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MANIFESTAÇÕES DESTE DOMINGO
Um diálogo com o vídeo de Emicida: Tomar as ruas domingo para avançar contra o racismo e o bolsonarismo
Redação
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No final desta semana, um vídeo publicado pelo rapper Emicida, dizendo o por quê ele não vai e não apoia os atos anti racistas deste domingo, viralizou nas redes. Em resposta a ele, a militante do Quilombo Vermelho e organizadora do livro A Revolução e o Negro, Leticia Parks, publicou um vídeo dizendo o por que ela, o Quilombo Vermelho e nós do Esquerda Diário vamos aos atos de domingo e apoiamos as manifestações.

Veja mais: "Vamos nas manifestações de domingo contra o racismo e por uma nova Constituinte contra Bolsonaro", diz Marcello Pablito

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Aqui abrimos um fraterno diálogo com Emicida, em acordo com vários de seus apontamentos, mas nos levando a uma conclusão diferente: para parar o avanço da pandemia, é preciso construir uma resposta nas ruas e na luta de classes contra o racismo, a crise sanitária e o bolsonarismo.

“O contágio no Brasil ainda não chegou no seu máximo”

O contágio no Brasil ainda não chegou nos níveis mais elevados, e como diz Emicida, “um monte de infectologista sério tão chamando isso de genocídio”. Emicida corretamente denuncia que a cada minuto morre um brasileiro por COVID-19.

Mas, quando pensamos, o crescimento de mais de 150% nas vítimas que está sendo previsto por especialistas para os próximos dias, sabemos muito bem que os mais afetados por isso serão os negros e negras, a população pobre e trabalhadora brasileira, os entregadores de aplicativos, e as massas que hoje estão nos trabalhos precários sem direito a quarentena.

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“A gente pode ter capacidade de dar outro caminho para essa contaminação. Quem disse que as fichas tão dadas, quem disse que temos que continuar morrendo? O contágio não chegou no seu máximo, o Emicida está certo. Mas quem vai garantir que não chegue? Quem vai lutar pelos testes massivos, pelos leitos de UTI públicos que a gente precisa?” Essa é a resposta que Leticia coloca em seu vídeo, reforçando que exatamente pelo fato de ainda não termos chegou no pior, que devemos fazer da nossa luta uma fortaleza pelos direitos destes trabalhadores.

Ela continua: “Nossa luta tem que garantir, em nome das negras e negros, que estão cada dia mais morrendo pela COVID, pelas balas da polícia e pelo lucro capitalista, tem que garantir a defesa de todas as vidas negras”.

Os governos estaduais e municipais sentem as pressões dos mercados pela reabertura, e já vemos shoppings e lojas retomando atividades. Letícia coloca muito bem que não podemos aceitar que sejam os trabalhadores que estejam sendo obrigados a enfrentar o risco em seus trabalhos, e que não sejamos nós, que estamos revoltados com este cenário, que deixemos de ir às ruas, defender seus e nossos direitos.

Mais: Como encarar a luta antirracista e antifascista no Brasil?

A situação da crise sanitária não pode se colocar como um impeditivo para irmos as ruas lutar contra essa barbárie que se desenvolve a cada dia sob nossos olhos, afinal é exatamente isso o que querem os governantes, passividade e uma avenida aberta para seguirem descontando toda esta crise sob nossas costas. Devemos, é claro, garantir as mais diversas medidas de segurança para todos os que forem se manifestar, orientando a todos os que forem parte do grupo de risco a não irem, e com todos os manifestantes usando máscaras, levando álcool em gel e mantendo distanciamento entre as pessoas, mas sem impedir que isso nos force a abaixar nossas cabeças e ficar em casa.

“Qualquer aglomeração é pular na ciranda da necropolítica”

Para Emicida, qualquer manifestação neste momento, por mais legítima que sejam as pautas, é parte do “plano deles”. Ele diz: “Olha para a realidade, é isso que eles querem”

Não podemos jogar o peso da contaminação nas costas da população que se indigna com as mortes por violência policial, com as mortes pelo descaso dos governos com a COVID e com as atitudes boçais do bolsonarismo, uma responsabilidade que não é nossa.

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Afinal, desde o início das quarentenas, governantes e patrões mantiveram trabalhadores em suas rotinas sem parar, sem EPIs, sem liberação de pessoas de grupo de risco, mantiveram hospitais sem EPIs, deixando nossos guerreiros da linha de frente, os profissionais da saúde, numa guerra sem as armas que precisam.

