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CORONAVÍRUS NO MUNDO
Estado Espanhol: Milhares de pessoas fazem fila em Madrid para receber alimentos
Juan Carlos Arias

As enormes filas nos bairros operários e populares de Madrid e outras cidades solicitando a entrega gratuita de alimentos básicos, desmentem a versão fantasiosa da situação que quer vender o Governo.

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A situação de lamentável penúria econômica entre amplos setores populares da população de Madrid se estendeu como rastilho de pólvora desde o mês de março, quando as demissões começaram e, posteriormente, o confinamento pelo COVID-19. Porque, além disso, chovia sobre o molhado, sobre uma população que ainda sofria muito com as consequências da crise de 2008, da qual muitos não haviam se recuperado: famílias com todos seus membros dependentes do seguro desemprego e 26,1% de famílias em risco de pobreza. Ou sofriam muitas dificuldades para chegar ao fim do mês e nenhuma capacidade de economizar.

Lembremos que já existe um desemprego ante-COVID19 de 3,13 milhões segundo a Pesquisa da População Ativa (EPA) do último trimestre de 2019, com uma taxa de 14,4% que estava aumentando. O que havia que somar uma taxa de temporalidade de 25%, e algo mais de 15% de contratos de tempo parcial. Sendo que do total da porcentagem de contratos que vieram se realizando, 90% eram temporários.

A crise alimentar, adquiriu caráter viral, faz alguns dias, a partir de um vídeo por um morador do bairro de Aluche. Esse morador, junto a muitos outros, esperou em uma fila durante muitas horas saindo do confinamento, para pegar uma bolsa de comida com alimentos básicos que tem que durar uma semana. Gravou as imagens e as distribuiu pelas redes alcançando uma enorme repercussão.

As notícias sobre como se desenvolve a crise alimentar nos bairros operários foram coletados por alguns meios de comunicação e de lá foram divulgando mais informações sobre a depressão econômica. Tem-se emitido imagens e testemunhos de pessoas que esperam filas de até 7 horas para pegar uma bolsa de comida com alimentos essenciais para a vida: leite, arroz, azeite, ovos, frutas, algumas verduras, etc. No entanto, essas noticiais não tem se destacado o suficiente, nem se tem produzido perguntas diretas dos jornalistas sobre essa problemática social nas conferências de imprensa oferecidas pelo Governo, enquanto eles perguntam repetidamente sobre as fases de confinamento ou até mesmo sobre o inicio da liga de futebol.

Os moradores se auto-organizam para dar resposta a crise alimentar

Essa situação crítica de crise alimentar tem se concentrado em favelas de operários e classes populares onde se encontra a população mais vulnerável. Porque pese o discurso insistente do Governo do PSOE e Unidos Podemos, a crise social não afeta por igual a todas as camadas sociais. Assim se sabe que em Madrid o impacto é mais forte em zonas tão povoadas e populares como Aluche, Vallecas, Orcasitas, Campamento, Lavapiés ou Tetuán. A essas populações haveria de se somar a muitos outros núcleos de população vulnerável, que estão mais disseminados em zonas mistas com outros setores de maior nível aquisitivo, e que portanto estão menos visibilizados.

Frente a essa situação tem se organizado associações de moradores, restaurantes populares, e toda uma rede de apoios da vizinhança de solidariedade que estão dando resposta, auto organizando-se para dar saída a essa necessidade de alimentos básicos. Associações de vizinhos de bairros como Vallecas, Orcasitas, Campamento, Lavapiés ou Tetuán, tem impulsionado iniciativas similares para entregar sacolas de comida grátis a população necessitada.

As associações de moradores estão se desdobrando e solicitam a intervenção direta da Câmara Municipal de Madrid para atender essa crise alimentar. Desde a Câmara, no entanto, eles cinicamente jogam bolas para fora do campo, indicando que aqueles que estão nas filas das associações são a população atendida por ONGs e não pelos serviços municipais. Eles argumentam que desde o final de março um lote de 230.000 euros foi liberado para alimentos da população necessitada, mais outro meio milhão vinculado a situação do estado de alarme. E que eles estão também solicitando ao governo central a possibilidade de gastar o excedente orçamentário de 420 milhões de euros, que até agora, e com sua total aprovação foi gasto na amortização da dívida municipal em detrimento dos serviços sociais.

Porém, é evidente que esses fundos ou são insuficientes ou não estão chegando a muitos da população vulnerável. Como ninguém quer passar mais de 7 horas de pé em uma fila e sentindo muitas vezes vergonha por ter que pedir para ter o que comer, se a Câmara Municipal através dos serviços sociais lhes fornecesse dinheiro para comprar sua comida, mas como um direito.

As políticas neoliberais do PP (Partido Popular, atualmente na oposição) tanto na Câmara como na Comunidade de Madrid tem deteriorado a situação dos serviços municipais que agora se veem sem recursos suficientes. E diante a crise, isso se agrava. Lembremos o episódio dos restaurantes escolares para famílias vulneráveis substituídos por menus de Telepizza.

