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O trabalho precário e negro na Uber
Comitê Esquerda Diário DF/GO
Carlos Quariterê

Muitos trabalhadores motoristas de aplicativo em algumas cidades do mundo estão se mobilizando através da auto-organização, da luta, para processar a Uber por não oferecer o mínimo de condições para os motoristas. O lucro da Uber é bilionário enquanto o motorista volta pra casa sem as condições para sua sobrevivência. Em Los Angeles, EUA, os motoristas de L.A. entraram em greve para exigir condições de trabalho na Uber. Agora no dia primeiro de julho os bikers, motociclistas e do delivery já tem marcada a paralisação

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Nos centros urbanos a utilização dos serviços oferecidos pela Uber e similares é imensa.

Mas qual é a realidade do cotidiano de um motorista de aplicativo? Quais são as chances deste trabalho oferecer as mínimas condições de sobrevivência em um a país racista como o Brasil?

Se você decidir trabalhar para a Uber saiba que precisará de um carro econômico que use etanol ou gás. Sem novidade. Se quiser ter alguma chance de fazer disto um trabalho que gere condições a única alternativa é usar gás. Se fizer isto terá que ter um carro próprio já que não há chance alguma de colocar gás em um carro alugado. Em outras palavras para conseguir comer o motorista terá que trabalhar cerca de 14 horas por dia, praticamente sem pausa, pra banheiro ou alimentação. A precarização de um motorista de aplicativo começa na saúde. Com a dor na coluna, com o pouco tempo para alimentação, com a dor nos joelhos depois de horas trabalhando. Se conseguir cumprir a meta dos desafios que a Uber “propõe”, X “corridas “ em Y “tempo”, voltará pra casa com algum troco pra comida e combustível para continuar trabalhando. Semi-escravidão urbana contemporânea que chama?

O motorista de aplicativo não é nem será um funcionário, pois não é isto que a empresa propõe. Não está protegido em caso de doença, nem está protegido se for desligado pela Uber por alguma denúncia de algum passageiro, por exemplo. Tem direito aos dias de folga e a organizar seu próprio tempo, no entanto, para conseguir sobreviver terá que trabalhar de sol a sol trinta dias por mês e não verá sua família (daí a comparação com a escravização de homens negros africanos que foram separados dos seus familiares que cruzaram o Atlântico).

O que a plataforma, ou aplicativo de carona compartilhada oferece, é uma parceria que consiste em pagar para seus parceiros uma fração do dinheiro obtido em torno do trabalho. Sem lamento e sem massagem. Depois de horas no volante os joelhos irão doer, só que diferente de um piloto de F1, um esporte de propaganda capitalista, e um esporte racista que só tem um piloto negro o trabalho como motorista de aplicativo a Uber oferece um tipo de escravidão que consiste basicamente em trabalhar sem direitos por muitas horas para ter o que comer e continuar no volante como um robô.

O aplicativo de motorista da Uber te oferece, como em um jogo, algumas recompensas para o motorista que bate metas. Quem conseguir mais de quinhentas corridas, eu tenho um pouco mais de quinhentas corridas, tem que aceitar mais de 80% das corridas que tocam no seu celular. Porque quem recusa corridas não recebe corridas. O aplicativo pune. Só manda corridas para quem aceitar mais de 80% de chamadas. Você pode perguntar se o motorista não pode simplesmente desligar o aplicativo. Pode. Mas se fizer isto não terá as horas necessárias para obter o mínimo para sua sobrevivência e nem pagar a locadora de carros, nem o combustível. Muitos motoristas fazem parte de uma frota e precisam pagar para o patrão que irá cobra por semana quinhentos reais.

O que a Uber diz? “Quanto mais corrida você conseguir mais benefícios terá.” Por exemplo: depois de quinhentas corridas você passa a ser categoria Uber Pro. O que dá 5% de desconto de combustível. Só que maioria dos postos que deveriam oferecer este desconto de 5% no combustível não estão cadastrados na Uber. Na prática não funciona. A Uber também oferece descontos na academia Smart Fit e faculdades EAD parceiras da Uber. O único porém é que é impraticável “correr” 14 horas por dia e fazer EAD e ter uma hora por dia para fazer academia. É uma falácia. Se o dia tem 24 horas como a pessoa irá trabalhar 14, estudar, se alimentar e dormir? Academia? E se tiver filho, como no meu caso? Quando irá ver a criança?

São muitos os trabalhadores de Cuiabá, do comércio de lojas também, que só vêem os filhos no fim de semana. Não temos como nos proteger. Quem já virou a madrugada dirigindo em na região de Cuiabá, Várzea Grande, poderá dizer se estou mentindo. Estamos expostos a assaltos em qualquer cidade do Brasil e do mundo. Quantos motoristas já não foram assaltados? E o que a Uber oferece? Oferece um sistema embutido no aplicativo que mostra o itinerário do trabalhador para os contados que ele escolher. É só.

A única maneira de exigir melhores pagamentos e segurança no trabalho é através da auto-organização e das paralisações para reverter as péssimas condições de trabalho a que estamos expostos.

 
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