Foto: Silvio Ávila/AFP
Os dados são de um levantamento do Projeto UTIs Brasileiras, da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) e do Epimed. A coleta de informações ocorreu entre os dias 1º de março e 15 de maio em 450 hospitais em todo o Brasil, envolvendo 13.600 leitos de terapia intensiva. Os pacientes mais graves são os que estão internados em uma unidade de terapia intensiva e demandam apoio de ventilação mecânica para continuar respirando. A mortalidade desses doentes é alta em qualquer lugar do mundo. No Reino Unido, por exemplo, é de 42%, e, na Holanda, chega a 44%. Um outro estudo, restrito à cidade de Nova York, revelou um porcentual ainda mais alto, de 88%.
"A mortalidade geral na UTI é de 21%, entretanto, entre a população de pacientes mais graves, chega a 66%", compara o coordenador do Projeto UTIs Brasileiras, o médico intensivista Ederlon Rezende. "Ou seja, de cada três pacientes que vão para a ventilação mecânica, apenas um sobrevive. Essa doença não é uma gripezinha."
Os números assustadores da mortalidade nas UTIs brasileiras também podem ser explicar por uso de tratamentos experimentais, sem eficácia comprovada, como a cloroquina que Bolsonaro e outros membros do governo defendem. Os dados das UTIs são levantados a partir de questionários respondidos diariamente sobre os pacientes (como sexo e idade) e os procedimentos adotados. Os medicamentos ministrados não constam do levantamento. Porém, o uso de tratamentos ineficazes e com efeitos colaterais pode se relacionar ao fato de que a mortalidade é similar nas unidades privadas (65%) e públicas (69%). Na pesquisa foram estudados 322 hospitais privados e 128 públicos.
Os hospitais que participam do levantamento tendem a ser os mais bem organizados, então esses números podem ainda mais graves. Muitos hospitais, e inclusive o conjuntos dos sistemas de saúde , como no Rio de Janeiro, já estão colapsados. Sem leitos, os pacientes morrem antes mesmo de serem atendidos.
Outro dado que chama atenção na pesuisa é a faixa etária dos pacientes de covid-19 internados em UTIs: são 41%com menos de 65 anos. O porcentual é ainda mais alto (51%) Entre os internados por síndrome respiratória de caráter infeccioso 51% têm menos de 65 anos. A síndrome respiratória infecciosa é um dos diagnósticos que indicar casos não testados de coronavírus.
A grande maioria dos internados em UTIs com covid-19 (71%) ou síndrome respiratória (75%) apresenta alguma comorbidade, como problemas cardíacos, diabetes e obesidade. Ainda sim o índice de pacientes internados mas que não apresentam nenhuma complicação anterior chega a 30%.
Outro dado confirmado pelo levantamento é que o tempo de permanência nas UTIs por covid-19 é bem maior do que a média de outras condições, chegando a dez dias. A taxa de ocupação das UTIs revelada por esse levantamento já é alta: 88% na rede pública e 74% na rede privada. No entanto, os especialistas acham que estes números podem ser subestimados. Isso porque entre o período em que foi feito o levantamento e agora os números de casos e de internações e de óbitos só aumenta e o Brasil já é o segundo país com maior número de infectados no mundo. A subnotificação mascara uma realidade que pode ser ainda mais assustadora, e que é de responsabilidade do governo Bolsonaro, dos militares, do congresso e dos governadores.
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