Disparam os dados da crise alimentar que sacode os bairros populares de Madrid

O fato é que todas as organizações assistenciais como os restaurantes sociais, Cáritas ou o Banco de Alimentos tem detectado um aumento na demanda de alimentos que correspondem uma cifra de 36% somente na cidade de Madrid. Inclusive a Câmara Municipal de Madrid tem sinalizado que as 33.000 solicitações de assistência, já devem ser as mesmas que as recebidas em todo o ano anterior. E estimam que essa crise pode provocar que até 94.000 casas madrilenhas tenham problemas para comprar produtos de primeira necessidade. Tudo isso se tem refletido em uma pesquisa recente realizada pela Câmara que revela que 38% das famílias madrilenhas tem visto sua renda diminuir durante o confinamento e prevê que uma a cada quatro acabe tendo que receber ajuda social nos próximos meses.

Enquanto em Puente de Vallecas as petições de ajuda se haviam triplicado no final de abril, segundo informação do El País. Os bairros populares de rendas mais baixas tais como Puente de Vallecas, que conta com 230.000 moradores e uma renda per capita baixa estão especialmente afetados. Mas outras áreas especialmente deprimidas como Entrevias que ainda tem uma renda mais baixa, se encontram numa situação ainda pior.

No entanto, as instituições locais, a Câmara Municipal de Madrid, Comunidade Autônoma ou o próprio Governo do PSOE e Unidas Podemos, olham para outro lado e continuam sem atender as necessidades básicas de alimentação dessa população quem vem aumentando cada dia. O governo, por exemplo, continua após dois meses de confinamento e crise social profunda sem aprovar nenhuma ajuda direta a aqueles setores sociais que estão sem renda ou com salários abaixo do mínimo vital. E pretende retirar com um enorme atraso uma Renda Minima de Vida Familiar que custará um total de 3 bilhões. Isso dificilmente significará uma renda máxima de de 462 euros para adultos sozinhos, enquanto que com crianças será de 600 euros, 700 se for uma família monoparental. Com 2 filhos a quantia será de 838, e o limite máximo estará em 1.015 euros para casas com dois adultos e três filhos ou mais. Essas quantias são as que entendem o Governo de Pedro Sanchez e Pablo Iglesias como mínimo vital. Mas quem pode viver com essa quantidade de dinheiro? Isso não é mais do que dividir a miséria social, enquanto se ajuda empresas e os bancos com mais de 130 bilhões de euros, entre os desembolsos para pagamento de salários e financiamentos garantido pelo estado, que teremos que pagar os trabalhadores por meio de impostos e futuros cortes em saúde, educação e serviços sociais.

Muitos dos trabalhadores e das trabalhadoras afetadas são população trabalhadora muito vulnerável e precária que possuem trabalhos temporários ou inclusive que não possuem contrato. E que se ocupavam em setores vinculados aos cuidados pessoais, limpeza de casas e hotéis, meios de transporte e motoristas de taxi, e serviços em geral de hospitalagem e inclusive da construção. Alguns setores, principalmente mulheres e trabalhadores de outras raças, os mais precarizados, foram demitidos na primeira mudança no bloco inicial de março dos cerca de um milhão daqueles que foram jogados diretamente nas ruas. E para piorar, na maioria dos casos sem direito ao seguro desemprego e sem poder administrar nenhuma prestação social dada a situação de confinamento e transbordamento dos serviços sociais. O que também dificulta enormemente a resposta a suas necessidades.

Muitos outros foram adicionados a esse bloco de trabalhadores que vivem abaixo do nível de subsistência. Os afetados por suspensões, que tem impactado sobre 3,3 bilhões, que recebem apenas 70% do salário e dos quais 300.000 ainda não receberam nem 1 Euro.

Por outro lado, tendo em conta o baixo nível dos salários e que nem todos os conceitos se utilizam para calcular o seguro desemprego, ou como ocorre em muitos setores em que a maior parte do salário é informal, a baixa salarial em muitos casos inclusive para os que estão com salários suspensos, pode haver chegado a 50% a mais dos salários. A estes devem ser adicionados aqueles que denunciaram publicamente, embora sem quantificar, a situação infeliz, segundo a qual não receberam grande parte da renda esperada, o que não lhes permitiu atender aos pagamentos ou atender suas necessidades com solvência.

Diante a situação de crise alimentar se faz de forma imprescindível a auto organização e a luta para garantir a sobrevivência inclusive física da população mais vulnerável: imigrantes, mulheres, jovens, desempregados, famílias monoparentais, trabalhadores com salários suspensos etc. Para isso, há que se levantar um programa de emergência social que entre outras coisas defenda a redução do trabalho sem redução salarial-, uma política intensiva de investimento em serviços sociais e emprego público, um seguro desemprego universal e sem limite temporal e um pacote de impostos as grandes fortunas e patrimônios para obter os recursos necessários para desenvolver essas políticas.

 
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