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TRIBUNA ABERTA
O materialista histórico contra a estetização da política
Afonso Machado
Campinas
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Unificar as massas em torno de um sentimento que mantém intactas suas condições de existência material, é uma característica histórica de governos autoritários. Os produtores de Fake News da atualidade aprenderam muito bem com a Estética dos nazistas a falsear a realidade, a transformar mentiras em verdades, em produzir imagens patrióticas que estabelecem o culto á guerra, o ódio aos críticos e opositores das práticas políticas autoritárias. Mas se a extrema direita fornece ás massas meios de expressão sem alterar as relações de propriedade(Benjamin), a Esquerda mobiliza recursos expressivos para promover a luta proletária e ao mesmo tempo defender a diversidade étnica, sexual e de pensamento existentes. Encontramos também outra tarefa cultural importantíssima que apenas a militância de Esquerda poderá realizar: organizar uma tradição cultural revolucionária dos oprimidos, para que os trabalhadores participem de uma revisão crítica da história.

Em plena crise econômica atual, muitos trabalhadores brasileiros não ocupam no palco da política o espaço contestador que a história lhes consagra: seriam todos filhos do Senhor, seriam todos irmãos que pertencem a uma mesma pátria e não a uma sociedade dividida em classes. Todavia, a percepção conformista foi surpreendida nas últimas semanas pelo raio da revolta social que atravessa as fronteiras nacionais: dos EUA para o mundo(atingindo inclusive o contexto brasileiro) a violência policial/ o braço armado do Estado capitalista, foi pego de calças curtas com o levante de trabalhadoras e trabalhadores, negros e brancos, que não aceitam a opressão cotidiana.

Este raio insurrecional não desaparece rapidamente, ele brilha permanentemente na consciência. Ele traz hoje lições históricas duradouras expressas em slogans, palavras de ordem e no desejo de ressignificação do passado. É assim que podemos compreender o desprezo que muitos manifestantes, nos EUA e na Europa, nutrem por personagens históricos celebrados pela cultura oficial, pela memória da classe dominante. Este desprezo sinaliza muitas vezes na direção do sentimento iconoclasta frente a memória conservadora petrificada: estátuas de colonizadores e de homens que lucraram com a escravidão , tornam-se alvos. Mas cabe lembrar no entanto, que a memória dos vencedores também deve estar nos museus: é preciso preservar essas odiosas imagens do passado opressor, estes monumentos da barbárie, retirando-os dos espaços públicos e colocando-os em locais em que possam ser estudados pelos oprimidos. São objetos históricos a serem analisados criticamente pelos olhos dos trabalhadores. Estamos mais uma vez diante da necessidade dos trabalhadores assimilarem a história, realizarem a sua acumulação cultural primitiva. No horizonte desta crise econômica que se aprofunda no cenário da pandemia, os trabalhadores precisam armar-se de cultura, do conhecimento histórico para compreender melhor suas necessidades, seus instrumentos políticos de atuação.

A luta para que a classe trabalhadora se aproprie da cultura do passado é uma clara oposição ás práticas daqueles que realizam a estetização da política. Enquanto que as paixões autoritárias adulteram o passado e o presente, assumindo no contexto das tecnologias digitais o formato das Fake News, a Esquerda deve aprofundar as pesquisas artísticas e científicas para difundir as imagens que flagram as lutas entre opressores e oprimidos. Os conservadores sabem o quanto é perigoso para a classe dominante, se um trabalhador negro brasileiro de 2020 virar o seu rosto para a América Portuguesa do século XVII e encontrar a imagem subversiva do Quilombo de Palmares.

 
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