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BLACK LIVES MATTER
EUA: Sem medo do ridículo, FBI investiga "influência estrangeira" em protestos contra o racismo
Juan Andrés Gallardo
Buenos Aires | @juanagallardo1

Confirmou nesta quarta-feira o diretor do FBI em Washington, Christopher Wray. Parece uma piada, mas não é. Qualquer argumento é mais válido do que reconhecer o racismo institucional que é parte constitutiva do principal imperialismo no mundo.

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O Departamento Federal de Investigações (Federal Bureau of Investigations) dos Estados Unidos está disposto a ir ao ridículo para explicar os protestos pelo assassinato de George Floyd, antes de reconhecer que o único motivo para as ações que ocorreram durante o último mês está diretamente relacionado com o caráter institucional do racismo no principal imperialismo do mundo.

A informação foi dada nesta quarta-feira pelo diretor do FBI em Washington, Christopher Wray, durante uma entrevista à rede Fox News. Nela, ele disse que o escritório está investigando a "possibilidade de influência ou interferência estrangeira" nos recentes protestos nacionais contra a violência policial racista que começaram após o assassinato de George Floyd.

As pistas seriam muito claras. Aparentemente, como apontou o conselheiro de segurança nacional Robert O’Brien, detectaram mensagens nas redes sociais da China, Rússia e Irã, nas quais é comemorado o caos nos Estados Unidos. Para sermos honestos, o mais estranho seria que essas mensagens não existissem. Nesse caso, eles devem suspeitar de algo grande ...

Na entrevista à Fox, Wray disse: "Certamente vimos no passado uma variedade de adversários estrangeiros que buscam ampliar a controvérsia neste país e usam as mídias estatais, usam as redes sociais, parte disso é através da propaganda, parte disso é através de desinformação e das fake news".

Então ele arriscou a hipótese mais julgada: "Estamos observando cuidadosamente a possibilidade de influência estrangeira ou interferência estrangeira em todas as atividades de protesto (que) ocorreram nas últimas semanas".

Essa tentativa vã de negar as causas do movimento que tomou as ruas dos Estados Unidos contra o racismo institucional e que se espalhou por vários países ao redor do mundo, ocorre quando se completa um mês do assassinato do afro-americano George Floyd pelas mãos de policiais brancos em Minneapolis.

Milhares de norte-americanos foram às ruas nas últimas semanas após a morte de Floyd e outros afro-americanos para protestar contra a violência policial e o racismo sistêmico do próprio Estado.

Esse tipo de "investigações" do FBI não são novas. Assim como a CIA historicamente se encarregou de desenhar os inimigos externos de que os Estados Unidos precisavam para projetar sua hegemonia sobre o mundo a base de bombardeios e morte, o FBI fez o seu internamente, perseguindo, aprisionando e assassinando qualquer um que questionasse as bases fundamentais do capitalismo estadunidense. Nos anos 50, foram os comunistas e a perseguição macartista, nos anos 60 e 70, todos os que participaram das lutas pelos direitos civis, logo inventaram uma guerra contra as drogas para perseguir as comunidades pobres e encarcerar especialmente os afro-americanos e, nas últimas décadas, vimos a projeção interna da guerra contra o terrorismo, que permitiu ao Estado investigar, escutar e interferir nas conversas de todas as pessoas sob a lei patriótica que se seguiu aos ataques às torres gêmeas de 2001.

Naturalmente, essas investigações nunca foram seriamente dirigidas contra aqueles que de fato estão por trás da maioria das ações consideradas "terrorismo doméstico" e crimes de ódio como os membros de organizações supremacistas brancas ou da Ku Klux Klan.

Trump ensaiou a construção de um novo inimigo há algumas semanas, culpando os antifascistas como a organização por trás dos protestos. O FBI segue a mesma trilha que não tem qualquer seriedade: "A violência que ocorreu durante os protestos nas últimas semanas é impulsionada por uma variedade de motivações e ideologias diferentes; não é todo o trabalho de um único movimento ou grupo de ideologia", disse Wray, que afirmou que a investigação envolve pessoas que se identificam com os Antifa.

No entanto, a massividade, a amplitude e a profundidade dos protestos mostram uma realidade que dificilmente pode ser negada pelas investigações ridículas do FBI. As décadas de racismo estrutural do capitalismo estadunidense, que incluíram a escravidão primeiro, a segregação depois e o encarceramento e a desigualdade endêmicos de hoje em dia, se uniram às ruas com novas gerações que viveram apenas anos de crise e precarização social e trabalhista. Uma geração que sabe que viverá pior do que seus pais, que em grande parte dizem simpatizar com a ideia do socialismo, embora não tenham clareza sobre o que isso significa. Uma geração que nasce em meio a uma pandemia histórica e, em muitos casos, faz parte de uma classe trabalhadora multiétnica, feminizada e muito precarizada, que se mostra essencial aos olhos do mundo.

É o coquetel explosivo que está por trás das atuais mobilizações e protestos nos Estados Unidos e que questiona profundamente parte das próprias bases do Estado ao atacar, entre outras coisas, a própria instituição policial e o simbolismo racista e colonialista das estátuas que caem diariamente em todo o país.

Um movimento que foi posto em marcha e que dificilmente pode ser parado com as receitas clássicas do FBI e sua eterna busca por perigosos inimigos internos. Já estão aí, e somam milhões.

 
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