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É exatamente o sopro de revolta que incentiva milhares de pessoas a irem as ruas, que, com a batalha por um programa claro para responder ao racismo institucional e à crise sanitária que arranca em sua maioria as vidas negras do maior país negro fora da África, que podem reembaralhar as cartas da política nacional, e apontar para um caminho em que a situação não siga o rumo da barbárie capitalista.

“Não temos organização (...) é só emoção”

Emicida corretamente também aponta a falta de organização no Brasil para enfrentarmos nossos inimigos. “Precisamos de uma construção, de uma base, de um projeto, de uma coalizão em torno de algo”.

Este problema não pode, entretanto, ser um impeditivo, mas um sinal de alerta para vermos quem são aqueles que deveriam cumprir este papel, e vem se negando sistematicamente, em nome de interesses que não são os nossos.

Há meses, as direções do movimento operário, em especial a CUT e a CTB, dirigidas por PT e PCdoB, vem cumprindo um papel nefasto. Aceitam e ajudam as patronais a enfiar goela abaixo dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil, as MPs de Bolsonaro, que atacam os bolsos e as condições de vida da classe trabalhadora, com reduções de salário, suspensões de contratos, e flexibilizações nas relações de trabalho. Fazem isso, sem oferecer qualquer tipo de resistência.

Não bastasse isso, partidos da oposição (parte do PT, PDT, PSB) declaram-se contrários aos atos de domingo. Fazem isso, por que querem construir uma oposição à Bolsonaro que evite as ruas, que evite as bases, e que evite organizar os setores mais atingidos pela crise do coronavírus. Preferem canalizar nosso ódio em se aliar com velhos inimigos da direita que hoje estão no campo da oposição a Bolsonaro, mas que também não respondem aos nossos interesses.

Não estamos desorganizados por falta de condições, mas por falta de interesse daqueles que hoje poderiam contribuir fortalecer a classe trabalhadora na batalha contra aqueles que deliberadamente nos deixam morrer nas piores condições.

“Se a organização que a gente tem hoje para estes atos é pequena, não é culpa minha e de todos que querem ir para rua, não. É destas burocracias sindicais que não se somam numa luta que deveria ser de toda nossa classe trabalhadora, que nesse país é de maioria negra!” É o que responde Letícia, frente a essa situação.

Ou lutamos, ou seguimos o caminho da barbárie

Como já dissemos, quem carrega nas costas o peso maior das consequências do coronavírus e do descaso dos governos é a classe trabalhadora e o povo pobre brasileiros, as massas negras desse país. São as trabalhadoras e trabalhadores da saúde, que se arriscam diariamente sem as condições mínimas para seu trabalho. São os entregadores de aplicativo, que seguem diariamente nas ruas em busca do seu ganha-pão frente a um governo que não lhes garante o direito de ficar em casa. São os milhões de trabalhadores que ouviram de seus patrões que iriam seguir trabalhando e que também não tem direito nem aos EPIs mínimos.

Se existe hoje uma revolta dentro de milhares de brasileiros, impulsionada e influenciada pela força dos protestos nos EUA por justiça por George Floyd, contra a violência policial e a violência capitalista no Brasil, é nessa força que devemos nos apoiar, para fazer destes atos o primeiro passo para avançar numa luta contra Bolsonaro, Mourão e contra os militares que sustentam este governo, sem depositar confiança em inimigos antigos, como o Congresso, os Governadores e o STF, e sim depositando confiança nas nossas próprias forças.

Destes atos, devemos batalhar para que surja a força para garantir que não morram mais trabalhadores, negros, mulheres, LGBTs e pobres pelo COVID, que se garantam as medidas necessárias para superar esta crise. Que daí possa surgir a força que bote um fim na violência policial racista que assassina a juventude negra, e colocar fim na impunidade do judiciário brasileiro, que hoje mantém presos centenas de milhares sem direito a julgamento.

De novo, citando Letícia, “toda nossa classe tem que parar seu trabalho por justiça, tem que atacar o capitalismo no coração, com o grito forte de ‘basta de morrer pelas balas da polícia, pela COVID, e pelo lucro capitalista!”

Veja abaixo os vídeos de Letícia Parks, militante do Quilombo Vermelho

 
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