de infraestruturas dignas, estruturas de escoamento eficientes, garantia de qualidade das vias, de saneamento básico, sistemas de esgotos adequados e moradias de qualidade para a população desses bairros. Seus moradores, mesmo em maio a pandemia do coronavírus e abaixo de ciclones se vê obrigada a se arriscar e ir trabalhar para manter o lucro dos patrões. Agora, regiões que cotidianamente sofrem com a falta de água em seus bairros por problemas hidráulicos e de distribuição de água que a prefeitura não resolve, tem suas casas e bens destruídos pela água que invade suas ruas sem ter por onde escoar.

Com a situação da pandemia e com a aplicação da MP 936 de Bolsonaro, inúmeros desses trabalhadores que perderam seus bens estão com seus contratos suspensos ou com salários reduzidos, sem poder repor o estrago. Além do mais, todos aqueles que por conta do caos na cidade não conseguiram chegar no serviço acabam por ser descontados. Essa situação se agrava com o bloqueio do vale transporte de Marchezan, que ao invés de criar medidas para atender aos moradores dos bairros periféricos, decreta medidas que os impedem até mesmo de andar no transporte público da cidade.

Os trabalhadores devem ter o seu ponto liberado pela impossibilidade de se deslocar até o local de trabalho, o que é resultado da negligência das autoridades no preparo prévio para essas situações. É por tudo isso que nós do Esquerda Diário defendemos que seja garantida uma renda mínima de R$ 2000 para cada trabalhador empregado ou desempregado, para que possa sobreviver em meio a pandemia, além da liberação de todos de serviços que não sejam considerados essenciais e da proibição das demissões. Além disso, é necessária a garantia de testes massivos, para que toda a população possa ser testada. Também é fundamental que as autoridades preparem um plano emergencial junto aos sindicatos, associações de bairro e aos moradores para dar suporte aos moradores atingidos bem como um plano para lidar com essa situação em geral com medidas para evitar que essa tragédia volte a acontecer e se aprofunde.

 
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